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István Mészáros faz conferências para lançar livros no Brasil

O filósofo húngaro István Mészáros iniciou, nesta quarta (08), em São Paulo, uma série de conferências, que marcam o lançamento de três novos títulos da editora Boitempo: o segundo volume de "Estrutura social e formas de consciência", de Mészáros, o livro-homenagem "István Mészáros e os desafios do tempo histórico" (orgs. Ivana Jinkings e Rodrigo Nobile); e o número 16 da revista "Margem Esquerda", publicação semestral de ensaios marxistas.

A conferência "Crise estrutural necessita de mudança estrutural" será realizada ainda em outras três cidades: no dia 13, em Salvador; no dia 16, em Fortaleza; e no dia 20, no Rio de Janeiro. Os eventos são gratuitos.

Professor emérito da Universidade de Sussex, na Inglaterra, onde ensinou filosofia por 15 anos, Mészáros anteriormente foi também professor de Filosofia e Ciências Sociais na Universidade de York, durante quatro anos. Ele é ligado à chamada Escola de Budapeste, um grupo de filósofos húngaros, constituído por antigos discípulos, como György Lukács, ou por ele influenciados, e que inclui Ágnes Heller e György Márkus.

Os livros

Com o segundo volume de "Estrutura social e formas de consciência", a grande obra do filósofo húngaro István Mészáros revela uma iluminadora sistematização metodológica da dialética da estrutura e da história, radicada na abordagem marxiana.

Assim como Marx em sua época, Mészáros combate as mistificações da “ciência” submetida aos imperativos alienantes necessários à reprodução atual do capital. Enquanto a crítica de Marx fincou raízes na fase ascendente do sistema sociometabólico do capital – momento em que a apologética científica ainda conseguia velar tanto pelos progressos materiais que a sociedade do trabalho abstrato e alienado haveria de produzir como pelos princípios políticos conquistados pela revolução burguesa –, a radicalidade das análises de Mészáros emana do fato de que o capital enfrenta hoje seu processo descendente, uma crise estrutural que aciona seus limites mais absolutos e autodestrutivos.

“O realismo da sua crítica revolucionária põe em necessária evidência o caráter irracionalista de qualquer forma de apologia ao sistema, desde os mais velhos aos mais novos estruturalistas, aqueles que aderem à estrutura social, cujo funcionamento Mészáros, assim como Marx, dedica toda uma vida a desvendar”, afirma a socióloga Maria Orlanda Pinassi.

A obra também desvenda uma profunda preocupação com as implicações práticas de longo alcance, e não apenas teóricas e acadêmicas, advindas da relação dialética entre estrutura e história. Para o autor, nenhuma melhoria significativa no tempo ainda disponível para a humanidade é possível sem a compreensão do verdadeiro caráter das determinações da ordem cada vez mais destrutiva de reprodução societal do capital.

No horizonte do pensamento de Mészáros, o leitor encontra a necessidade da intervenção emancipadora dos seres humanos comprometidos nas tendências em desdobramento do desenvolvimento histórico.

Em homenagem à trajetória intelectual de um dos maiores pensadores marxistas da atualidade, a Boitempo publica também "István Mészáros e os desafios do tempo histórico", coletânea de ensaios de renomados intelectuais do Brasil e do exterior sobre os escritos fundamentais do filósofo húngaro.

O livro traz as reflexões que resultaram da última visita de István Mészáros ao país, em 2009, quando foi tema do III Seminário Internacional Margem Esquerda e palestrou em universidades de oito cidades brasileiras, com público estimado de 4 mil pessoas. Figuram na lista 22 articulistas convidados a revelar o arcabouço intelectual mészáriano, de militância e comprometimento absoluto com uma mudança social radical da sociedade.

Organizados em dezoito mesas de debate que refletiram temas diversos (meio ambiente, educação, trabalho, alienação, financeirização, indústria bélica, entre outros) – sempre sob a perspectiva marxista e o legado de Mészáros –, intelectuais como Afrânio Mendes Catani, Brett Clark, Edmilson Costa, Emir Sader, François Chesnais, Giovanni Alves, Jesus Ranieri, John Bellamy Foster, Jorge Beinstein, Jorge Giordani, Maria Orlanda Pinassi, Miguel Vedda, Osvaldo Coggiola, Plínio de Arruda Sampaio Jr., Ricardo Antunes, Ricardo Musse, Roberto Leher, Rodrigo de Souza Dantas, Valério Arcary e Wolfgang Leo Maar desenvolveram discussões acerca da ideologia, do sistema do capital, de sua crise estrutural e sua necessária superação, alguns dos temas que compõem a presente obra.

