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Memorial da Resistência apresenta mostra Arpilleras

O Memorial da Resistência de São Paulo apresenta a exposição Arpilleras da resistência política chilena, com 28 trabalhos em tecido, realizados nos anos 1973 e 1980, além de documentos, livros e o vídeo Como alitas de chincol, 2002, que narra a história das arpilleras dentro do contexto político chileno. A mostra será inaugurada no próximo dia 30, a partir das 11h, e fica em cartaz até 30 de outubro.

A arpillera é uma técnica têxtil com raízes numa antiga tradição popular iniciada por um grupo de bordadeiras de Isla Negra, região localizada no litoral chileno. Neste trabalho, retalhos e sobras de tecidos são bordados sobre sacos de batatas ou de farinhas. Seguindo a técnica das arpilleras originais, as peças apresentadas nesta exposição foram criadas em oficinas e montadas em suporte de aniagem, pano rústico proveniente de sacos de farinha ou batata, que geralmente são fabricados em cânhamo ou linho grosso.

Como forma de registrar a vida cotidiana das comunidades e de afirmar sua identidade, as arpilleras se converteram em um meio de expressão tanto individual como coletivo, e em uma fonte de sobrevivência em tempos adversos. Muitas arpilleras fazem referência aos valores da comunidade e aos problemas políticos e sociais enfrentados e se tornaram uma forma de comunicação, tanto no próprio país como fora dele, sobre o que estava acontecendo.

Além das próprias cenas de denúncias, muitas arpilleras tinham pequenos bolsos no verso que serviam para o envio de bilhetes. “As arpilleras mostravam o que realmente estava acontecendo nas suas vidas, constituindo expressões da tenacidade e da força com que elas levavam adiante a luta pela verdade e pel a justiça. Além disso, cada uma destas obras pôde quebrar o código de silêncio imposto pela situação então vivida no país. Hoje, são testemunho vivo e presente, e uma contribuição à memória histórica do Chile”, afirma Roberta Bacic, curadora da exposição.

Em uma das arpilleras exposta, Corte de água, 1980, nota-se homens e mulheres segurando baldes. Trata-se de uma resposta do povo para aqueles que cortavam o fornecimento de água potável para marginalizá-los, e também para impedir que saíssem para protestar. Em resposta, a população foi com seus baldes até os bairros de classe média para pedir água.

Ao concluir a tarefa, a água era levada aos vizinhos em barris, e distribuída de forma organizada. A cena vibrante e colorida ressalta o sentido de comunidade e a força política e social que atitudes como essas davam às mulheres dos povoados.

Já em Paz, justiça, liberdade, 1970, são exibidas formas, técnicas e desenhos típicos da época. Retalhos variados expressam uma ação de protesto não violento num subúrbio de Santiago. A Cordilheira dos Andes, o sol e o uso de personagens tridimensionais também são comuns nas arpilleras desse período.
 
A Cordilheira é um elemento de referência e identidade, e o sol nos lembra que ele brilha para todos, sem distinção. Uma viatura da polícia é incorporada à cena, ocupando um espaço no dia a dia sem intimidar os personagens.

Arpilleras da resistência política chilena já foi apresentada em diversos países como Espanha, Japão, Irlanda do Norte, entre outros. Tem curadoria da chilena Roberta Bacic Herzfeld, pesquisadora e encarregada de Programas e Desenvolvimento da Internacional de Resistentes de Guerra . Na abertura da mostra, Roberta Bacic fará uma visita guiada.
 
Além de ouvir dela o significado das peças, o trabalho social e político feito com as mesmas e como se deu o seu trabalho de recolhê-las, os visitantes também assistirão a apresentação de dança folclórica chilena relacionada com o tema dos desaparecidos políticos