Wen Jiabao: a China ante uma situação extremamente problemática
A China deve garantir estabilidade social reduzindo a corrupção e a inflação, disse neste sábado (5) o premiê Wen Jiabao, à Assembleia Popular Nacional (APN), no Grande Salão do Povo. O discurso anual de Wen, o mais importante proferido pelo premiê, abriu a sessão da Assembleia Nacional Popular (parlamento chinês) — que reúne 3 mil deputados de todas as regiões do país e mais de 2 mil membros da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, (CCPPC).
Publicado 05/03/2011 20:59
O evento durará dez dias e deve aprovar o novo Plano Quinquenal para o país, com duração de 2011 a 2015. Trata-se do 12º plano do gênero desenvolvido pelo governo. Seu objetivo é um crescimento mais sustentável e a redução das desigualdades, o que já havia sido frisado por Wen em seu discurso do ano passado. O foco em estabilidade social também foi ecoado em editorial do jornal Beijing Daily, coincidindo com a abertura do Congresso.
Para Wen Jiabao, o desenvolvimento da China está confrontado com “uma situação extremamente problemática neste ano”. De um lado, diz Wen, "a China vai desempenhar um papel construtivo em ajudar a resolver questões polêmicas e problemas globais". De outro, observa-se uma complicação dos problemas a longo e curto prazos, assim como uma superposição de incoerências institucionais e contradições estruturais que tornam cada vez mais difícil o controle macroeconômico.
Incertezas
“Devemos julgar corretamente a situação, permanecer lúcidos, dobrar a vigilância e nos preparar para todos os riscos possíveis”, alertou o premiê. A economia mundial continua a se recuperar lentamente, mas sobre bases frágeis. Nas áreas mais desenvolvidas, falta dinamismo ao crescimento, o desemprego se mantém em nível elevado, e o perigo de uma crise da dívida soberana paira sempre sobre alguns Estados.
Como as principais entidades econômicas seguem suas políticas monetárias frouxas, a liquidez aumenta em grandes proporções nos mercados internacionais. O preço dos produtos primários essenciais, assim como as taxas de câmbio das principais moedas, conhecem fortes flutuações.
A bolha dos ativos aumenta ao mesmo tempo em que a inflação tende a se agravar nos mercados emergentes. O protecionismo volta com força, e a competição se torna ainda mais encarniçada no mercado internacional, onde os fatores de instabilidade e incerteza permanecem numerosos.
Diretrizes e metas
É diante desse contexto que a China traça planos para o próximo quinquênio. “Propomos criar um ambiente favorável à mudança do modo de desenvolvimento”, declarou Wen. “Vamos estimular todos os setores a focalizar seus esforços sobre a aceleração da reestruturação econômica, a elevação da qualidade e da eficácia do desenvolvimento, a criação de empregos, a melhoria do bem-estar e a promoção de uma sociedade harmoniosa.”
Wen defendeu estímulos para o consumo doméstico, além de subsídios para produtores agrícolas. "A expansão da demanda doméstica é um princípio de longo prazo e algo fundamental para promover o desenvolvimento econômico equilibrado", afirmou o premiê. "Vamos estimular a procura ativa do consumo. Vamos continuar a aumentar os gastos do governo para ajudar a expandir o consumo e aumentar os subsídios para a população de baixa renda nas cidades e no campo.”
O novo Plano Quinquenal traça como meta um crescimento anual de 8% do PIB e de 7% da renda per capita de 7%. Já a projeção do déficit orçamentário é de -2% do PIB. O país promoverá uma urbanização mais ativa e estável, a uma taxa de 51,5% até 2015, com ênfase na transferência progressiva de camponeses qualificados à condição de urbanos.
Inflação
Segundo Wen, o governo almeja manter a inflação a uma taxa de 4%, contra 3% de 2010. Hoje, a inflação chinesa está em 4,9%. O premiê afirmou que o “desenvolvimento desigual” da China é um "problema sério". É preciso fazer com que os chineses estejam "contentes com seus empregos e suas vidas", para que o país desfrute de paz e estabilidade.
"Os preços subiram de forma razoavelmente rápida, e as expectativas de inflação cresceram", disse Wen neste sábado. "O problema diz respeito ao bem-estar das pessoas e afeta a estabilidade social. Devemos, portanto, fazer da estabilidade dos preços a nossa prioridade macroeconômica."
A inflação na China ocorreu depois de dois anos de expansão monetária imprudente e se agravou devido à liquidez importada pela política americana de injeção de moeda. O aumento dos preços, especialmente os de alimentos, preocupa porque as famílias mais pobres gastam até metade de seus salários com a alimentação. De acordo com Wen, também haverá combate ao aumento dos preços das moradias em algumas cidades chinesas.
Da Redação, com agências