Marcha a ré: economistas veem risco elevado de recessão nos EUA
O suposto vigor da recuperação norte-americana parece estar diminuindo, à medida que consumidores e o governo cortam seus gastos. É o que dizem cinco de nove economistas da comissão acadêmica responsável pela datação das recessões nos Estados Unidos.
Publicado 04/08/2011 11:18
"Essa economia está realmente em equilíbrio precário", opina Martin Feldstein, professor de economia da Harvard University e membro da comissão de datação dos ciclos econômicos do Birô Nacional de Pesquisas Econômicas (NBER, na sigla em inglês). "Existe agora uma chance de 50% de que poderemos entrar novamente em recessão. Nada nos deu muito crescimento."
Uma desaceleração maior do que a esperada no primeiro semestre de 2011 cria riscos para a maior economia do mundo, disse o economista Robert Hall, da Universidade Stanford, presidente da comissão. O PIB cresceu a uma taxa anual de 1,3% de abril a junho, após um avanço de 0,4% no trimestre anterior, inferior à estimada, é o que mostraram números do Departamento de Comércio em 29 de julho.
"Quanto mais lenta a taxa de crescimento, maior a probabilidade de que um choque adverso possa deflagrar uma recessão", disse Hall. Embora não seja missão da comissão prever a probabilidade de uma recessão, cada membro pode fazer suas próprias previsões. A comissão levou mais de um ano para determinar que a mais profunda contração desde os anos 1930 terminou em junho de 2009 – uma conclusão a que chegou em setembro de 2010.
O PIB encolheu 5,1% do quarto trimestre de 2007 ao segundo trimestre de 2009, em comparação com a queda anteriormente reportada de 4,1%, segundo divulgou o Departamento de Comércio na semana passada. A segunda pior contração no pós-Segunda Guerra Mundial foi um declínio de 3,7% em 1957-58.
"Os riscos de mais uma recessão cresceram, em comparação com onde estávamos seis meses atrás", disse Christina Romer, ex-presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca e professora da Universidade da Califórnia, Berkeley. Ela, porém, previu um crescimento, "anêmico, mas positivo".
Membros da comissão citaram o esfriamento da confiança nos setores de habitação, emprego e negócios e esforços para reduzir o endividamento por parte dos consumidores e do governo como obstáculos ao crescimento. Quatro acadêmicos na comissão negaram-se a sugerir as chances de uma recessão ou não responderam a pedidos de comentários.
Os gastos dos consumidores caíram inesperadamente, em junho, pela primeira vez em quase dois anos, ao passo que a taxa de poupança cresceu, é o que revelaram números do Departamento de Comércio, em Washington. "O consumo está baixo porque o pagamento de dívidas está espremendo os gastos, mesmo tanto tempo após a crise", disse Hall. "Será um processo doloroso, até que consumidores dependentes de crédito fiquem de novo em pé."
Os fabricantes estão contendo sua produção em resposta à fraca demanda do consumidor. A atividade industrial nos EUA quase parou em julho, segundo um relatório do Institute for Supply Management (ISM) de 1º de agosto. A taxa de desemprego provavelmente permaneceu em 9,2%, em julho (o Departamento de Trabalho divulga o dado nesta sexta). Até junho, a economia recuperou cerca de 1,77 milhão de 8,75 milhões de postos de trabalho perdidos em consequência da recessão que começou em dezembro de 2007 e que durou 18 meses.
"Estamos certamente numa situação mais vulnerável agora", e um novo choque pode causar uma crise semelhante à contração ocorrida na esteira da disparada do petróleo após a invasão do Kuwait pelo Iraque, em 1990, disse James Stock, economista de Harvard e membro da comissão do NBER. "Olhando a situação mundial, é certamente possível imaginar choques da magnitude do caso do Kuwait que nos empurrem para o precipício".
A confiança dos empresários foi abalada pelo impasse político, que durou meses, sobre o teto de endividamento, disse Stock. O presidente Barack Obama assinou nesta quarta-feira (3) um acordo, incorporando mútuas concessões (de republicanos e de democratas) sobre o limite de endividamento, evitando um default norte-americano. A medida eleva o teto de dívida do país até 2013 e incorpora ameaças de cortes automáticos de despesas, para impor US$ 2,4 trilhões em redução de gastos nos próximos dez anos.
Robert Gordon, membro da comissão e professor na Northwestern University (e que não estimou a chance de recessão), e Feldstein concordaram que a "ressaca" da bolha no mercado habitacional continua a assolar a economia. "Há um vasto excedente de oferta habitacional que esmagou qualquer chance de recuperação na construção residencial", disse Gordon.
Esta é a realidade do capitalismo dos nossos dias: recessão, crise financeira, desemprego, guerras. E pensar que, há bem pouco tempo, os que previam este cenário eram quase escorraçados do debate político, indexados como "dogmáticos" e "catastrofistas". O tema precisa ser levado aos trabalhadores, a fim de despertar sua consciência e luta contra um sistema iníquo e incapaz de promover o desenvolvimento com equilíbrio social.
Da Redação, com informações da Bloomberg