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Pesquisa prevê 2º turno entre Humala e filha de Fujimori no Peru

Em meio às queixas de desemprego, pobreza no campo e pressão dos povos indígenas para a concessão de benefícios, aproximadamente 19,9 milhão de peruanos escolhem neste domingo (10) o futuro presidente do país. Além do sucessor de Alan García, o pleito elegerá 130 congressistas e cinco legisladores do Parlamento Andino.

De acordo com novas pesquisas divulgadas na véspera da eleição, o militar da reserva Ollanta Humala, um nacionalista de esquerda de 47 anos, deve ir para o segundo turno. A sondagem também anuncia forte disputa pelo segundo lugar entre Keiko Fujimori, uma populista de direita que é filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), e o conservador Pedro Pablo Kuczynski, ex-ministro das Finanças, conhecido como PPK.

Segundo a empresa Ipsos-Apoyo, Humala tem 28,1% das intenções de voto, seguido por Fujimori, com 21,1%, e Kuczynski, com 19,9%. O ex-presidente Alejandro Toledo (centro) vem depois, com 16,8%. Já o ex-prefeito de Lima, Luis Castañeda (centro-direita), tem 12,1% das intenções de voto.

"Até o momento, o segundo turno seria entre Humala e Fujimori, mas não se pode descartar uma surpresa", disse Alfredo Torres, diretor da Ipsos-Apoyo. A margem de erro da pesquisa é de 1,6%.

Já a enquete do Instituto de Opinião Pública da Pontifícia Universidade Católica concede a Humala 30,4%, seguido de Fujimori, com 23,3%; Kuczynski, 17,4%; Toledo, 16,1% e Luis Castañeda 11,5%. Foram ouvidas 1.700 pessoas e a margem de erro é de dois pontos percentuais.

No poder há cinco anos, o atual presidente do Peru, Alan García, não pôde concorrer porque a Constituição peruana veta a possibilidade de reeleição. O sucessor dele exercerá o mandato no período de 2011 a 2016, com a posse marcada para o dia 26 de julho deste ano.

As urnas serão fechadas às 16 horas (18 horas de Brasília). Como as votações no país ainda são manuais, a previsão é que os resultados sejam divulgados apenas no começo desta semana. Mas as primeiras projeções dos resultados a partir de pesquisas de boca de urna devem começar a ser divulgadas pouco após o encerramento da votação. O segundo turno será realizado em 5 de junho.

Um país dividido

Apesar de o Peru ter crescido a uma taxa chinesa de 7% nos últimos anos, a desigualdade de renda gerou insatisfação entre as camadas mais pobres, que apostam em Humala. A população de baixa renda se sente excluída do crescimento do país e reivindica maior participação na riqueza gerada pela exportação de recursos minerais.

Depois de perder as eleições em 2006 para García, Humala passou a buscar o diálogo e a aproximação com todos os setores da sociedade civil do Peru. Na campanha, ele demonstrou ter trânsito com os segmentos do campo e também com os urbanos. O destaque durante sua campanha foi a defesa veemente da soberania nacional e a condenação por ingerências estrangeiras no país.

Porém, imediatamente após uma pesquisa mostrar que o candidato da coalizão de esquerda Ganha Peru liderava as intenções de voto para as eleições peruanas, a Bolsa de Valores de Lima caiu mais de 5%. O temor expressado pelo mercado com a dianteira de Humala é semelhante ao verificado em eleições em outros países latino-americanos, como a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

E as incertezas da elite econômica no Peru com Humala não são a únicas semelhanças com a eleição brasileira em 2002: com um discurso mais leve e endereçado aos mais pobres, Humala parece ter eliminado a imagem de radical e conquistado um eleitorado fiel. O candidato inclusive divulgou o documento “Compromisso com o Povo Peruano”, nos moldes da “Carta ao Povo Brasileiro” de Lula. Nele, falou o que os investidores queriam ouvir.

Humala prometeu mudanças sem afetar a estabilidade econômica e política, propondo um “pacto político” entre todas as forças do país para “consolidar o crescimento e distribuir a riqueza no país”. De fato, não nega o crescimento registrado no Peru nos últimos anos – só em janeiro a economia cresceu 10,2% –, mas critica a concentração de renda.

A posição é oposta à apresentada por ele em 2006, quando perdeu no segundo turno para o atual presidente, Alan García. Naquela ocasião, o esquerdista propunha a estatização da economia e a revisão de acordos econômicos já assinados. O neoliberal García ganhou com 52,6% dos votos – Humala teve 47,375 %.

O eleitorado de Humala se concentra entre as camadas mais humildes da sociedade peruana, conforme mostra uma pesquisa do instituto Ipsos Apoyo. Trinta e um porcento da classe E, a mais pobre, vota no candidato, assim como 33% da classe D. Somente 6% da classe A escolherá Humala no próximo domingo.

Já a oposição a Humala está rachada. O ex-presidente Toledo convocou os outros candidatos de centro-direita (PPK e o ex-prefeito de Lima Luis Castañeda) a unir-se contra ambos. Mas foi rechaçado.

Da Redação, com agências