Sem categoria

Países emergentes querem reformar ordem mundial

A presidente Dilma Rousseff e os demais chefes de Estado dos países que compõem o Brics – Rússia, Índia, China e, partir de agora, África do Sul – defenderam, nesta quinta (14), mudanças no sistema monetário internacional, no sentido de torná-lo estável, confiável, com ampla base internacional de reserva. Também insistiram na necessidade de deixar a ONU "mais efetiva, eficiente e representativa", para que possa "tratar os desafios globais atuais com maior êxito".

Na entrevista coletiva conjunta posterior ao encontro entre os líderes, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, assinalou que "a reforma da ONU e de seu Conselho de Segurança são essenciais" porque "não é possível que comecemos a segunda metade do século 21 vinculados a um acordo institucional criado no pós-guerra".

A necessidade de reforma da ONU é uma aspiração constante dos países do Brics, mas ganha especial relevância neste ano porque seus cinco membros fazem parte do Conselho de Segurança da ONU, Rússia e China como membros permanentes e Brasil, Índia e África do Sul como não-permanentes.

Nesse sentido, Dilma destacou a necessidade de "unir esforços, sempre a partir do entendimento" e "sem precipitação", e acrescentou que "a diplomacia e a negociação devem ser privilegiadas" na reforma da ONU.

A declaração final da cúpula detalha que "China e Rússia (membros permanentes do Conselho de Segurança) reiteram a importância que dão ao status da Índia, Brasil e África do Sul nos assuntos internacionais e entendem e apoiam suas aspirações de terem maior representatividade na ONU".

Mudanças no sistema financeiro

Dilma e os demais líderes também se referiram à necessidade de reformar o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

"A crise financeira internacional expôs as insuficiências e deficiências do atual sistema monetário e financeiro internacional. Apoiamos a reforma e a evolução do sistema monetário internacional, com um sistema de reserva de divisas internacional amplo que dê estabilidade e segurança", diz a Declaração de Sanya, emitida hoje depois da reunião de líderes dos países do Brics, uma alusão às propostas de diversificar a atual dependência do dólar como moeda de referência.

O documento faz menção ao apoio dos países à atual discussão sobre a composição da cesta de moedas do FMI. Entre os planos de ação, previstos pelo comunicado conjunto, está uma maior cooperação entre os bancos de desenvolvimento de cada país para fomentar investimentos. Dessa cooperação, já surgiu uma proposta, acatada pelos cinco países, de desenvolver um mecanismo de concessão de crédito cruzado em moeda local.

Para os presidentes e o primeiro-ministro indiano, a estrutura de gestão das instituições financeiras internacionais deve refletir as mudanças na economia mundial e aumentar a voz e a representação das economias emergentes, bem como as nações em desenvolvimento.

Os líderes dos cinco países apelaram ainda para que sejam intensificadas a fiscalização financeira internacional e a reforma para melhorar a coordenação política, bem como a regulação financeira e supervisão de cooperação para promover o desenvolvimento dos mercados financeiros e sistemas bancários.

No encontro também foi discutida a recuperação econômica mundial – que até o fim do ano passado ainda estava sob a sombra das incertezas causadas pela crise que atingiu principalmente os Estados Unidos e outros países ricos.

Segundo os líderes, as principais economias devem coordenar suas políticas macroeconômicas para estimular um crescimento seguro, sustentável e equilibrado de forma global. Juntos, os países que compõem o Brics representam 40% da população mundial e 18% do comércio do mundo.

Um mundo multipolar

O presidente da China, Hu Jintao, pediu para reforçar a parceria entre os Brics visando ao desenvolvimento comum. O chinês afirmou que a cooperação contribui não só para o crescimento econômico e social dos cinco países, mas também para a paz e o desenvolvimento do mundo.

"Devemos construir sobre o que temos conseguido e planejar o futuro", afirmou Hu Jintao. Segundo ele, o caminho é aderir aos princípios básicos da solidariedade, confiança mútua, abertura, transparência e do desenvolvimento comum.

"Devemos permanecer firmemente comprometidos com os interesses comuns dos países do Brics, intensificar a coordenação nos domínios da economia internacional, financeira e de desenvolvimento e reforçar a posição e o papel dos mercados emergentes e países em desenvolvimento na governança econômica global", disse o presidente chinês.

A presidente Dilma, por sua vez, assegurou que "o Brics não está organizado contra nenhum grupo de países, na realidade trabalhamos pela cooperação global. Somos a favor de um mundo multipolar, sem hegemonias nem zonas de influência".

De 2003 a 2010 houve um aumento de 575% na corrente de comércio entre o Brasil e os países do Brics (as trocas passaram de US$ 10,71 bilhões em 2003 para US$ 72,23 bilhões em 2010). Cálculos preliminares indicam que o comércio total entre esses países passou de US$ 38 bilhões em 2003 para US$ 143 bilhões em 2009 e para US$ 220 bilhões, em 2010.

Líbia

Os líderes do Brics também criticaram os ataques à Líbia. Os presidentes e o primeiro-ministro defenderam a busca pelo diálogo na tentativa de dirimir impasses e controvérsias. Eles demonstraram preocupação com as mortes de civis, resultantes dos bombardeios.

O comunicado emitido pelo grupo, contudo, evita condenar as ações militares ordenadas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Líbia. Aviões da Otan atacam várias regiões do país justificando a necessidade de pressionar o presidente líbio, Muamar Kadafi, a deixar o poder e suspender as ações contra civis. “[Os Brics] desejam continuar a cooperação acerca da Líbia no Conselho de Segurança da ONU”, diz o comunicado.

“Partilhamos o princípio de que o uso da força deve ser evitado. Nós mantemos que a independência, soberania, unidade e integridade territorial de cada nação deva ser respeitada”, destacam. “Somos da opinião que todas as partes devem resolver as suas diferenças por meios pacíficos e do diálogo no qual a ONU [Organização das Nações Unidas] e organizações regionais desempenhem o papel que considerem apropriado.”

Dos Brics, apenas a África do Sul votou favoravelmente à intervenção militar na Líbia, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, que ocorreu mês passado. O Brasil, a China e a Rússia se abstiveram durante a votação.

Com agências