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Paraguaios comemoram bicentenário da independência em SP

No próximo domingo (29), os paraguaios que vivem em São Paulo irão comemorar o bicentenário de independência de seu país, com um grande ato cultural promovido pela Associação de Integração Paraguai-Brasil “Japayke” (que significa despertar, em guarani). A ideia é aproveitar a festa para aproximar os imigrantes, promover um intercâmbio e resgatar tradições e costumes do Paraguai.

Os festejos vão do meio-dia às 18h, na praça Nicolau Morais de Barros, no Bom Retiro. Estão previstas apresentações de dança, degustação de comidas típicas e a presença de autoridades, como o ministro paraguaio de Repatriados e Refugiados, Elias Samuel Lugo.

"Acho que o bicentenário é um bom momento para levantar a autoestima dos paraguaios. A festa vai possibilitar que eles se encontrem, troquem ideias. É uma tentativa de unir os paraguaios que vivem aqui", explica o presidente da Japayke, Humberto Jara, um artista plástico que vive no Brasil há 37 anos.

No domingo, os imigrantes terão mais um motivo para comemorar: a praça onde acontecerá a festa, a partir de agora, será um local de convívio para os paraguaios residentes em São Paulo. A área terá duas quadras esportivas e um grande espaço para confraternizações. A expectativa é de que as obras fiquem prontas em dezembro. “Será um espaço de convivência. Precisamos manter vivos nossos costumes e nossa identidade cultural”, avalia Jara.

Segundo o presidente da Japayke, esse será o primeiro passo para que no futuro seja criada a Casa Paraguaia, um lugar de referência para os compatriotas residentes em São Paulo. "Nos últimos tempos, o Paraguai está se encontrando de novo, depois de 63 anos de uma ditadura que calou todo mundo e fez com que as pessoas perdessem a confiança umas nas outras. E é preciso estimular isso, fazer com que o povo se una”, disse.

A comunidade

Cerca de 32 mil paraguaios vivem hoje no Brasil, a maior parte deles em São Paulo e, mais especificamente, na região do Bom Retiro. Muitos imigrantes, contudo, ainda estão em situação irregular no país, o que faz com que, por vezes, sejam submetidos a condições precárias de trabalho e moradia.

Vários dos paraguaios que vêm ao Brasil em busca de uma vida melhor terminam se deparando com uma realidade bem diferente da esperada. Grande parte da comunidade está hoje empregada em oficinas de costura, que prestam serviços terceirizados a grandes lojas. Muitos moram no próprio local de trabalho e recebem valores irrisórios por peça fabricada.

“Por conta da falta de emprego que por muitos anos existiu no Paraguai, eles vêm ao Brasil para trabalhar e enviar dinheiro às famílias. Trabalham aqui em condições difíceis, moram nas oficinas e ganham por produção”, conta Jara. De acordo com ele, a presença de muitos “atravessadores” entre as pequenas confecções e as grandes lojas faz com que a mão de obra termine sendo tão mal remunerada.

Humberto Jara afirma ainda que o Paraguai abriu-se muito para a cultura estrangeira e isso se reflete na comunidade que vive no Brasil. “Perdemos um pouco da nossa identidade, nossa maneira de vestir, as músicas. No passado, governantes diziam que falar o guarani, por exemplo, não era culto. Mas agora estamos fazendo essa tentativa de resgate dessa cultura”, completa o paraguaio.

Segundo ele, com o governo do presidente paraguaio Fernando Lugo, esta realidade vem, aos poucos, se modificando. “O ministro dos Repatriados vem aqui justamente falar sobre este novo momento e ouvir o que os paraguaios daqui têm a dizer”, conta Jara, para quem a eleição de Lugo tem uma “simbologia muito forte”.

“É uma grande esperança, embora quatro anos seja pouco tempo para qualquer mudança mais profunda. Ele tem feito um trabalho bem intencionado, mas precisa ainda do apoio de gente que acredite. A imprensa, por exemplo, só faz críticas”, lamenta.

Mas para Jara, o Paraguai vive um momento diferente, que tem tudo a ver com a comemoração do bicentenário. “Lugo tem tentado que o Paraguai sinta-se, de novo, um país livre”, encerrou.

Da Redação,
Joana Rozowykwiat