Haroldo Lima: FHC faz ataques injuriosos ao PCdoB
“A ANP hoje tem uma capacidade controladora muito maior do que a que existia na época de Fernando Henrique Cardoso”. Assim, o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, respondeu a afirmação do ex-presidente de que a presença do PCdoB na direção do órgão estaria embotando a função controladora da Agência. Lima rebateu ainda as críticas que FHC fez ao PCdoB em seu artigo “O papel da Oposição”, divulgado na semana passada.
Publicado 20/04/2011 14:36 | Editado 04/03/2020 16:19
Os comentários do comunista fazem referência ao seguinte trecho do citado texto: “Quão caro já estamos pagando pela ineficiência de agências reguladoras entregues a sindicalistas “antiprivatizantes” ou a partidos clientelistas, como se tornou o PCdoB, que além de vender benesses no ministério dos Esportes, embota a capacidade controladora da ANP, que deveria evitar que o monopólio voltasse por vias transversas e prejudicasse o futuro do País”.
Para o diretor-geral da ANP, a formulação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem uma verdade. “É verdade, quando ele diz que as agências reguladoras foram entregues a setores, – que ele chama sindicalistas, mas não seriam necessariamente sindicalistas-, mas a setores antiprivatizantes. Isto é verdadeiro. Na época dele, estas agências foram entregues a setores privatizantes. E agora, de Lula para cá, as agências foram entregues a setores antiprivatizantes. Esta é a única verdade contida nesta declaração dele”, ressalta.
Inveja e injúrias
“Em seguida, ele faz ataques injuriosos e despropositados ao PCdoB. Coisa de quem gostava do PCdoB ser sempre um partido pequeno, que não crescia, que não tinha papel político a jogar no Brasil e por isso, ele até cortejava o PCdoB, como aconteceu na época em que eu era deputado federal e ele era senador, em que nós éramos sempre os complementos, uma coisa muito secundária. Então não tinha problema. Quando nós agora passamos a participar do governo, a ter expressão eleitoral – pois expressão social sempre tivemos -, então alguns setores ficam muito insatisfeitos com este fato. Ficam querendo que o PCdoB fosse sempre uma corrente muito minoritária, ficam insatisfeitos com este fato e passam a achar que isso é fruto e clientelismo”, afirma Haroldo Lima.
Segundo o comunista, o que na verdade estes setores não conseguem compreender, é que isso é fruto de um trabalho insano e demorado. É o trabalho partidário mais antigo do Brasil, e mostra a perseverança do partido em buscar que suas ideias sejam apoiadas por setores amplos da sociedade brasileira e que é nessa medida e apoiando-se na liberdade, o PCdoB está crescendo. “A história do partido tem sido sempre esta. Sempre que a ditadura se abate sobre o povo brasileiro, o partido fica diminuído e sempre a liberdade começa a vicejar o nosso partido cresce. Foi assim na época anterior à 2ª Guerra Mundial, nós fomos para a clandestinidade desde o início, mas quando houve a queda do nazifascismo – vitória esta capitaneada pelo Exército Vermelho da antiga União Soviética-, a força desta vitória no povo foi tão grande, que aqui no Brasil o nosso partido voltou à legalidade e imediatamente. Na Constituinte de 1946, elegeu uma bancada de 15 deputados e elegeu o senador mais votado do Brasil naquela época, que foi o Luís Carlos Prestes, além do deputado mais votado no Rio de Janeiro, que foi o João Amazonas”, lembra Lima.
“Então, a liberdade nos ajuda. Porque nós vivemos defendendo a liberdade, e ela nos ajuda com o crescimento do partido. Isso tudo faz com que setores representados pelo ex-presidente Fernando Henrique chame de clientelismo. Ela acha que quando a gente cresce é porque é clientelismo, o que é uma completa incompreensão do processo político em curso”, argumenta Lima, comunista que viveu na ilegalidade durante a ditadura militar iniciada em 1964.
Controle na ANP
Com relação a afirmação de que a presença do PCdoB na direção embota a capacidade da ANP, Haroldo Lima é categórico ao afirmar que isso é uma completa distorção da verdade. “Se quisermos ir ao fundo, a ANP hoje tem uma capacidade controladora muito maior do que a que existia na época de Fernando Henrique Cardoso. Para se ter uma pequena ideia, na época em que FHC era presidente da República, a ANP não tinha uma Superintendência de Fiscalização, a adulteração no país corria solta, inclusive porque a ANP não se colocava na tarefa de impedi-la. Foi comigo na direção, que foi criada a Superintendência de Fiscalização. E a adulteração que na época de FHC era da ordem de 10 a 12%, em média, no Brasil – o que era um escândalo, passou a ser da ordem de 1ª 2%, como é hoje. Então o controle, hoje é que está tendo”, argumenta.
“Ele fica por estas, tentando assim dizer, que nós estamos beneficiando a Petrobras. Na verdade, nós estamos beneficiando a Petrobras onde ela precisa ser beneficiada que é na descoberta do Pré-sal. Se o presidente fosse Fernando Henrique na época da descoberta do Pré-sal, nós teríamos perdido o Pré-sal para o Brasil. Isso é verdade, isso ai ele está certo. O que nós fizemos foi suspender o processo de leilões no Brasil naquele período, para naquela região, naquele polígono do Pré-sal mudarmos o marco regulatório e estabelecer uma marco regulatório que privilegia a Empresa Brasileira de Petróleo, que é a Petrobras. Isso nós fizemos mesmo, e fortalecemos a Petrobras”, reafirma Lima.
O dirigente da ANP explica ainda que paralelamente, ao invés da ANP está diminuindo a entrada de empresas brasileiras ou estrangeiras na exploração de petróleo fora do polígono do Pré-sal, ela aumentando muito esta participação. “Aumentamos bastante relativamente ao período de Fernando Henrique. Hoje nós estamos com cerca de sessenta e tantas empresas que trabalham na exploração e produção de petróleo no Brasil. O é um número muito maior, do que o que existia na época dele. Então nós não estamos coibindo, estamos sim defendendo os interesses nacionais, entre os quais está a defesa dos interesses da Petrobras, na região do Pré-sal e entre os quais está a ampliação da exploração e produção do petróleo no restante do país”, concluiu Haroldo Lima.
De Salvador,
Eliane Costa