China nega culpa na “desindustrialização” do Brasil
Para Xiaoqi, suposta desindustrialização no Brasil não tem nada a ver com a China
A ampla entrada de manufaturados chineses no Brasil se deve às “leis da economia de mercado”, e a indústria brasileira “tem que fazer seus próprios esforços” para aumentar a competitividade de seus produtos, diz o embaixador da China, Qiu Xiaoqi.
Publicado 23/03/2011 17:44
Após palestra no Instituto de Altos Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Xiaoqi disse que os produtos chineses entram no país porque são competitivos, e o fato de terem preços baixos e estarem disponíveis em boa quantidade “é bom para o mercado do Brasil”.
“Se a China não oferecesse esses produtos, o Brasil teria que pagar mais caro para importar de outros países. Se ocorre alguma desindustrialização no Brasil, isso não tem a ver com a China. É uma questão diferente”, afirma o embaixador.
Setores da indústria brasileira dizem que os baixos preços de produtos importados da China podem causar uma “desindustrialização”, inviabilizando a produção local.
Xiaoqi diz que as relações bilaterais se baseiam na lógica do mercado e beneficiam ambos os lados. Ele aponta que, em 2010, os negócios bilaterais resultaram num superávit comercial de US$ 5 bilhões para o Brasil.
Desequilíbrio
Desde 2009, o gigante asiático é o principal parceiro comercial do Brasil. Em 2010 o fluxo de exportações brasileiras para o mercado chinês somou US$ 30,78 bilhões, enquanto os EUA compraram apenas US$ 19,30 bilhões. O saldo é positivo para o Brasil em mais de R$ 5 bilhões.
Porém, de acordo com um levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), apesar do superávit comercial o desequilíbrio é grande. Enquanto 97,5% das importações brasileiras da China em 2010 foram de bens manufaturados, apenas 5% das exportações brasileiras são provenientes deste setor.
Os principais produtos na pauta de exportações nacional são da indústria de mineração, produtos agrícolas e petróleo. Assim, quando se computam apenas os produtos manufaturados, o Brasil tem um déficit de US$ 25 bilhões.
Xiaoqi diz que o problema precisa ser enfocado “sob o ponto de vista do desenvolvimento”. "Se não fosse por esses produtos, quais outros o Brasil teria a oferecer à China para manter o nível de comércio entre os dois países?", perguntou o embaixador.
“A China é uma economia aberta, uma economia de mercado. Até agora o governo brasileiro não reconheceu oficialmente, mas é uma realidade. E num mercado aberto a concorrência é muito forte”, afirma.
Para o embaixador, é uma questão de tempo para que produtos brasileiros “de maior valor agregado” entrem no mercado chinês. “Temos que buscar uma solução para isso no processo de desenvolvimento, mas não é uma coisa que acontece de um dia para o outro”, diz.
Desenvolvimento social
Na palestra, promovida pela Coppe/UFRJ e pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas (PPED/ UFRJ), Xiaoqi explicou as mudanças estabelecidas pelo 12º Plano Quinquenal, apresentado há duas semanas pelo governo chinês.
Embora o país venha crescendo num ritmo de 10% ao ano, o plano estabelece, para os próximos cinco anos, a meta de crescer 7%. O objetivo é fazer com que o crescimento seja mais “inclusivo” e promova maior desenvolvimento social. Além disso, segundo o embaixador, a indústria buscará soluções para consumir menos energia, usar menos recursos naturais e proteger mais o meio ambiente.
Valorização do trabalho
“Nos últimos anos, dedicamos muita atenção à eficiência do desenvolvimento econômico, mas não o suficiente para o progresso social. Isso é algo que temos que corrigir nos próximos anos. No meu juízo, esse é o maior desafio e dificuldade que vamos enfrentar.”
Parte do plano para garantir maior dignidade à população chinesa é aumentar os salários, diz Xiaoqi.
“Queremos que o desenvolvimento econômico beneficie mais o nosso povo. Então inevitavelmente os custos de mão de obra vão aumentar, e isso seguramente vai trazer um aumento do preço dos produtos de exportação”, afirma, perguntando-se como os brasileiros vão reagir.
“Quando os produtos que se importam da China são baratos, vocês se queixam. E quando são caros, vocês se queixam outra vez”, aposta.
Com agências