Sem categoria

Cuba: Família desmente que polícia tenha matado dissidente

O jornal cubano Granma publicou nesta quinta-feira (12) declarações de familiares do opositor Wilfredo Soto que negam a versão de que ele teria sido espancado por policiais dois dias antes de sua morte. Soto, de 46 anos, morreu no fim de semana passado em um hospital de Santa Clara, a cerca de 300 quilômetros de Havana, por causas naturais, segundo seus próprios familiares e médicos que o trataram.

O governo cubano considera as acusações de que a polícia teria participação em sua morte como parte de uma campanha de desinformação contrarevolucionária. Opositores como o jornalista Guillermo Farinas e a blogueira Yoani Sánchez declararam que ele teria morrido em decorrência de "golpes dados por policiais" que supostamente o teriam detido em 5 de maio, nas cercanias do Parque Vidal.

Em entrevista ao jornalista Freddy Pérez Cabrera ao Granma, Rosa Soto García, irmã de Wilfredo, afirmou que ele já sofria de diversas enfermidades. Entre elas gota, hipertensão arterial, enxaqueca e miocardiopatia dilatada, razão pela qual recebia atenção médica há muitos anos. Ela afirmou que Juan Wilfredo levava uma vida muito desordenada e não cumpria com as indicações médicas.

"Essa história de que o golpearam é uma grande mentira. Não havia nenhuma marca de golpe, tudo isso é uma invenção da propaganda contrarrevolucionária. Estamos muito magoados dessa campanha, que causou uma grande dor na família”, disse Rosa.

"Estamos tão indignados que,no dia do enterro, o filho de meu irmão, de 14 anos, ficou com tanto nojo da postura dos dissidentes que estavam presentes que pediu a eles que fossem embora do cemitério”, revelou Rosa.

Madelín Soto, sobrinha de Wilfredo, a quem este considerava como a uma filha, também mostrou sua surpresa pelas declarações. "Fui vê-lo no hospital e não encontrei qualquer sinal de violência. Além disso, se lhe tivessem feito um só arranhão, tenho certeza de que ele teria me dito, porque eu era de sua inteira confiança”.

O estudante de direito Yasmil Pérez Rodríguez, marido de Madelín, que a levou no hospital, assegurou na sexta-feira da semana passada (6) que ela havia chegado em casa muito nervosa, pedindo que a ajudasse a levar seu pai ao médico.

"Quando cheguei, ele transpirava muito e dizia não sentir suas pernas. Tivemos que muda-lo de quarto em uma cadeira de rodas. Foi atendido pelo doutor Arnaldo Milián, que realizou diversos exames. (Wilfredo) recebeu medicamentos de todo o tipo, sem que seu corpo desse resposta favorável. Antes de piorar, foi levado à sala de UTI, onde ficou até sua morte”, relatou.

Yasmil acrescentou que esteve com o tio de sua esposa desde as 9h de sexta até o dia seguinte, e teve oportunidade suficiente para conversar com ele, e cuidá-lo, dando banho e trocando suas roupas. “Se for verdade o que essas pessoas disseram, certamente ele teria me contado, porque entre nós não havia segredos”.

O jornal também relatou depoimentos de dois vendedores de flores que viram Wilfredo pela manhã de quinta-feira (5), próximo ao Parque Vidal, gritando palavras de ordem contrarrevolucionárias.

Dois agentes policiais, entre eles uma mulher, o teriam conduzido ao carro de patrulha sem que houvesse qualquer resistência ou violência de qualquer parte.”Ele mesmo entrou no carro sozinho”, afirmou uma das testemunhas, Jorge Álvares Cabrera. Pouco depois, afirma ter visto Wilfredo novamente na rua, e este lhe teria pedido um emprestado um isqueiro para acender seu cigarro.

Médico de Wilfredo desde 2008, Nestor Vega Alonso confirmou que Wilfredo tinha problemas de saúde há muito tempo, e não apresentava um quadro clínico que lhe indicasse muitos anos de vida.

De acordo com o médico forense que realizou sua autópsia, doutor Ricardo Rodríguez Jorge, a causa da morte de Wilfredo foi mesmo em decorrência de uma pancreatite aguda, com diversos focos hemorrágicos, consequência de suas doenças anteriores. Segundo o médico, a necropsia não encontrou qualquer sinal de violência em nível externo. Enquanto crânio e pescoço estavam em estado normal, seus pulmões apresentavam sinais típicos dos de um fumante, enquanto seu coração havia aumentado de volume.

Com informações do Opera Mundi