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Reestruturação dos Correios divide opiniões em debate na Câmara

Os empregados dos Correios encheram a sala da audiência realizada nesta quarta-feira (3), na Câmara dos Deputados, para discutir a Medida Provisória que reestrutura a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). Os trabalhadores se queixam de não terem sido ouvidos na elaboração da proposta e acusa o governo de querer privatizar o serviço postal do país. O presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, disse que a MP vai garantir a modernização da empresa e não haverá prejuízo para os trabalhadores.

Reestruturação dos Correios divide opiniões em debate na Câmara - Google Imagem

O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Correios, destacou que a ECT é uma das empresas estrategicamente mais importantes do país, do ponto de vista da integração nacional, por isso, merece atenção redobrada por parte do parlamento e da sociedade organizada.

E explicou que o objetivo do encontro, promovido pela Comissão de Trabalho e a Frente Parlamentar, é por em debate as causas e consequências da implementação do plano, tendo em vistas a preservação dos direitos dos trabalhadores ecetistas.

O parlamentar comunista defende que a estatal seja conduzida de forma que garanta a continuidade do caráter 100% público, moderno, e sem prejuízo para os trabalhadores. “Nosso papel é defender os Correios e seus trabalhadores das investidas de alguns setores de comunicação, que têm feito pressão, por exemplo, pela quebra do monopólio", explica o parlamentar.

Os deputados que apoiam a posição dos trabalhadores, como o deputado Chico Lopes (PCdoB-CE), foram aplaudidos e incentivados pelos “ecetistas”, enquanto os parlamentares favoráveis a aprovação da MP, como o deputado Sílvio Costa (PTB-PE), receberam vaias. Houve um início de tumulto com troca de insultos entre o parlamentar e os trabalhadores.

O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), que procurou defender a MP, dizendo que, ao contrário do que fizera o governo de Fernando Henrique Cardos, que privatizou o serviço de telefonia do País, a MP de reestruturação dos Correios, “traz a marca de modernização sem o entreguismo”. Os trabalhadores responderam em uníssono: “É a privatização de esquerda”.

Modelo adequado

O secretário-geral da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares, José Rivaldo da Silva, ressaltou que os trabalhadores dos Correios não são contra a modernização da empresa, mas que queriam discutir com o governo qual o modelo adequado. Segundo ele, a proposta pode ser excelente para o governo, mas para os trabalhadores não está claro quais os benefícios.

“Não somos contra a modernidade, queremos empresa forte, que dobre suas receita porque teremos emprego garantido, mas queremos debater. Não podemos aceitar pacote pronto, queremos discutir na ótica dos trabalhadores”, disse Rivaldo.

A fala dele foi acompanhado pelo presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap), Luiz Alberto Barreto, que disse ser inadmissível que um governo popular exclua os trabalhadores das discussões. Ele rebateu o argumento do governo de que a restrutruação dos Correios busca adequar a empresa a outras estatais como Petrobras, Banco do Brasil e caixa Econômica.

“O discurso é distante da prática”, disse, citando o exemplo da Caixa Econômica, que só pode contratar 12 pessoas de fora para assessoria na empresa, enquanto na MP dos Correios não há limite para esse número. “Tem quer ter limite entre modernidade e as ameaças aos direitos dos trabalhadores”, avaliou.

Os representantes dos trabalhadores disseram que são contrário à MP e que sabem que o governo tem maioria na Câmara dos Deputados, mas que querem manter diálogo com os parlamentares para discutirem o modelo de modernização dos Correios.

“Queremos uma empresa lucrativa, mas também temos preocupação também com o papel social, que seja 100% público e estatal, para garantir um Brasil forte, por isso estamos aqui e precisamos da compreensão dos parlamentares para entender que os Correios são patrimônio do povo”, afirmou Rivaldo.

Alterações necessárias

O presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Wagner Pinheiro, fez apresentação da proposta de modernização dos Correios, dizendo que a aprovação da matéria vai garantir ferramentas que serão implementadas para ampliar o atendimento e garantir qualidade dos serviços.

A MP, que propõe a modernização da estatal, amplia a atuação dos Correios e autoriza a ECT operar no exterior, comprar empresas ou deter participação acionária em outras companhias, criar subsidiárias e operar serviços de logística integrada, financeiros e postais eletrônicos. Na prática, os Correios poderão, por exemplo, criar um banco, fundar companhia aérea de transporte de cargas, habilitar aparelhos de celular e oferecer serviços de internet.

As alterações, segundo exposição de motivos apresentada pelo governo, são necessárias para adequar a ECT ao modelo de comunicação atual e, consequentemente, evitar perda de receitas.

De Brasília
Márcia Xavier