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Um conto de Marco Albertim: Febre terçã

Tratou-se com médico, mas não rejeitou o mastruço com leite oferecido pela vizinha. Quinze dias, a febre terçã durara quinze dias até que se levantou da rede. Ela gabou o mastruço arrancado atrás da cerca do quintal, onde pendurava as roupas.

Por Marco Albertim*

– Já curei até bexiga, ora…

Paredes dividiam as duas casas até o telhado. No inverno, as telhas eram rejuntadas para evitar goteiras; os furos vistos à luz do sol, cobertos a cada ano, não evitavam os salpicos. Sem forro, ouvia-se a conversa de um lado e de outro; com desinteresse nos ouvidos, porque a vida de cada um era uma só; na rua, nas ruas da Vila Mariúna.

Anete, nem velha nem moça, vivida, tinha cabelos estirados nas costas, rosto curtido, desinteresse pela exaustão do marido. Só saía à noite para sentar-se na frente de casa, ouvir a conversa mundana dos filhos, da nora maçante, do marido sem assunto. Coralino só vinha à noite, depois do trabalho. Espreitara, ela, costumes e horários para, na precisão, cobrar o aluguel. Ele recebia por quinzena, e tivera o cuidado de esconder dela para evitar cobrança. Quinze dias de licença, agora no recobro das forças graças a Anete. Não acreditava em unguentos, mas fiara-se nos rogos dela feito um afilhado carecido.

– Bebe, Coralino. Já curei até bexiga com mastruço.

Nos quintais sem muro, ela na cozinha dele não causaria assombro. O banheiro e a latrina nos fundos tinham uso comum. Ele se acostumara ao cheiro do café fervendo toda manhã. Cuscuz fumegando, o incenso se espalhando nas cumeeiras. Nunca fora chamado para sentar-se à mesa, provar a comida. O marido não mencionava o nome do vizinho; olhava-o por cima dos óculos. Só Anete, que recebia o dinheiro do aluguel. Os dois filhos, com ocupação incerta, tinham um olho no mundo e outro na rotina de Coralino, na sua roupa engomada. Anete fariscava as tenções dos filhos. “Fasta, menino! Tem o que fuçar não!?” Ela nutria-se na resignação do marido, na sujeição dos filhos, nos urdumes incertos do inquilino. Podia entrar no quarto dele, assuntando, fruindo sua quentura moça. Inda que demorasse, não havia relógio na parede. O marido, aposentado, aposentara os sentidos.

Queria espreitar os mistérios de Coralino, tão regrados quanto o fumo que ela punha no cachimbo. Não atrasava o aluguel, não se embebedava; moço sem mulher nem tenções de namoro.

Num domingo de sol, cedo ele desocupou a rede e deixou-a na bacia com água e sabão. Às onze horas, espremeu o tecido grosso. Anete na cozinha levantou-se. Segurou numa ponta da rede dobrada, ele noutra. Torceram até os dedos se tocarem. Ele recolheu a mão, ela o segurou em dois inseguros dedos. Tremura nos pés dele. Anete riu.

– Seu marido…

– Tá dormindo…

– Vou estender a rede.

Estenderam na cerca.

Com menos de trinta anos, ele responsabilizou-se por dois segredos. Na fábrica, com pinos e navalhas de aço, uma matraca de duzentos tiros sobreviera de suas mãos e das de outro, nos serões da oficina. Agora, uma mulher de carne dura se imiscuía em seus enredos. A arma num canto do quarto, sem munição, em caixa de madeira, entre panos e papéis; à noite, tirava-a para a lubrificação. Ouvia o balbucio do marido de Anete, dos filhos, da nora tão leviana quanto os dois.

De manhã, ela o ouviu preparando o café. Levou o que sobrara do cuscuz porque desconfiara que o cheiro da comida incitava-o a comer; instinto de mulher e de senhoria.

– Obrigado.

