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Herdeiros do jornal Clarín aceitarão fazer novo exame de DNA

Os filhos adotivos da dona do jornal Clarín, da Argentina, se submeterão “voluntariamente” a novas análises de DNA para comprovar se são ou não filhos de pessoas desaparecidas durante a ditadura militar do país (1976-1983).

O advogado dos irmãos, Horacio Silva, afirmou nesta sexta-feira (17/06), que Felipe e Marcela Herrera de Noble “não recorrerão à determinação de extração de sangue” sentenciada pela Justiça.

"Eles decidiram se apresentar voluntariamente para a extração de sangue e aceitam que a comparação seja feita em relação a todas as famílias que tenham informação genética no Banco Nacional de Dados Genéticos", afirmou Silva, conforme antecipado pelo jornal Clarín e logo confirmado por Silva em uma entrevista de rádio.

“[Felipe e Marcela] Chegaram a esta conclusão dado o contexto e os padecimentos que sofreram, sobretudo pelos efeitos gerados na saúde de sua mãe, com o único objetivo de terminar com o processo [judicial]”, declarou na entrevista. Segundo o advogado, a decisão foi tomada pelos irmãos para “não expor” Ernestina Herrera de Noble “a novas ofensas e sofrimentos” e terminar com o “assédio” sofrido pela família.

Em março, a Câmara Federal de Apelações de San Martín, da Argentina, desconsiderou o recurso de apelação apresentado pela defesa e determinou que as amostras de sangue ou de saliva deveriam ser extraídas “com ou sem consentimento” para comparação com o material genético de famílias que tiveram bebês roubados em centros clandestinos de prisão durante o período de repressão.

A presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, se mostrou satisfeita com o anúncio: “Comemoramos a decisão”, afirmou, constatando que “a vida deles [Felipe e Marcela] era um inferno”. No twitter, a associação também celebrou: “Finalmente saberemos se Marcela e Felipe são alguns dos netos que as Avós buscam incansavelmente. Eles farão os exames como acontece com todos os casos de possíveis filhos de desaparecidos.”

Cronologia

O processo judicial, que já incluiu exames de DNA anteriores dos irmãos, teve início em 2001, quando as Avós da Praça de Maio – organização de mulheres que procuram seus netos desaparecidos durante a ditadura –, puderam comprovar que os documentos da adoção de Felipe e Marcela eram falsos. Estima-se que cerca de 500 bebês tenham nascido nas prisões clandestinas e adotados ilegalmente por militares ou doados a outras famílias.

Com as primeiras denúncias de que Felipe e Marcela seriam filhos de desaparecidos, Ernestina Herrera de Noble, sócia do grupo Clarín, o principal conglomerado de mídia do país, chegou a ser presa. Após sua liberação, a empresária falou pela primeira e última vez sobre o caso: “Muitas vezes conversei com meus filhos sobre a possibilidade de que eles e seus pais terem sido vítimas da repressão”.

Permeado por idas e vindas de recursos e apelações, além de uma extração de DNA contaminada com outros materiais genéticos, o caso nunca chegou a ser solucionado, apesar das insistentes petições e processos judiciais por parte das Avós da Praça de Maio. O jornal Clarín define as demandas “do governo argentino e de alguns setores de organismos de Direitos Humanos” como uma “perseguição”.

Fonte: Opera Mundi