Página anônima em Mossoró pode ter participação da prefeitura

Identificada como um dos mais importantes núcleos de crescimento econômico do Nordeste e país, Mossoró – a 280km de Natal -, com cerca de 250 mil habitantes, testemunha estarrecida a descoberta de uma nova faceta do crime organizado na Internet: é o aparelhamento da coisa pública para promoção de infâmias contra setores da sociedade local.

Através de duas ações judiciais protocoladas na Comarca de Mossoró, investigação judicial chegou à descoberta de uma organização onde aparecem endereços pessoais de um secretário municipal, jornalistas e outros personagens ainda nas sombras, que montaram e editaram blog apócrifo denominado de "Paulo Doido".

No domingo, 20, o jornal local "O Mossoroense" (http://www2.uol.com.br/omossoroense/mudanca/conteudo/politica.htm) saiu com ampla reportagem sobre o caso. Revelou todo o desenrolar da apuração judicial e os primeiros nomes de implicados.

O agravante é que parte considerável das informações aponta o comando do crime virtual para o próprio Palácio da Resistência, sede da Prefeitura de Mossoró, onde se situa o gabinete da prefeita, a enfermeira Fátima Rosado (DEM), conhecida politicamente como "Fafá".

Os dados fornecidos por provedores de Internet e de hospedagem do site que saiu do ar após vários meses de agressões, humilhações e difamações contra pessoas particularmente contrárias ao governo, ligam os implicados ao governo municipal.

Os jornalistas que aparecem com endereço de equipamentos pessoais, editando a página de seus próprios endereços residenciais são Pedro Carlos Lopes Pinheiro, o "Pedro Carlos", editor-geral e colunista do jornal "Correio da Tarde", e José Neto de Queiroz, o "Neto Queiroz", colunista do jornal "Gazeta do Oeste".

Pedro Carlos é editor de um jornal que apoio governo e compõe a própria assessoria da prefeitura
Pedro Carlos é editor de um jornal que apoio governo e compõe a própria assessoria da prefeitura

Pedro Carlos é ainda detentor de portaria com cargo comissionado na Gerência de Comunicação da Prefeitura de Mossoró. Já Neto Queiroz, aparece também como assessor de imprensa do deputado estadual Leonardo Nogueira (DEM), marido da prefeita, bem como consultor de comunicação da própria prefeitura.

Outro nome indicado como participante da quadrilha é do contabilista Ivanaldo Fernandes Costa Júnior, gerente da Comunicação Social da Prefeitura de Mossoró. Ele tem endereço eletrônico pessoal identificado várias vezes, na postagem da página apócrifa. Durante anos, Ivanaldo atuou profissionalmente como webmaster (responsável por criação de páginas na Internet)


Gustavo e Ivanaldo, dois secretários da prefeitura na teia criminosa e webmaster

Na mesma farta documentação apresentada à Justiça, outros endereços surgem e interligam-se ao Palácio da Resistência e até à Universidade do Estado do RN (UERN). Entretanto a Uern alegou "problemas técnicos" para não detalhar a origem das postagens em seus equipamentos.

A propósito, até bem poucas semanas, Neto Queiroz era simplesmente chefe da Agência de Comunicação (AGECOM) dessa instituição de ensino.

De Natal, segundo "O Mossoroense", surge o nome de Bruna Freire Salem de Miranda, no condomínio Vila Romana II, em apartamento de propriedade do chefe de gabinete da Prefeitura de Mossoró e irmão da prefeita, Gustavo Rosado (PV). O mesmo jornal adianta, que o filho de outro secretário da prefeitura, Francisco Carlos (PV), também residiria no mesmo endereço.

Bruna é filha de Sônia Miranda, assessora direta de Gustavo Rosado, na Chefia de Gabinete da Prefeitura de Mossoró.

Também há registros de postagens saídas de endereços em Fortaleza (CE), Aracati (CE), Barueri (SP).

Crimes virtuais têm sido comuns no Brasil e no mundo. Mas o caso de Mossoró é diferenciado. Todas as informações e indícios levam para que esse episódio seja de aparelhamento da coisa pública para ataque a honra de pessoas.

Vale destacar que o atual governo tem se notabilizado por uma feroz perseguição a setores da impensa que não se converteram em seu aliado. Só o jornalista e blogueiro Carlos Santos (www.blogdocarlossantos.com.br) já responde a mais de 26 processos e cerca de 9 ações de interpelação, provocadas por membros do governo e até mesmo o próprio município.

Como existem sinais claros de uso da estrutura e equipamentos públicos na formatação, edição e postagens da página Paulo Doido, é provável que haja apuração pelo Ministério Público.
 

De Mossoró, Gutemberg Dias