Um domingo pra recordar!

Crônica em homenagem à Firmina Sales, primeira presidente da AMI – Associação de Moradores do Itararé – Piauí

Firmina Sales - PCdoB-PI

Um domingo pra recordar!

          Talvez o mais ansioso pelo resultado fosse um senhor alto, de óculos, tímido, com seus 40 e alguns anos, mais da metade dedicados à organização de comunidades, ao movimento comunitário, e que ali, naquele momento, aguardava pelo resultado que diria o quanto realmente valorosa fora sua contribuição a ponto de ser escolhido presidente de uma comunidade para a qual se dedicou nos últimos 18 anos.

           Talvez o mais ansioso fosse aquele menino de 17 anos mais ou menos, que, justo numa votação não obrigatória fez a sua primeira participação democrática, escolhendo entre duas chapas aquela que, na sua opinião, administraria melhor o bairro no qual vive desde que era só um sonho na cabeça de sua mãe.

           Mas, certamente, o olhar atento, os ouvidos aguçados daquela figura aparentemente frágil, cabelos curtos, óculos de lentes grossas, em pé no meio do corredor que seguia para as salas/urnas, revelava mais que só ansiedade, mais que apenas esperança, revelava, aquele olhar o atento, familiaridade com tudo aquilo, afinal, não havia sido ela, há mais de 30 anos, a primeira a esperar aquele resultado?
 
            Firmina é daquelas mulheres que impressionam pelo olhar, e enlevam pela história. Ao descer no aeroporto de Teresina, no começo da década de 80, ficou fascinada com as letras em vermelho que diziam “ABAIXO A DITADURA”! E, obra do destino ou não, foi morar justo no Itararé, conjunto residencial que começava a se organizar, distante de tudo, sem estrutura, mas com um povo que “vai à luta e enfrenta o rojão”. Daí a começar a participar das reuniões, filiar-se ao PCdoB, com atuação restrita pelo Governo Militar àquela época, e se tornar a 1ª presidente da AMI, contrariando as normas sociais machistas e sexistas vigentes, foi um pulo.

           Agora estava ali de novo, acompanhando passo a passo mais uma eleição da Associação de Moradores do Itararé, que se tornara, com o tempo, a maior Associação de Moradores do Piauí, sendo berço de grandes nomes e representando a maior região urbana da capital.

            Naquele 1º de Maio tudo foi diferente: as urnas eram eletrônicas contra a Assembleia Geral de 1983; eram mais de 2.500 pessoas aptas a votar contra as poucas dezenas daquele mês de 83, o candidato a presidente era Raimundo Mendes e não ela.

            Mas havia o mesmo nervosismo, a mesma empolgação, e a mesma sensação de “VITÓRIA! VITÓRIA! VITÓRIA!” quando o resultado divulgado fez chover lágrimas e explodirem gritos, apertarem-se abraços e os corações pularem naquela estreita calçada da Escola Francisco Cesar, pela qual passaram quase 2 mil pessoas durante o domingo inteiro.

             É, naquele 1º de Maio nada era diferente! Mais uma vez, os comunistas uniram-se ao povo e conseguiram eleger o presidente da AMI, que atuará em defesa do povo da região do Grande Dirceu, há mais de 3 décadas acompanhada e amada pelos camaradas do Piauí.

             Firmina comemora, satisfeita.

Por Tatiane Seixas