Já a nova edição da revista "Margem Esquerda" traz uma profunda análise, fruto de diferentes olhares dos principais pensadores marxistas brasileiros e internacionais, sobre os efeitos da crise de 2008-2009 que, ao contrário do que bradam políticos e empresários, não acabou nos Estados Unidos e em vários outros países e evidencia um processo sistêmico de rearranjo do capitalismo global.

O entrevistado deste número é David Harvey, geógrafo inglês que investiga as dinâmicas geográficas da acumulação capitalista. Seu livro "O enigma do capital", a ser lançado pela Boitempo, tornou-se referência aos interessados em entender a crise global sob a perspectiva do materialismo histórico não ortodoxo.

A entrevista recupera a trajetória de Harvey, de sua infância aos projetos intelectuais mais recentes, e conecta seus conceitos clássicos, como acumulação por despossessão, a suas experiências de vida.

Também integra a edição o ensaio “Corpos, linguagem, verdades”, de Alain Badiou, que distingue o materialismo passivo de corpos aprisionados pela ideologia dominante do materialismo de corpos ativos na luta pela sustentação de uma verdade que não se deixa capturar pela linguagem do comum, do rotineiro.

A emancipação feminina na obra de István Mészáros é o tema do texto de Demetrio Cherobini, a ser entendida como conquista de igualdade substantiva num processo de resistência às formas de sociabilidade do capitalismo. Na seção Documento, “Em memória da Comuna”, de Lênin, homenageia a revolta proletária parisiense de 1871.

No dossiê “Hegemonia norte-americana: Estado e perspectivas”, organizado por Emir Sader e Luiz Bernardo Pericás, discute-se o suposto declínio do poder estadunidense em análises de Alex Callinicos, José Luís Fiori e Guillermo Almeyra. A revista traz ainda a seção Debate, com um balanço do governo Lula por Emir Sader e Ricardo Antunes, em análises diametralmente opostas.

Na seção de artigos, Slavoj Žižek explica a importância das revoltas atuais, como a primavera árabe, e os desafios da esquerda em tempos marcados pela ideologia liberal-vitimista que “reduz a política para evitar o pior, renunciar de todos os projetos positivos e perseguir a opção menos ruim”.

As imagens, sob curadoria do artista plástico Sérgio Romagnolo, são de Nelson Leirner. Polêmico, irreverente e provocador, Leirner marcou a cena artística brasileira dos anos 1960 ao contestar o circuito oficial das artes. A edição conta também com artigos de Carlos Eduardo Jordão, João Leonardo Medeiros, Guido Oldrini; resenhas de Fernando Marcelino, Lúcia Barroco, Silvio de Almeida e Camilo Caldas; o poema “Quando eu Deusa for”, de Fatima Naoot; além de notas de leitura de Silvia Adoue e Maria Orlanda Pinassi.

Serviço

13/06 | 18h30 – Salvador (BA)
II Encontro de São Lázaro – FFCH UFBA
Para mais informações e inscrição, visite www.ffch.ufba.br
Estrada de São Lázaro, 197 – CEP 40210- 730, Federação – Tel. (71) 3283-6431
Realização: FFCH UFBA, IPS, Boitempo Editorial

16/06 | 19h – Fortaleza (CE)
Mercado dos Pinhões
Praça Visconde de Pelotas – CEP 60110-210 – Tel. (85) 3105-1569
Realização: Prefeitura de Fortaleza, Universidade Federal do Ceará, Escola Nacional Florestan Fernandes, Boitempo Editorial

20/06 | 18h – Rio de Janeiro (RJ)
Auditório 11 – UERJ (Campus Maracanã)
Rua São Francisco Xavier, 524 – CEP 20550-013, Maracanã – Tel. (21) 2334-0890
Realização: PPFH/UERJ, Flacso, LEMA-UFRJ, ADUFRJ, Boitempo Editorial