– Se sobrar agora, ninguém vai comer no almoço. De noite, não tem o mesmo gosto. Tirou garfo e faca da gaveta do armário, ele. Untou manteiga no cuscuz. Comeu com tanto gosto que sentiu pena, Anete, de estar com o estômago cheio, não poder segui-lo no rito.

– Veio cobrar o aluguel? – zombeteiro.

– Oxente, inda faltam cinco dias!

– Não veio cobrar mas está contando os dias. Vou atrasar este mês. Dois dias. Por causa do feriado. Meu salário que vou receber atrasado.

Não teria, ela, o dinheiro conforme calculara. Deu outro rumo à conversa.

– A febre, não teve mais febre?

– Não. Nem lhe agradeci direito o mastruço com leite.

– A febre deixa o juízo mole.

– Tenho o juízo mole mesmo sem febre. Desculpe.

– Pede desculpa sem quê nem pra quê…

– É o juízo.

Inda que a movesse o interesse no dinheiro, não tinha intento mau. Queria dinheiro, queixar-se-ia se não o tivesse, forçada à regra de três refeições diárias sem direito a sobremesa. As contas seriam refeitas, talvez regrasse o cuscuz. Há dez meses vinha juntando, sem a curiosidade do marido.

– Aureliano, sim, tem juízo mole.

– Ele não fala comigo, parece que tem raiva de mim.

– É assim mesmo, desde que se aposentou.

– Não tem ciúme de você aqui… comigo?

– Nem quando tinha vista boa! Tem nada demais?! Que é que nós tamos fazendo!?

– Nada! – apressou-se.

Respondeu que nem moleque flagrado vendo mulher nua. Ela ali, dadivosa. Há uma semana não a imaginara assim. Ele a cobiçava, e temia sua curiosidade de mulher. Queria entregar a matraca, vexava-se por isso; mais do que quando a montara no ermo do serão. Não a usaria porque seu trabalho era prover os outros com armas, sem sair da retaguarda. Fora o artífice, orgulhava-se.

Ela o queria esfregando-se em seu ventre, sem mostrar-se amante para não infringir o código de conduta. Segurou-o na mão. Coralino sentiu tonturas. Respirou fundo, ela, os peitos em relevo.

– Tem parente no mundo? – tirou-o do embaraço.

– Tenho.

– Por que está só?

A astúcia nos olhos dela queimando nos olhos dele.

– Não estou tão só como você imagina.

– Eu imagino o quê, Coralino? Você tá tirando cismas de minha imaginação!

– Pegando na minha mão, assim… Você não tem vocação pra santa! Mais fácil tá me levando pra bruxaria, bruxaria de mulher.

– Faz tempo que não ouço um homem falar assim. Tá se mostrando mais sabido do que eu pensava.

– Você tem mais imaginação do que eu.

– É esperto, meu inquilino é esperto.

– Pode pensar assim. Só não diga a seu marido.

– Não vou dizer a ninguém. Mas não vou tirar dos sentidos a sua sabedoria.

O louro surgiu na porta dos fundos, viera entre caibros e ripas, a cabeça para baixo. Grasnou interrompendo a conversa; de cima da porta, sem fazer ruído, jogou a cabeça para frente seguidas vezes.

– O louro também é esperto – disse ele.

– Na roça todo mundo é esperto.

Levantou-se, deu as costas e saiu com denguice de roceira.

Ele deu duas voltas na fechadura da porta dos fundos. Comprimiu o caixão com a arma com uma mala de livros e roupas. Sabia o que fazer com a matraca, não sabia como segurar os quadris da senhoria. À tarde, ocupou-se com a furadeira depois de afiar a broca no esmeril. Desceu a broca em movimento sem afastar o dedo do local do furo. O corte, ao lado da unha, sambocou a pele, a carne; sangrou, ele lavou com medo da febre terçã. Depois do curativo, voltou ao trabalho. Primeiro acidente depois de oito anos de serviço; na furadeira, de uso diário. A dor na carne foi pouca, comparada ao susto com a distração dos sentidos. Estranhou-se, estranhou os outros operários.

