Artigo:Que diferença faz um ponto na inflação, no juros e no PIB?

Até o insuspeito ex-ministro da Fazenda Delfim Neto contesta avaliações de economistas de mercado de que o PIB em 2011 deverá ficar entre 3,5 e 4 %, podendo, segundo ele, alcançar entre 4,5 e 5 %, mas que para isso é preciso evitar expectativas pessimistas. Rechaça a necessidade de elevar a taxa selic para 13 ou 13,5 % sem o medo de que a inflação fuja muito da meta de 4,5 %, alcançando 6%.

Soma-se a essa avaliação a opinião do economista Carlos Lessa para quem o FMI aplaude as medidas restritivas do governo Dilma e que estaríamos diante de um coro trágico limitando o crescimento brasileiro a 4% ao ano, considerando que ainda não superamos o chamado “vôo de galinha” que se manifesta há mais de 30 anos no país, desde João Figueiredo (Valor: 09/03/11).

Essas expectativas se dão em torno do aumento recente de um ponto na taxa de juros que para o mercado financeiro foi um sinal positivo, mas negativo para os consumidores. A inflação para eles é o fim do mundo, mas para os trabalhadores o que é ruim mesmo é o aumento irrisório do salário mínimo. Pior para a nação é a retração na possibilidade de expansão do PIB que toda essa onda negativa pode criar. Um ponto a menos de crescimento constitui algo em torno de R$ 37 bilhões a menos circulando na economia. Um prejuízo brutal.

Será que esse é o preço que temos que pagar à ideologia dominante, ao rentismo? E pior, quem disse que não podemos continuar a crescer senão a 7,5% pelo menos 6%, ou seja, dois pontos a mais que os economistas de mercado avaliam. Então o nosso prejuízo sobe para mais de R$ 70 bilhões. Isso deixa para trás o corte de R$ 50 bilhões no orçamento para 2011. E se o pessimismo se alastrar? Já não basta a escorregada de Palocci em 2005 que contraiu o nosso crescimento para 3,5% quando o próprio Lula esperava muito mais e o obrigou a repreendê-lo?

Falam que o país não tem infra-estrutura para crescer tanto, mas a China tem ou teve nesses últimos 30 anos para crescer em torno de 10% ao ano? E por acaso não é o próprio crescimento que gera maior possibilidade de se investir em infra-estrutura? Resumindo, engodo dos grandes. O problema mesmo tem sido a necessidade de os capitalistas tupiniquins de explorar a força de trabalho na escala mais perversa do planeta, de considerá-la força de trabalho periférica, remunerando-a a “preço de banana” e enquanto o capitalismo brasileiro se recicla e se lança como potência mundial. O próprio Delfim já falava na década de 70 em esperar o bolo crescer para depois distribuir, portanto, essa cultura não é nova. Assim, um crescimento robusto com a tendência ao pleno emprego é o “x” da questão para o “espírito animal” do capitalista, considerando-se a elevação do “custo” da mão-de-obra.

Mas poderíamos considerar os enormes avanços obtidos com os programas sociais desde 2003 e as bem sucedidas políticas de erradicação da miséria. Mas isso basta? Então pergunto, quais tem sido os ganhos de capital e os ganhos de salário no último período? Como anda o crescimento da produtividade de trabalho nas últimas décadas e os ganhos advindos disto para o conjunto dos trabalhadores em termos de redução de jornada? Uma análise superficial mostra que neste país os mais ricos continuam acumulando cada vez mais as custa de um trabalho extenuante e mal pago.

Qual é a nação que queremos construir? Não se trata de uma questão isenta de luta ideológica, pois estão querendo vender uma imagem falsa do Brasil, de que é um país atrasado, sem infra-estrutura, sem recursos, limitado, em processo de desindustrialização, com uma força de trabalha sem qualificação e por aí vai… Num sentido contrário a esse já fomos capazes de grandes feitos, como na era Vargas/JK e, com êxito extraordinário, o governo Lula. Continuo acreditando que o Brasil pode muito mais, mas não só em discurso de campanha eleitoral, mas na prática do dia-a-dia mesmo – ainda porque Lula deixou um grande legado. Concordo com Lessa, precisamos gritar de novo: FORA DAQUI O FMI.

Murilo Ferreira é diretor do Sindicato dos Professores de Minas e da CTB