Testemunhas de acusação ao prefeito não apresentam fatos novos

Três testemunhas de acusação ao prefeito Hélio de Oliveira Santos compareceram para depor à Comissão Processante da Câmara Municipal. As respostas do secretário de Urbanismo, Luis Yabiku, do empresário Ilario Bocalleto e do ex-presidente da Sanasa, Luiz Augusto Castrillon de Aquino, não apresentam novidades ao que já foi tornado público. A CP apura o possível envolvimento de Hélio em suposto esquema de fraudes em licitações na Sanasa. Nenhum dos depoentes confirmou envolvimento do prefeito.

Apelidado pela mídia de ‘homem bomba’ por ter sido o delator que possibilitou ao Ministério Público (MP) passar a investigar o governo municipal, Castrillon de Aquino confirmou o que disse ao MP e ao juiz da 3ª Vara Criminal de Campinas, Nelson Augusto Bernardes – afirmando existir um esquema de pagamento de propinas para realização de obras e prestação de serviços para a Sanasa (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A.). Ele disse que sua saída da Sanasa foi motivada por pedido de dois lobistas. Segundo Aquino, a primeira dama de Campinas, Rosely Nassim, lhe disse que os ‘meninos estavam pedindo sua cabeça’. Os ‘meninos’ são os Maurício de Paulo Manduca e Emerson Geraldo de Oliveira – lobistas também investigados pelo MP. Confirmando depoimento do prefeito, Aquino reforçou a existência de gravações que o envolviam em atos ilícitos. Ele insinuou que as gravações foram feitas por empresários cujos contratos com a Sanasa estão sob suspeita.

Aquino afirmou várias vezes que é um admirador de Hélio. Que o prefeito é um profundo conhecedor da máquina pública, e que não tinha participação nos contratos da Sanasa. Sobre o recebimento de propinas, Aquino reiterou que o prefeito nunca soube de nada, e que fazia repasses diretamente para Rosely. Ele acredita que Hélio não se preocupava com o relacionamento dele com a primeira-dama, pois Aquino é amigo de infância de Hélio e desfrutava da confiança da família. Segundo Aquino, ele recebia o dinheiro da propina, em espécie, e o levava à primeira-dama. O ex-presidente afirmou que cobrava entre 5% e 7% do valor de obras e entre 10% e 11% das prestadoras de serviço.

O secretário de Urbanismo, Luis Yabiku, afirmou que o prefeito não interfere no processo de concessão de alvarás. Referindo-se ao seu antecessor, Hélio Jarreta, acusado de participar do suposto esquema, Yabiku afirmou que já revogou as portarias que centralizavam a emissão de alvarás no secretário. Considera que Jarreta errou tanto em relação à centralização quanto na pouca, ou inexistente, fiscalização pública das obras liberadas.

O empresário Ilário Bocalleto, embora não envolvido no suposto esquema, foi convidado a depor por ter concedido entrevista afirmando a existência de pedidos de propina para liberação de empreendimentos imobiliários. Segundo o empresário, não se consegue aprovar empreendimentos na cidade sem pagar propina. Bocalleto atua no ramo há 30 anos e sua empresa tem sede em Campinas.

Ele disse que há dois anos foi conversar com Rosely sobre questão relativa ao pagamento de IPTU. O empresário tem três terrenos rurais onde pretende construir. A partir de mudanças na legislação, ele tentou obter abatimentos legais compensando seus pagamentos em imposto rural na dívida com o IPTU. Bocalleto afirmou ter sido bem sucedido com relação a um dos imóveis, mas ao não conseguir negociar os demais foi procurar a primeira-dama. Segundo seu depoimento, Rosely entregou-lhe um bilhete – que está em poder do MP – informando que seria procurado por Cândia (ex-diretor de Planejamento, sob investigação do MP). Procurado, afirmou à CP que lhe foi pedida uma propina de 15% sobre o valor a ser abatido, o que se negou a fazer. Bocalleto afirmou que Cândia lhe disse que tal dinheiro seria repartido em três partes – para ele, Cândia; para o pessoal e para a doutora. O empresário afirmou que “é impossível fazer um loteamento popular em Campinas”.

Embora tenha afirmado que outras empresas enfrentam o mesmo problema, Bocalleto se negou a dizer quais e em quais municípios atuam. Após o depoimento, o empresário atendeu a imprensa. Reiterou o que acabara de dizer, e informou que outros empresários pagam propina. Disse que não denunciou o problema porque queria ver aonde iriam chegar as conversas. Respondendo a pergunta do Vermelho-SP disse que nunca conseguiu aprovar empreendimentos imobiliários populares em Campinas e que já enfrentou problemas há 20 anos.

Em entrevista à imprensa, o vereador Artur Orsi (PSDB) – autor do requerimento que levou à instalação da Comissão – considerou bons os depoimentos. Para o vereador, eles negam a versão do prefeito, de que não sabia de nada. Orsi considera que Hélio sabia de tudo.

De Campinas,
Agildo Nogueira Junior