PSDB esbraveja na TV, mas omite sua própria incompetência

Ofuscadas pela crise interna do partido, as propagandas partidárias do PSDB na TV começaram a ir ao ar ontem à noite e prosseguem no sábado e na próxima terça-feira em inserções de 30 segundos, totalizando cinco minutos diários. As peças enfocam dois temas: o risco de volta da inflação e os problemas de infraestrutura para a Copa de 2014. 

Além das críticas à infraestrutura dos aeroportos para a Copa do Mundo, uma outra peça está sendo preparada, com ataques à política econômica do governo Dilma, que, de acordo com avaliação dos tucanos, leva o país de volta à inflação. Esse segundo filme poderá ir ao ar nas inserções de amanhã, mas, até ontem, a direção do PSDB não havia aprovado a versão final.

Os tucanos comemoraram o efeito provocado pelas peças nos testes com grupos de pesquisas qualitativas. Acham que os comerciais "pegam na veia" de dois temas que estão na boca do povo. Também salientam o fato de não haver políticos falando. "É um brasileiro comum, sofrendo com atrasos das obras. É oposição na veia'', diz um dirigente da sigla. 

Porém, a avaliação parece sofrer de excesso de otimismo. Publicitários consultados pela Folha de S. Paulo os acharam mal produzidos e o slogan, confuso.

Classe média e crise interna

Já em seu primeiro vídeo, exibido desde ontem à noite, os tucanos mostram que levarão a sério os conselhos de Fernando Henrique e irão priorizar o diálogo com a classe média. O personagem que dá voz ao protesto contra os supostos atrasos nas obras da Copa é um sujeito que está no aeroporto. Ainda que as viagens aéreas estejam cada vez mais acessíveis a camadas populares, o aeroporto ainda é o espaço da elite.

"A propaganda é exatamente o que o Fernando Henrique disse: uma cena da realidade. É um homem comum, falando algo com que todo mundo concorda: que as obras da Copa estão atrasadas", assume o presidente da sigla, Sérgio Guerra (PE).

A escolha de um ator nordestino foi proposital, para atenuar o "sotaque paulista". A opção por tirar os políticos de cena também se justifica pela disputa interna pelo comando do partido.

Guerra tenta ser reconduzido à presidência da sigla em maio, e tem o apoio do grupo do senador Aécio Neves (MG) e a oposição da ala ligada a José Serra (SP).

A busca por um publicitário "neutro", sem recorrer nem a Luiz Gonzalez, identificado com Serra e Geraldo Alckmin, nem a Paulo Vasconcelos, ligado a Aécio, também segue essa lógica.

Aposta no fracasso

O ator que protagoniza a primeira peça tucana mostra-se irritado com a suposta demora nas obras para a Copa e diz que o país poderá "passar vergonha" pois o mundo está de olho no Brasil. "Ô, governo, se mexe!", diz o ator baiano. "É preciso abrir o olho. Tem muita coisa errada por aí", conclui, antes de sair empurrando o carrinho com as malas.

Ao fim dos 30 segundos de protesto, aparece o novo slogan tucano: "PSDB – A gente não cobra cargos, cobra competência".

O slogan é uma alusão à disputa por postos no governo Dilma Rousseff por partidos da base aliada, mas soa um tanto ridícula já que, sendo oposição, o PSDB não teria nem como cobrar cargos do governo. Além disso, pode melindrar os aliados dos tucanos nos estados que, assim como acontece no plano federal, também assumem cargos nas estruturas estaduais dos governos tucanos.

O PSDB corre ainda o risco de o texto alarmista da peça – em que sobressaem a dicção difícil de compreender e o semblante carrancudo do ator – soar como "torcida contra" o Brasil, num momento em que pesquisas mostram aprovação ao governo Dilma na casa dos 70%.

Por "coincidência", no mesmo dia que as inserções do PSDB foram ao ar, o Jornal Nacional, da Rede Globo, divulgou extensa matéria sobre o "atraso das obras nos aeroportos".

Na avaliação do jornalista Paulo Henrique Amorim, "a oposição não tem o que dizer. Tem que apostar no fracasso. No quanto pior, melhor. É do jogo".

Incompetência tucana

No debate sobre os preparativos para a Copa, os tucanos serão obrigados a esconder que boa parte das obras de infraestrutura cabe aos governos estaduais e municipais das cidades-sedes que irão receber os jogos. Medidas em relação ao transporte urbano e reforma dos estádios, por exemplo.

Nestes quesitos, o governo de São Paulo, comandado pelos tucanos há quase duas décadas, tem enorme telhado de vidro. Até agora, não resolveram o que fazer para agilizar o transporte entre o aeroporto de Guarulhos e a capital paulista.

Nesta semana, o governo tucano de Geraldo Alckmin também engavetou a ligação mais curta do aeroporto de Congonhas à rede do metrô, o que obrigará os passageiros a percorrerem o dobro da distância para fazerem a conexão no superlotado terminal do Jabaquara.

Além disso, o projeto de reforma do estádio do Morumbi para sediar a abertura da Copa fracassou e houve reclamações de que o governo paulista se recusou a ajudar na solução do problema. 

Agora, a aposta é no novo estádio do Corinthians, em Itaquera, que terá apoio do governo federal e da prefeitura paulistana, mas segue sendo ignorado pelo governo paulista do PSDB.

Da redação,
com agências