– Tá amando!? – perguntou Antônio.

– Não… só com sentido em mulher.

– Tá precisando de mulher faz tempo.

À noite, distraiu-se no lume soprado pelo vento entre as telhas. Quando entrara, não vira Anete nem os parentes; achara conveniente evitar os filhos no deboche, o velho balbuciando sob os bigodes. Balançou-se, os punhos da rede gemeram. Vadiou-se na imaginação: Anete de lado, roçando a língua no seu umbigo. Ouviu o riso cretino da nora; ela e o marido, enroscados na rede. O irmão mais novo, temente, cogitando uma mulher com rosto impreciso. Anete, no quarto com o marido, em redes separadas. O velho roncou. A porta dos fundos, sem óleo nas dobradiças, rangeu, sufocando zoada de mijo na fossa de cimento.

Com o sol, Anete acendeu o cachimbo.

Coralino acordara mais cedo. Meia hora desparafusando a matraca, oleando-a por dentro. Mais que uma arma, era um amuleto. Antônio, casado, com filhos, não quisera ficar com a arma. – Convém ficar com você. Mora sozinho – dissera.

Coralino, contando os dias para entregar a encomenda. Com o tempo, apreciou o trabuco como uma divindade no sacrário. Três meses no mourejo. Antônio no torno, ele na plaina. O aço fora surrupiado do almoxarifado, temperado na forja. O único petrecho ordinário era a alça de apoio, de ferro comum.

– Parabéns, camarada!

Os dois se apreciando. O trabalho fora comparado a uma campanha. Houve comemoração com cachaça no mel de abelha.

Podia batizar a arma sem que Antônio soubesse. Anete, bela e tentadora como a matraca; a infiel emprestando o nome a uma metralhadora virgem.

– Não demos um nome a ela – disse a Antônio.

– Vai ser batizada quando fizer a primeira vítima.

– Batismo de fogo.

– Com direito a cerimônia e sem a nossa presença.

– Ela é o resultado de nosso engenho, da perícia de dois ferramenteiros. Temos o direito.

– Você é quem cuida dela. Dê-lhe o nome que achar mais bonito. Um nome bonito como um pai que trata da filha para um dia casar com quem ele não sabe. Sem ciúme, sem mesquinheza.
– Vou batizar com nome de mulher. Assim, se eu sonhar com ela, não pronuncio nome estranho. Quem ouvir, suspeitará de mulher, não da arma.

– Que mulher?

– Minha vizinha. É forte e vistosa como a metralhadora.

– Também é capaz de matar?

– É mulher de opinião, tem meneio na cintura e o sexo bem escondido.

– Já está sonhando sem pegar no sono. É melhor sonhar assim, controlando o sonho. Essa arma deve sair de sua casa.

– Tem razão. Mas temos que esperar.

Chuvas. A tosse do marido de Anete era sufocada no lençol.

Coralino entrou na barbearia do velho Totonho.

– O cabelo, seu Totonho. Passe a tesoura, por favor.

– Sim, sinhô, que me aparece o ferramenteiro sem o macacão no lombo!

– Sou lá burro de carga… Não use a máquina de tosquiar, use a tesoura. Parece a broca do dentista no dente.

– Tá afiada!

– Não. Tenho alergia!

Vinda do breu, Anete entrou com uma nota de vinte na mão. Cumprimentou Coralino, pediu a Totonho para trocar o dinheiro. Atrás, o filho mais velho embolsou cinco e arribou com a mulher.
– Obrigada, seu Totonho.

– Não tem de quê.

Ela olhou para ele, desconfiada, roceira. Viu-o com a nuca lisa, o cangote desbastado e ninguém para coçar com as unhas.

– Conhece Anete de muito tempo, seu Totonho?

– Conheço, conheço mais ela do que o marido. Ele nunca foi de falar com ninguém.

– Ciúme da mulher?

– Sei o quê!…

– Tão calado, e os filhos, dois debochados.

