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Manifestantes rejeitam acordo com ditador do Iêmen

Os opositores do regime ditatorial do Iêmen, dirigido há mais de três décadas por Ali Abdullah Saleh, rejeitaram a proposta de acordo para pôr fim à crise feita pelas monarquias do Golfo Pérsico. O impasse continua e os protestos nas ruas também.

Saleh é um fiel aliado dos EUA e costurou com os monarcas um acordo que previa sua saída no prazo de 30 dias numa transição em que ele teria imunidade completa, não responderia pelos crimes que cometeu e o país seguiria governado por seus amigos. O plano teve a benção de Barack Obama e chegou a ser anunciado como fato consumado. Só não combinaram antes com a oposição popular, os manifestantes que ocupam as ruas da capital. Estes rejeitaram a manobra, que tinha o aval da Casa Branca.

Radicalização

Jovens em sua maioria, os manifestantes, nas ruas, estão radicalizados. Não querem negociar e exigem a saída imediata do chefe de Estado. "Há consenso para rejeitar essa iniciativa", declarou neste domingo Abdel Malik Al Yusufi, um dos líderes dos manifestantes que acampam na praça da Universidade de Sanaa, epicentro do protesto.

Os jovens protagonistas dessas manifestações, como outras em todo o Iêmen, estão muito determinados à mudança de regime sem declarar preferência política alguma e, aparentemente, atuando independentemente dos partidos políticos tradicionais.

Mudança global

"A iniciativa dos países do Golfo aborda o problema como se fosse uma crise entre dois partidos políticos, mas saímos nas ruas para pedir uma mudança global", completou Yusufi.

Ahmed al Wafi, outro dirigente da contestação em Taez, segunda maior cidade do país no sudoeste e um dos principais focos das manifestações, estimou que o presidente Saleh, no poder há 32 anos, apenas tenta "ganhar tempo".

"Os jovens só aceitarão uma saída imediata de Saleh e não estão envolvidos em nenhuma negociação", disse à France Presse, afirmando que a oposição parlamentar "terminará por seguir os manifestantes".

Sem sair das ruas

"Nos manteremos nos locais de protesto e temos a intenção de reativar a contestação pacífica", disse. No sábado, o partido governista, o Congresso Popular Geral (CPG), aceitou o plano para sair da crise apresentado pelo Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), que prevê a saída do presidente Saleh em algumas semanas.

Os Estados Unidos, que estão por trás da proposta, se apressaram a aplaudir a suposta conciliação. “Aplaudimos os anúncios do governo iemenita e da oposição, que aceitam a iniciativa do CCG para sair pacificamente e de forma ordenada da crise política", declarou em um comunicado o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.

Os países do CCG, preocupados com a crise iemenita que começou em janeiro e que, segundo fontes médicas, já deixou mais de 130 mortos, propuseram a formação de um governo de união nacional, que Saleh transfira suas funções ao vice-presidente e que as manifestações acabem.

O presidente teria de renunciar em 30 dias e uma eleição presidencial ocorreria 60 dias depois. Segundo um alto responsável da oposição, a proposta prevê também "a promulgação de uma lei de anistia", oferecendo a Saleh garantias de que não será julgado depois de deixar o poder.

Antes do anúncio do partido presidencial, a oposição parlamentar indicou que aceitava o plano, com exceção do ponto que prevê a formação, com participação de Saleh, de um governo de união nacional. Mas nas ruas o povo falou uma outra linguagem e o plano parece destinado ao fracasso.

Da Redação, com agências