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Seara reconhece “muitas verdades” em denúncias de trabalhadores

A direção do Grupo Seara Marfrig reconheceu em reunião nesta terça-feira com a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contac/CUT) e o Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Sidrolândia-MS (Sindaves) que existem “muitas verdades” nas denúncias sobre a epidemia de lesões e mutilações provocada pelos frigoríficos avícolas e que a empresa deve explicações à sociedade.

Em nome da Seara, o gerente da unidade local, Marcelo Mouser da Silva, manifestou a preocupação em dar enfrentamento aos problemas causados pelo ritmo intensivo de trabalho e pelas longas e extenuantes jornadas, iniciando pela ampliação das atuais três pausas de 8 minutos para quatro, totalizando 32 minutos.

Atualmente existe uma decisão favorável do Tribunal Superior do Trabalho (TST) a uma ação interposta pelo Ministério Público e pelo Sindaves que determina a implantação de intervalos de 20 minutos a cada uma hora e 40 minutos trabalhados. Questionada pela Seara Marfrig, a ação está para ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Após a reunião, ficou estabelecido que questões relativas à emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), que vinham sendo mascaradas pelos médicos da empresa, vão passar a ser analisadas pessoalmente pela gerência e pela direção de Recursos Humanos da Seara. A direção da empresa também se comprometeu em avaliar denúncias contra médicos e laboratórios que têm atuado de forma “antiética” para negar ou atenuar as doenças provocadas pelas condições de trabalho na unidade local.

Na avaliação de José Modelski, dirigente da Contac/CUT, o reconhecimento por parte da empresa da necessidade de pausas fortalece a mobilização nacional em defesa de uma Norma Regulamentadora para o setor frigorífico.
 
“A NR que estamos construindo de forma tripartite, entre governo, trabalhadores e empresários, contempla as pausas, a redução do ritmo de trabalho e mudanças ergonômicas no ambiente de trabalho. Nosso compromisso é com a melhoria das condições de vida da categoria que, infelizmente, vem tendo sua saúde comprometida. Precisamos prevenir”, explicou.

De acordo com Modelski, “os depoimentos dos trabalhadores lesionados, divulgados pela página da CUT na internet, falam por si e mostram que está havendo um aumento no número de trabalhadores lesionados e no agravamento das enfermidades, o que aponta a necessidade de medidas urgentes para deter essa epidemia”.

Conforme Sérgio Bolzan, presidente do Sindaves e um dos representantes da bancada de trabalhadores na formulação da NR, “anúncios de pausas são sempre bem-vindos, embora nossa luta seja mais ampla”. “Acreditamos que este é um primeiro passo, que se deveu em muito à repercussão das notícias veiculadas na página da CUT e que deram maior visibilidade ao problema que os trabalhadores estão enfrentando nos frigoríficos avícolas”, declarou.

Bolzan apresentou à direção da Seara a proposta de elaboração de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) para formalizar medidas corretivas, “que trarão benefícios à saúde e às condições de vida do trabalhador, como a emissão de CAT, o estabelecimento de pausas e o custeio pela empresa do tratamento médico necessário aos lesionados e mutilados”.

Uma nova reunião nacional entre a direção da empresa, da Contac/CUT e do Sindaves deverá acontecer até o dia 25 de junho. Na próxima quarta-feira (15), dirigentes dos principais sindicatos de alimentação do país estarão reunidos em Caxias do Sul-RS para debater ações em defesa da aprovação da NR.

Está em tramitação no Congresso Nacional um projeto de autoria do seu atual presidente, deputado Marco Maia (PT-RS), que dispõe sobre a redução da jornada de trabalho no setor frigorífico para 36 horas semanais, sem redução de salário. O projeto encontra-se na Comissão de Seguridade Social, de onde passará para as Comissões de Trabalho e de Constituição e Justiça em caráter terminativo, ou seja, uma vez aprovado nas comissões irá à sanção presidencial, não precisando ir a plenário.

“O setor está crescendo, registrando aumentos de lucros sucessivos com base na elevação da produtividade. Portanto, nada mais justo do que dividir este crescimento com os trabalhadores. É uma questão de justiça”, concluiu Modelski.

Fonte: Mundo Sindical