Grampos telefônicos flagram cartel na licitação da merenda de SP
As principais fornecedoras de merenda do país montaram um cartel para fraudar a licitação de R$ 200 milhões da Prefeitura de São Paulo para o fornecimento de merenda escolar. A suspeita é do Ministério Público, que analisa telefonemas e diálogos de funcionários do Grupo Geraldo J. Coan grampeados, supostamente, a mando de diretores da própria empresa para monitorar seu quadro de funcionários.
Publicado 20/07/2011 09:41
As escutas clandestinas estavam arquivadas em CDs que foram confiscados na sede da J. Coan, em Tietê (SP), no dia 1.º de julho de 2010, durante batida realizada pela promotoria e pela polícia. Entre 12 de abril e 9 de maio de 2009, foram interceptadas 1.513 ligações.
Algumas gravações teriam sido feitas em 2006, pouco antes da renovação do contrato da merenda escolar com a Prefeitura. As gravações flagraram o então diretor comercial da J. Coan, Bartolomeu Vasconcelos, o Vasco, conversando com uma funcionária, identificada como Sandra. Em um dos trechos o diretor afirma que no dia seguinte iria a São Paulo participar de um encontro.
"Essa reunião em São Paulo é pra tratar da renovação do contrato da merenda de São Paulo", informa Vasco. Ele também comenta sobre problemas com o fornecimento de alimentação da empresa para um Centro de Detenção Provisória (CDP).
Em outra ligação, uma funcionária da SP Alimentação faz contato com a J. Coan em busca do diretor comercial da empresa. Como não o encontra, ela deixa recado: "É sobre uma reunião que nós estamos agendando para amanhã aqui na SP Alimentação, com todas as empresas, e seria muito importante que ele viesse às 10 horas. É as 10 horas, com o senhor Eloízo".
O Ministério Público está convencido de que o "senhor Eloízo" é o empresário Eloízo Durães, proprietário do Grupo SP, maior fornecedor de merenda escolar no país. Nas licitações, a Coan e a SP aparecem como rivais, oferecendo menor preço, mas os grampos indicam que elas atuam em parceria.
Promotores examinam a amplitude das conversas e as revelações nelas contidas acerca de licitações em prefeituras de pelo menos cinco estados: São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Maranhão. Foi aberto procedimento de investigação criminal pelo Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de Sorocaba (SP) para investigar crime de escuta clandestina e violação ao artigo da Lei 9296.
Para a promotoria, a escuta que pegou Vasconcelos comprova a formação de cartel. O contrato da merenda terceirizada da Prefeitura de São Paulo foi fechada no valor de R$ 200 milhões — o que corresponde a 52% do pacote total da merenda.
Conversas já analisadas pelos peritos dão base a relatório compartilhado entre cerca de 30 promotores da força-tarefa contra fraudes em quase todo o país. A suspeita dos promotores é que a direção da Coan contratou arapongas para grampearem funcionários com receio de quebra de confidencialidade e traição comercial. Além dos grampos, cerca de um milhão de documentos foram apreendidos.
Fonte: O Estado de S. Paulo