– São filhos dele não, são do primeiro casamento dela!

Olhando nos olhos dele, ela tivera a coragem de inquirir sobre parentes. Ele obtinha informações feito um inseto caruncho. Envergonhou-se.

Saiu da barbearia sob a chuva. Antes de dobrar a esquina, do outro lado, sob a figueira, encontrou-a sozinha, com a sombrinha aberta. Os raios da luz do poste da outra esquina, não alcançavam seus pés. Olharam-se. Anete nunca reparara sua nuca lisa. Coralino, estirado na poltrona de seu Totonho, examinara-a sob a luz mortiça. Excitou-se.

Conhecendo a carência dos dedos, ela segurou-o na mão. Abraçaram-se mais com a cintura do que com o rosto. Quis beijá-la. Ela afastou o rosto; o desuso dos lábios deixara-os tementes. Ele sentiu cheiro de fumo, misturou-o à inhaca de óleo retida na pele. Em pé, pareciam se espojar na terra molhada. Levantou sua saia com mão sinistra, segurou um tufo de pentelhos há muito não podados. A chuva barulhenta engolindo os gemidos. A sombrinha caiu. Penetrou-a exumando uma queixa morta. Anete sufocou-o na cintura. Ela gemeu fino, contrariando a rijeza do corpo.

No banheiro, livrou-se do vestido molhado. Enxague no sexo. Não descuidava da higiene, nem perdera a honra. Aureliano há muito se embiocara, e não lembrava do último coito. Anete fiara-se no código de honra, jurou nunca mais se trocar na frente do marido. O propósito era cozer-se no vizinho, modo vivo de não deixar mofo nos pentelhos. O sangue não lhe subiu na cabeça, e repôs o prazer no sorvo do cachimbo.

Coralino preocupou-se com a coincidência dos dois segredos. Olhou para a matraca, orgulhoso de nutrir com seiva a demanda do sexo de Anete.

Choveu toda a noite. Sentiu frio, ele. Se voltasse a adoecer, ela, do fundo da cerca, prepararia outra porção de mastruço.

Recebeu o salário num envelope; contou uns trocados a mais, de horas extras não pagas no mês passado. Antônio deu conta de estragos que sua casa sofrera com as chuvas. Chamou-o para, no domingo, ajudá-lo na reposição de caibros, de ripas. Fizesse sol, almoçariam juntos. No fim da tarde, depois do serviço, cachaça com caldo de ovo.

– Espero sobreviver a essa semana. Tô escalado para o serão, a semana toda.

– Aproveite, faça outro trabuco – brincou Antônio.

– Sossega.

Pegou no sono enquanto o aço de duas navalhas era curtido na forja. Acordou em tempo de retirar as peças. Para deixá-las prontas, teria que retemperá-las com fogo pouco. Dormiu de novo. O aço destemperou-se.

– Só vou lhe dar mais uma chance – disse o chefe.

Refez as peças sem despregar o olho das medidas, do termômetro no forno. Antônio não o acompanhou, instruíra-o sobre como monitorar o aço na brasa.

No domingo, confessou que coitara com a mulher do vizinho.
– Ele é operário? – o instinto de classe acudiu Antônio.

– Capataz da linha de ferro. Aposentado do serviço e da mulher.

– Cuidado… Ele pode ter uma arma em casa.

– Se tiver, tá tão enferrujada quanto ele.

– Gatilho que se move, dispara fogo. Cuidado!

A mulher de Antônio, mexendo o caldo de ovo:

– Tá certo não, Coralino. Se a mulher é casada, tem dono.

– Tem dono só no papel. Não tem mais posse sobre ela, nem pensa nisso.

– Assim que não pode ficar. Converse com ela. Vocês podem se juntar.

– Ele que sabe, Marina. Coralino é quem conhece a mulher – acudiu Antônio.

Soube quando voltou a comer o cuscuz de Anete.

– Só aquele mesmo tem coragem de sair daqui; não se levanta nem da rede! – ela disse.

