Ana Cristina Cavalcante: O que faz você feliz?

Concentração no mercado: aquisições e fusões de grandes empresas no Brasil.

Se 21 anos atrás a globalização inseriu, mesmo que a fórceps, países como o Brasil na “roda da fortuna” do mundo moderno, agora começa a mostrar seu lado mais perigoso. Não, queridos leitores-internautas; não vamos falar de crise econômica nem do contágio grego, italiano, irlandês ou espanhol. O tema, hoje, é outro. Igualmente importante, porém, com impactos bem mais diretos nas nossas vidas.

A troca de ideias desta Cenário versa sobre um movimento que vem ganhando força na economia nacional – puxado por empresas já consolidadas mas que, mesmo assim, decidem juntar seus trapinhos para operarem como uma só no segmento que, antes, disputavam. Numa palavra, isso é concentração! No Brasil, estamos vivendo esta experiência com intensidade preocupante. Vejam só…

A semana começa com a notícia de que a Gol Linhas Aéreas comprou a Webjet, companhia low cost com atuação em todo o território brasileiro. Poucos dias antes, a maior rede de supermercados do País, o Pão de Açúcar, anunciava a fusão com o gigante mundial de origem francesa Carrefour, num negócio que envolve – a contragosto – outra multinacional do setor: o Casino, também da França.

A negociação, diga-se, não foi concretizada e talvez nunca seja. A própria presidenta da República, Dilma Rousseff, estancou o processo ao não autorizar a entrada do BNDES como financiador e o Casino, sócio do Pão de Açúcar, é categórico ao rejeitar a proposta.

Há pouco mais de três anos, era a vez de dois dos maiores bancos brasileiros reunirem suas operações para criarem o Itaú Unibanco, atualmente o maior banco privado do País e o segundo do ranking, atrás apenas do Banco do Brasil. Numa escala de grandeza menor, mas não menos relevante para o nosso cotidiano, o mesmo “fenômeno”vem ocorrendo com mercadinhos, farmácias, cinemas…

Uma regra básica em Economia explica, com muita simplicidade, o grande prejuízo que a concentração traz para qualquer mercado. Concorrência entre os players de um setor amplia o leque de vantagens para a sociedade. Entendam-se por vantagens preços mais baixos, maior oferta de produtos, melhores condições de pagamento. Ou seja, quanto mais desconcentrado for um setor (ou segmento) maior será o poder de barganha do consumidor/cliente/freguês.

A despeito de qualquer blablabla pseudo econômico sobre a força adquirida pelas companhias brasileiras no mercado internacional após as fusões, desenha-se no Brasil o mercado dominado por cada vez menos (e maiores) empresas em áreas vitais como varejo de alimentos, serviços bancários e transporte aéreo (lembrem de acrescentar o agravante de que vivemos num país continental). Isso sem falar nas operadoras de telefonia, distribuidoras de energia; administradoras de cartões de crédito e outros tantos exemplos.

Arbitragem moral

É papel do Governo regular o grau de concentração de uma economia. No Brasil, essa missão fica com órgãos como o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O primeiro possui natureza técnica; os dois últimos são impelidos, por dever de ofício, a fazer uma arbitragem moral. Nada parecida com a postura recente dos ministros Guido Mantega e Fernando Pimentel que lavaram as mãos ao não se posicionarem sobre a briga Pão de Açúcar e Carrefour contra o Casino.

E nós, consumidores, o que podemos fazer para não sermos prejudicados por interesses alheios? Buscar outras opções de produtos, marcas, fornecedores. Ou, simplesmente, não consumir sempre que isso for possível, lógico! Como a Coluna gosta de frisar, tudo é uma questão de cidadania. E, neste caso específico, para ter uma atitude cidadã, basta responder a uma pergunta ouvida com frequência publicitária ultimamente: “O que faz você feliz?”

Ana Cristina Cavalcante é jornalista, com diploma, que adora Economia, Filosofia, rock inglês e futebol.

Fonte: InvestNE

 
 
 
 
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