Negros e mulheres são minoria dos transplantados no Brasil

As informações levantadas pelo estudo "Desigualdade de Transplantes de Órgãos no Brasil: Análise do Perfil dos Receptores por Sexo, Raça ou Cor", realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), foram apresentadas na abertura da audiência pública “A População Negra e a Política de Transplante de Órgãos e Doação de Medula Óssea”, realizada nesta quinta-feira (28/07), no auditório do Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador.

O evento, promovido pela Ouvidoria da Câmara, em parceria com o Grupo de Apoio à Criança com Câncer (GACC), teve como objetivo, segundo a ouvidora-geral da Casa Legislativa, vereadora Olívia Santana, a conscientização e o esclarecimento da comunidade negra baiana sobre a doação de órgãos e medula óssea. “Fui procurada pelo GACC para encampar esta luta e em seguida tomei conhecimento da pesquisa do Ipea, através do Portal Vermelho. Entendi que a melhor maneira de agir seria convidando os órgãos envolvidos com o assunto para debater com representantes da população negra os resultados desta pesquisa”, declarou Olívia.

O economista Alexandre Marinho, da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, apresentou os dados do estudo ressaltando o equilíbrio encontrado entre homens, mulheres, brancos e negros, quando o assunto é a necessidade de receber um transplante. Segundo ele, quando esta análise é feita sobre os transplantados o quadro se altera. “Para que o paciente receba um transplante ele precisa passar por uma fase pré-transplante, onde uma alimentação balanceada, exames médicos em dia e uma série de outros fatores são determinantes”, explica. Para ele, as condições socioeconômicas impostas aos negros, determinam os números encontrados na pesquisa.

O estudo mostra que a maioria dos transplantados de órgãos é constituída de homens da cor branca. De cada quatro receptores de coração, três são homens, e 56% dos transplantados tem a cor de pele branca. No caso de transplantes de pâncreas, 93% dos beneficiados são brancos. Dos receptores de fígado, 63% são homens e 80% brancos. Entre os receptores de pulmão, 65% são homens e 77% pessoas brancas, No transplante de fígado, 63% dos receptores são homens e em cada dez transplantes, oito são para pessoas brancas. A pesquisa analisou dados de 1995 a 2004, fornecidos pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).

Olívia apresentou como principal deliberação da audiência o encaminhamento formal, ao Instituto Nacional do Câncer (Inca), de uma solicitação para que os dados genéticos dos doadores que compõem o Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea (Redome) sejam disponibilizados aos hemocentros de todo o país. A vereadora se comprometeu ainda, a marcar audiências com os secretários estadual e municipal de Saúde, para discutir a realização de uma campanha de doação com enfoque na população negra. “Precisamos saber qual o perfil genético dos doadores, para que possamos realizar campanhas voltadas para os grupos sub-representados no Redome. Além disso, precisamos pensar políticas públicas voltadas para os transplantados, visando garantir uma maior sobrevida para estes pacientes”, concluiu.

Fonte: Ascom da Ouvidoria da Câmara de Vereadores de Salvador