Animou-se, ouvindo-o cogitar o sumiço de Aureliano. Recebera o aluguel, animou-se com o amante, com o inquilino. Sentiu o cheiro de cachaça.

– Cheiro de bebida. Também bebe, Coralino?

– Bebi ontem. Trabalhei no domingo. Tinha todo direito.

O louro grasniu. Na sala, o marido ligou o rádio no noticiário de polícia.

– Hoje vai chover de novo – insinuou Coralino.

– !?…

– Me espere na figueira.

Anete lavou as louças refém do convite. No almoço, entreteve-se no próprio fastio. O marido, não o servira nem no começo do casamento. Comera, ele, no refeitório da Rede Ferroviária. Agora, não dava palpites no tempero, submisso às medidas da mulher. Não arredaria dali um pé, sem queixa nem prazer, na expiação muda.

Choveu grosso no começo da noite.

Anete ajeitou a sombrinha para sair. Não tinha medo de perguntas porque não tinha que dar provas da razão.

Sob a figueira, deixou-se beijar, não se humilhou no rosto moço do amante.

– Não emprenha mais?

– Nem se eu quisesse. Tenho trompa ligada.

Ele apossou-se de seu primeiro segredo.

– Até quando essa figueira vai nos dar abrigo?

– Se não tivesse a figueira, teria outro lugar.

– Não quero ser flagrado com a calça debaixo da cintura.

– E você acha que eu quero ser vista com a calcinha arriada!?

Na rede, ele pôs a matraca sobre o peito, o cano apontado para cima do ombro. Abaixou o lume do candeeiro, fechou os olhos feito um guerreiro no reparo das forças. Anete dormiu com paz nas entranhas.

De manhã, o filho mais velho indagou por vaga na fábrica.

– Tem não. Quando tiver eu aviso – disse Coralino.

Velhaco, teve o topete de pedir dinheiro emprestado.

– Vai ser cobrador de ônibus! – arriscou a mãe.

– Trabalhar com o dinheiro dos outros!? – o marido arriscou um susto.

Na fábrica, Antônio deu a notícia:

– A matraca, Coral. Vão levar a matraca!

– Vão levar o meu troféu.

– Vai poder dizer “enfim só.” Falar nisso, como vai a meia-viúva?

– Consola-se debaixo de uma figueira.
– Você vai perder o consolo da matraca. Leve a mulher pra sua rede. Peça pra ser embalado por ela.

– Pode ser o escândalo da vila.

A arma sumiria da Vila Mariúna. Coralino lubrificou-a mais. Os dois voltariam a comemorar no quintal sem a mulher de Antônio saber o motivo. “Tá certo não, Coralino. Se a mulher é casada, tem dono.” Marina se acostumara nos coitos bem-comportados com o marido.

Sob a figueira, Coralino celebrou a seu modo. Anete estranhou a temperatura do corpo dele.

– Você tá mais frio do que o tempo.

– É o tempo mesmo. Agora vou esquentar.

– Tinha medo de mim? Você me evitava, no começo.

– Era seu marido. Não conhecia o jeito dele. Não quis nem tratar o aluguel comigo.

Deitou-se com tenção nas palavras de Anete. Não podia adoecer. Tinha que entregar a metralhadora. De madrugada, gemeu de frio, com febre; a febre terçã que herdara do pai. Levantou-se para fechar a porta dos fundos. Não tinha remédio. Encolheu-se sob o lençol. Foi trabalhar se arriscando. Antônio chamou-o para sua casa. Não respondeu. À noite, sentiu-se melhor com o mastruço de Anete. Três dias depois, a febre voltou visceral.

Anete não o viu no café; foi espiar no quarto dele. Ouviu um murmúrio… No peito de Coralino, jazendo, uma arma. Pálpebras tremelicando, balbucios…

*Marco Albertim é escritor e jornalista. Ganhador do Premio Nacional Osman Lins de Contos, da Fundação de Cultura do Recife.