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Escritor e político espanhol Jorge Semprún morre aos 87 anos

O escritor e político espanhol Jorge Semprún, de 87 anos, morreu na noite desta terça (07), em Paris, vítima de uma doença degenerativa. Semprún – que nasceu na Espanha mas passou grande parte da sua vida na França – era considerado uma testemunha excepcional do século 20.

Ele morreu em sua casa, acompanhado de seus filhos e de seus sobrinhos, segundo afirmaram fontes de sua família. Ainda não foi anunciado o local do enterro, mas, segundo as mesmas fontes, será "quase com certeza em território francês".

O escritor foi uma figura relevante na literatura e na política com uma impressionante trajetória pessoal e profissional. Nascido em 10 de dezembro de 1923 em Madri, mudou-se para a Holanda com o início da Guerra Civil e, terminado o conflito, se exilou com a família em Paris.

Membro da resistência francesa durante a ocupação nazista, foi detido e enviado ao campo de concentração de Buchenwald, na Alemanha, onde permaneceu 16 meses. A experiência está refletida em vários de seus livros.

Depois de sobreviver ao Holocausto, Semprún agiu na clandestinidade contra o Franquismo, militando no Partido Comunista espanhol. Após a morte de Franco, foi ministro de Cultura, durante o governo de Felipe González.

O autor construiu sua obra literária baseada, principalmente, nas lembranças de sua juventude. Escreveu boa parte de seus livros em francês. Sua experiência de vida marcou algumas de suas principais publicações, como "A Grande Viagem", centrada em seus dias como membro da Resistência francesa.

Entre seus principais livros editados no Brasil estão também "A Segunda Morte de Ramón Mercader" (1969) e "A Algaravía" (1981).

Paralelamente, Semprún adquiriu fama como roteirista, escrevendo para as grandes referências do cinema francês, como "A guerra Acabou" e "Stavisky" de Alain Resnais, além de contribuir para a renovação do cinema político com Costa-Gavras, com quem colaborou, coms os roteiros de "Z" e "A confissão".

Repercussão

Muitas celebridades do mundo da cultura e da política destacaram, nesta quarta, o legado de Jorge Semprún. O eutodeputado comunista Willy Meyer classificou o escritor como "uma das cabeças mais comprometido com a liberdade, a igualdade e a solidariedade". Segundo Meyer, "a Europa perde um combatente anti-fascista, um intelectual e resistente comprometido".

Ao saber da morte, o deputado afirmou que "Semprún foi um símbolo europeu do compromisso antifascista, que fez desta luta a sua marca fundamental." Meyer lembrou que Semprún sempre alertou para a reaparição, na cena europeia, de organizações xenófobas e fascistas. "Seu compromisso é hoje mais válido do que nunca, numa Europa que sofrem suas maiores cortes sociais", disse.

A ministra da Cultura espanhola, Ángeles González-Sinde, assegurou que a longa viagem do intelectual na literatura e na história política do país ibérico está muito presente na atividade do órgão em que atua, onde ele ainda é muito recordado e sua ausência é sentida enormemente.

Também cineasta, a ministra espanhola disse que Semprún foi "muito invejado" por outros cineastas, porque trabalhou, entre outros, Costa Gavras, e fez cinema político.

Sublinhou a sua capacidade de vincular o geral e o particular e de fazer com que as pessoas escutassem coisas difíceis, que às vezes não são as que se quer ouvir, e refletrissem sobre elas. "Dizia que, para explicar o horror dos campos de concentração, era melhor a ficção que o documentário, já que este último não chegava a transmitir esse horror e essa verdade mais profunda", recordou.

O escritor pernambucano e jornalista do Portal Vermelho, Urariano Mota, também manifestou-se, classificando Semprún como um escritor fundamental. "Todos nós ficamos menos que pequenos com a sua partida. Aquele que primeiro denunciou em páginas imortais a hipocrisia dos alemães que moravam perto de campos de concentração e de nada sabiam. Aquele roteirista fundamental do filme 'A guerra acabou'", afirmou.

Na Alemanha, a notícia da morte teve um grande impacto na imprensa. Alguns meios de comunicação citaram uma frase conhecida Semprún: "Eu não sou um escritor, sou apenas um sobrevivente de Buchenwald."

Da Redação,
Com agências