Debate destaca integração da América do Sul e ações dos governos
No último dia do seminário internacional “Governos de esquerda e progressistas na América Latina e no Caribe”, sábado (2), a mesa inicial abordou a integração, a democracia e o desenvolvimento como política dos governos, tendo como um dos oradores o assessor especial de política externa da Presidência da República do Brasil, Marco Aurélio Garcia.
Publicado 03/07/2011 11:32
Inicialmente, Marco Aurélio Garcia expressou sua solidariedade para com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que se encontra em Cuba para tratamento de um câncer. O assessor da presidenta Dilma destacou que a América do Sul vive hoje um momento de grandes transformações, com processos absolutamente originais. Para ele, “mesmo nos países onde as forças de esquerda, populares e nacionalistas não tiveram vitórias, contamos com uma direção à esquerda”. Entretanto, segundo Marco Aurélio, ainda não se trata de “uma hegemonia das ideias de esquerda, mas de políticas de esquerda”.
Mesmo assim, segundo Marco Aurélio Garcia é auspicioso perceber que, em processos eleitorais recentemente transcorridos na América Latina, incluindo a corrida presidencial em curso na vizinha nação argentina, forças conservadoras apresentam grande resistência em assumir-se como sendo de direita.
Ainda em relação à América Latina, Garcia saudou a recente vitória de Ollanta Humala no Peru e destacou a fundação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) como fato de grande importância para a integração solidária da América Latina, possível apenas em função das vitórias e dos avanços obtidos no continente pelas forças progressistas.
Marco Aurélio Garcia referiu-se à experiência brasileira relatando o que considera eixos destacados da atuação do governo federal nos últimos anos. Segundo Garcia, no Brasil os governantes jamais haviam decidido enfrentar com firmeza a questão das desigualdades sociais, o que inviabilizava inclusive uma democracia política mais sólida. Para piorar, quando da assunção de Lula à Presidência da República o Brasil se encontrava estagnado havia 20 anos. E, na visão do assessor especial de Dilma, mesmo considerando, como Celso Furtado, que crescimento não necessariamente é desenvolvimento, a expansão econômica foi fator decisivo no processo de enfrentamento do apartheid social que se encontrava instalado no país desde os anos 80.
Na contramão dessa história, os últimos anos assistiram a uma melhoria inédita do nível de vida da população, com “a retomada do crescimento, que não foi espetacular mas constante, e a fortíssima distribuição de renda, que nos permitiu incluir mais de 40 milhões de pessoas. Segundo dados do IBGE, nos últimos anos a renda dos mais ricos cresceu 10%, enquanto a dos mais pobres, aumentou 65%".
Na visão do assessor da Presidência, além da política salarial, com o aumento do salário mínimo acima da inflação, também contribuíram para esse processo os programas sociais, como o Bolsa Família, e a ampliação do crédito popular. Medidas como essas ajudaram a fortalecer, no Brasil, um mercado de consumo de massas – fator decisivo no enfrentamento da crise econômica mundial.
Sobre a política externa brasileira, Marco Aurélio falou da clara opção pela América do Sul. Para ele, a integração latino-americana precisa ser diferente de outros processos de mesma natureza que têm se concretizado em todo o mundo. "Precisamos de uma integração solidária. E entendemos que nosso processo não será diferente de outros por aí se a região permanecer desigual regionalmente. Nós, brasileiros, não queremos ser a Alemanha da América Latina", finalizou Garcia, ovacionado por todo o auditório.
A mesa contou ainda com o embaixador e representante especial para a Integração do Mercosul da Argentina, Oscar Laborde. Para ele, cada processo tem seu caminho próprio, destacando que “não se trata de dizer um para o outro qual o melhor”. Disse ainda que o mundo já “não é mais bipolar ou unipolar, mas multipolar e a América do Sul pode ser um polo neste sentido e que, por isso, é preciso pensar um sistema alternativo ao modelo neoliberal e capitalista”.
Representante do Paraguai, o diretor-geral da Itaipu Binacional, Gustavo Codas, abordou as mudanças em seu país e o governo do presidente Fernando Lugo, um ex-bispo da Teologia da Libertação.
Segundo Codas, o governo Lugo é formado por uma “ampla coalizão que vai da esquerda – inclusive de extrema esquerda – até a centro-direita. Uma coalizão formada para derrotar o Partido Colorado, que estava no governo desde 1947”. Gustavo também falou sobre as disputas internas. Segundo ele, “dentro do governo convivem tendências de mudanças e conservadoras e o grande desafio é aprofundar essas mudanças. Em 2010, constituímos a Frente Iguaçu, que reúne os setores progressistas e nacionalistas para apontar esses caminhos para seguirmos mais longe”, finalizou o representante do Paraguai.
Do Rio de Janeiro,
Marcos Pereira.