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Bob Dylan, um gênio da música, completa 70 anos nesta terça

Bob Dylan, com uma carreira tão produtiva e polêmica como reservada perante a imprensa, completa 70 anos nesta terça-feira (24) considerado por muitos como um autêntico gênio revolucionário.

Batizado como Robert Allen Zimmerman, o artista é um símbolo da contracultura americana desde o início da década de 1960, quando seu repertório como cantor encontrou espaço nas reivindicações de uma sociedade que fervia pela Guerra do Vietnã.

Na década de 60, Dylan estava no palco próximo a Martin Luther King quando ele proferiu o famoso discurso “Eu tenho um sonho”. Várias de suas canções ganharam o status de hinos do movimento pelos direitos civis naquela década. Sua obra deste período já seria suficiente para gravar um nome na história.

Mas, como mostrou Martin Scorsese no documentário “No Direction Home”, Dylan não estava nem aí para o que pensavam dele. Trocou o violão pela guitarra elétrica e deu início a uma nova e bem-sucedida fase de sua carreira.

"Não sou um salvador ou um profeta", declarou em 2004 em sua primeira entrevista televisiva em quase 20 anos.

"Minhas canções não são sermões e não considero que haja nada nelas que diga que sou um porta-voz de algo ou de alguém", argumentou, ao tentar diminuir o valor de suas composições míticas como as incendiárias e comprometidas "Like a Rolling Stone", "Blowin' In The Wind" e "The Times They Are A-Changin".

Na sua opinião, tais canções só tentavam modelar a realidade que via passar perante seus olhos como bom artista folk, cujas letras continuam vigentes e passam de geração em geração.

É um dos músicos mais influentes da história, capaz de usar as letras para expiar seus próprios pecados e transformá-los em prosa, seja pela veia pop, rock, country ou folk, enquanto deixa escapar seus lamentos por essa garganta que pode parecer rouca por alguns momentos, mas sempre amaciada por sua inseparável gaita.

Como lembra o museu Grammy, que inaugura nesta semana a exposição "Forever Young" em homenagem ao artista, Dylan conta com 12 prêmios musicais, incluindo dois por Melhor Álbum do ano por sua participação em "The Concert of Bangladesh", em 1972, e por "Time Out Of Mind", em 1997.

Vencedor de um Globo de Ouro e um Oscar em 2001 pela canção "Things Have Changed", escrita para o filme "Garotos Incrível", é membro também do Hall da Fama do Rock'n'roll.

Uma trajetória de ouro para um homem que teve muito claro desde o início que devia sair de Hibbing, em sua fria Minnesota natal, para encontrar a luz nas ruas injetadas de vida do Greenwich Village nova-iorquino, onde achou inspiração na poesia de Dylan Thomas para o nome que lhe acompanharia pelo resto de sua vida artística.

Seu primeiro disco, "Bob Dylan" (1962), foi seguido por outros como os imprescindíveis "The Freewheelin' Bob Dylan" (1963), "The Times They Are A-Changin" (1964), "Another Side of Bob Dylan" (1964), "Highway 61 Revisited" (1965) e "Blonde on Blonde" (1966), que continham hinos clássicos de protesto político.

Era a primeira fase de sua época mais brilhante, contínua com obras mais líricas e elétricas como "New Morning" (1970), "Pat Garrett & Billy the Kid" (1973), "Desire" (1975) – onde aparecia o inesquecível "Hurricane" – e "Blood on the Tracks" (1975), antes de cair em um buraco criativo especialmente notável na década de 1990, sua pior etapa de vendas.

Dessa queda, partiu para trabalhos tão triunfantes como "Time Out of Mind" (1997) e especialmente, já no novo século, com "Modern Times" (2006).

No total, são 50 anos sobre os palcos, incluindo o que pisou em abril deste ano na China, em uma trajetória brilhante, com exceção de 1966, quando sofreu um grave acidente de moto que o levou a passar mais tempo com sua família.

Dylan se casou em duas ocasiões: em 1965 com Sara Lownds (de quem se divorciou em 1977), com a qual teve quatro filhos (incluindo Jakob, vocalista da banda The Wallflowers), e com Carolynn Dennis em 1986 (se divorciaram seis anos depois), com quem teve mais uma filha.

O melhor

Os 70 anos do cantor têm estimulado avaliações sobre o tamanho do seu legado artístico.A mais entusiástica veio do insuspeito jornal “The Independent”, um dos mais importantes da Inglaterra, terra dos Beatles e dos Rolling Stones, para quem o aniversariante é “a mais importante figura da história da cultura pop”.

O jornal enumera 70 motivos para embasar esta afirmação. As canções clássicas que compôs, como “Like a Rolling Stone”, “Mr. Tambourine Man” e “Blowin´in the Wind”, representam dez pontos da lista. Não menos importante é o fato de ter inventado uma espécie de subgênero musical, o folk-rock, até hoje com discípulos.

Igualmente notável é a sua influência sobre outros artistas. O jornal britânico cita os Beatles (a quem apresentou não só a música, mas também a maconha), os Byrds e Tom Waits, mas a lista completa preencheria um volume do tamanho do “Houaiss”.

De todos os argumentos em defesa desta tese polêmica, um, muito bem-humorado, faz pensar: “Porque foram necessários seis atores para representá-lo no filme ‘I´m Not There’ (Eu Não Estou Lá), de Todd Haynes.”

Quem viu o filme deve se lembrar que entre os atores que encarnaram Dylan na tela havia um menino negro e, não menos surpreendente, a bela Cate Blanchett. Veste perfeitamente em Bob Dylan a famosa frase de Mario de Andrade: “Eu sou trezentos, sou trezentos e cinqüenta”.

Ao longo de 50 anos de carreira, o músico nunca deixou de se reinventar. Tanto nos momentos de maior quanto de menor criatividade, a sua obra jamais se repetiu. Por conta desta inquietação permanente, seus fãs sofrem nos shows. O músico sempre apresenta novos arranjos para as velhas canções, de maneira a deixá-las irreconhecíveis.

Ao longo dos anos, Dylan já se arriscou como romancista, autor de livros para crianças, ator, cineasta e, até, artista plástico, além de um memorialista brilhante, como se viu em “Crônicas – Volume 1”

Com agências