Que Porto Alegre queremos?, por Manuela d`Ávila

Na semana de aniversário de Porto Alegre, jornais e emissoras de rádio e TV apresentaram diversos retratos da cidade. Os 239 anos de história da nossa capital foram contados através de personagens típicos, de ruas e praças históricas, de fatos e acontecimentos marcantes. Revivemos, mais uma vez, a Porto Alegre traduzida pela riqueza e pela diversidade: da poesia de Mário Quintana aos traços dos grafiteiros.

Porto Alegre precisa ser vivida para ser entendida. Os verdadeiros protagonistas desses mais de dois séculos de história são anônimos e vivem uma realidade pouco conhecida. E para reconhecer a capital gaúcha nos seus traços principais é preciso estar nas ruas, ouvir os moradores, experimentar as dificuldades e reconhecer – na força e na coragem de nosso povo – a solução para antigas dificuldades.

Por trás de uma cidade linda, cujas belezas são internacionalmente reconhecidas e a cultura exaltada, existem milhares de pessoas sem acesso, por exemplo, às condições básicas de saúde – um direito constitucional.

Existem outros direitos negligenciados, é certo. A saúde, porém, figura como um dos mais importantes. A falta de atendimento nos postos de saúde, as emergências superlotadas – manchete diária dos jornais -, as consultas com especialistas – que demoram a acontecer –, a falta de Equipes de Saúde da Família e daquelas especializadas em álcool e drogas e o insuficiente investimento em prevenção comprometem a vida das pessoas. Antagônica a isso é a falta de investigação de supostos desvios de R$ 9 milhões da saúde dos porto-alegrenses. Além do direito à saúde, temos direito à verdade.

Seria injusto negar que temos vencido desafios – muitos deles fruto da honestidade e da persistência da nossa população – e que, portanto, temos grandes méritos. Precisamos, no entanto, garantir os direitos básicos de cada cidadão, como assistência médica e hospitalar e transporte público de qualidade. Afinal, o metrô é uma necessidade, e todos lutamos pela sua concretização, mas sabemos que ele, isoladamente, não soluciona o problema dos ônibus superlotados, por exemplo. Os desafios que temos pela frente dependem diretamente da garantia desses direitos, pois é a energia do nosso povo a propulsora do real desenvolvimento da capital de todos os gaúchos.

Precisamos, por isso, pensar no benefício social que os investimentos a serem feitos em Porto Alegre trarão. A prioridade deve ser a população, a quem os esforços devem ser dirigidos. O resultado dos investimentos deverá impactar o presente, sim, mas especialmente o futuro.

Porto Alegre precisa avançar, e acredito que o maior exemplo a ser seguido é o do cidadão que vence, diariamente, todas as dificuldades que lhe são impostas. Afinal, o povo que festeja os 239 anos de nossa cidade é o mesmo que não dispõe de atendimento preventivo de saúde, todos os dias.

Manuela d`Ávila, deputada federal PCdoB