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Professor manda estudante “voltar à África” e “clarear sua cor”

Estudantes do curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) divulgam um abaixo-assinado na internet denunciando o professor José Cloves Verde Saraiva por crime de racismo. No texto que circula por e-mail, os estudantes solicitam que a universidade "tome as providências que a lei requer para o caso". O Ministério Público Federal do Maranhão está investigando o caso.

- Jornal Pequeno

O Ministério Público Federal no Maranhão (MPF-MA) divulgou nesta terça-feira (5) que investigará a denúncia de preconceito racial contra um aluno da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

O estudante nigeriano Nuhu Ayuba afirma que o professor do curso de Engenharia Química José Cloves Verde Saraiva lhe ofendeu com palavras e escritos discriminatórios, além de ter lhe dito que “aqui [no Brasil], diferente da África, somos civilizados”. O professor teria bradado, ainda, que o estudante deveria voltar para a África e “clarear a sua cor”.

Em protesto, estudantes da universidade organizaram um abaixo assinado relatando as ofensas e solicitando que a instituição tome providências. Segundo o texto, o estudante nigeriano está psicologicamente abalado com as agressões e sequer retruca diante dos ataques do professor.

Ao receber a denúncia, a reitoria da UFMA solicitou à Pró-reitoria de Recursos Humanos a instalação imediata de um processo administrativo, assim como comunicou sobre o caso ao Ministério Público, solicitando que o mesmo seja apurado.

Inquérito

O MPF-MA pediu à Polícia Federal que abra um inquérito para apurar o possível crime de preconceito racial contra o nigeriano. A requisição solicita ainda a convocação de pelo menos seis alunos da universidade que assinaram o abaixo-assinado que pede o afastamento do professor, além da convocação de Nuhu Ayuba, a qualificação e o interrogatório do professor Cloves Saraiva.

Também foi requisitada uma prova apresentada no processo criminal que foi aberto pelo aluno. O documento teria uma consideração racista feita pelo professor. A perícia grafotécnica determinará se a letra é mesmo do docente.

O ministério fixou o prazo de 30 dias para atendimento da requisição. Após o inquérito policial será avaliado se houve o crime de preconceito racial.

Adesão

O abaixo-assinado feito pelos alunos da universidade pedindo o afastamento do professor Cloves Saraiva na internet já contava com a adesão de mais de 5,5 mil pessoas no momento da publicação desta matéria. O nigeriano abriu um processo criminal contra o professor, que tentou se justificar, dizendo que o estudante precisa mostrar o seu valor independente da raça:  "jamais tive intenção discriminatória, de qualquer espécie, mesmo porque sou, como muitos brasileiros, descendente de africanos, inclusive a minha avó era de Alcântara [MA]. Acredito no potencial de todos e o que exijo como docente é que os estudantes tenham compromisso com o conteúdo da disciplina e com a participação e frequência às aulas", ddefendeu-se.

Em nota, a reitoria da universidade afirmou que o comportamento do docente será considerado lamentável e vergonhoso, caso as denúncias sejam confirmadas, além de ter aberto um processo interno para investigar o caso.

O Reitor Natalino Salgado afirmou que é lamentável a ocorrência de fatos dessa natureza em qualquer instância pedagógica, ainda mais em uma Universidade Pública como a UFMA, que vivencia dias de grandes conquistas no processo de inclusão social e de acordos internacionais que favorecem a mobilidade estudantil, assim como a docente. “Temos pautado nosso trabalho no respeito e na dignidade humana; e não partilharemos de atitudes que se caracterizem em retrocesso e vergonha para a nossa sociedade. Os estrangeiros, assim como todos os outros estudantes, têm o nosso apreço e respeito. Vamos continuar honrando os acordos educacionais e culturais assumidos pela Universidade e pelo Governo Brasileiro com outros países”, destacou Salgado.

Confira a íntegra do abaixo assinado e clique aqui para aderir.

"CARTA ABAIXO ASSINADO

Nós, estudantes do curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Maranhão/UFMA, matriculados na disciplina Cálculo Vetorial, informamos que o professor Cloves Saraiva vem sistematicamente agredindo nosso colega de turma Nuhu Ayuba humilhando-o na frente de todos os alunos da turma. Na entrega da primeira nota o professor não anunciou a nota de nenhum outro aluno, apenas a de Nuhu, bradando em voz alta que 'tirou uma péssima nota'; por mais de uma vez o professor interpelou nosso colega dizendo que deveria 'voltar à África' e que deveria “clarear a sua cor”;em um outro trabalho de sala o professor não corrigiu se limitando a rasurar com a inscrição 'está tudo errado' e ainda faz chacota com a pronúncia do nome do colega relacionando com o palavrão 'no cu'; disse que o colega é péssimo aluno por que 'somos de mundos diferentes' e que 'aqui diferente da África somos civilizados' inclusive perguntando 'com quantas onças já brigou na África?'. Nuhu não retruca nenhuma das agressões e está psicologicamente abalado, motivo pelo qual solicitamos que esta instituição tome as providências que a lei requer para o caso."

Da redação, Luana Bonone, com informações do Terra e UFMA