Seminário da UBM reúne cerca de 150 pessoas em PE

Cerca de 150 pessoas, entre homens e mulheres, ocuparam o auditório da Associação Médica de Pernambuco, na Praça Oswaldo Cruz, na Boa Vista, no Recife, durante toda a sexta-feira (19) para debater o tema gênero, mídia e violência. No encontro promovido pela UBM – União Brasileira de Mulheres de Pernambuco, seis palestrantes se revezaram.

Pela manhã, a mesa teve a coordenação de Glauce Medeiros, coordenadora da UBM/PE, e contou como debatedoras a delegada Lenise Valetim, do Departamento de Polícia da Mulher da Polícia Civil do Est ado; Doris Margareth de Jesus, membro da UBM e coordenadora nacional do projeto O Protagonismo das Mulheres e a Democratização da Mídia; e a secretária estadual da Mulher, Cristina Buarque, que conduziram a discussão do tema Gênero e Violência.

À tarde, as pesquisadoras Patrícia Bandeira de Melo, da Fundaj, e Sandra Raquel Azevêdo, Universidade Federal de Campina Grande; bem como a professora de jornalismo Ana Veloso, da Unicap, abordaram o tema Gênero e Mídia, tendo como subtemas A mídia como propagadora de valores e reprodutora do status quo; A notícia da violência contra a mulher e Formas de violência simbólica e as mulheres como protagonistas do controle social sobre a mídia. A mesa de debate foi coordenada por Inamara Mélo, da direção da UBM/PE.

Gênero e Violência


A violência de gênero foi o tema central das intervenções da delegada Lenise Valetim e da secretária estadual da Mulher, Cristina Buarque, e da integrante da UBM nacional, Doris Margareth, que abordaram os subtemas A Lei Maria da Penha, seu significado e efetividade e Relações de gênero e violência: reproduzir ou reconhecer e resistir.

A delegada Lenise Valetim afirmou acreditarque a mídia está sendo aliada da Polícia na divulgação da violação de direitos humanos. “A imprensa divulga retratos falados e dessa forma tem nos ajudado. Porém, quando falamos sobre capacitação de policiais e melhora nos números de ocorrências, os jornalistas não querem ouvir a outra parte”, disse. Ela chamou atenção para a diferença entre o que motiva a violência contra a mulher e o que motiva a violência urbana e destacou o Pacto pela Vida lançado pelo Governo do Estado em 2007.

Em sua palestra, a secretária Cristina Buarque Cristina Buarque levantou questionamentos acerca do encaminhamento da luta com a mídia, que reproduz uma imagem da mulher de forma estereotipada em programas de TV e em matérias sensacionalistas de jornais impressos e revistas. “Temos profissionais excelentes. Mas seja na mídia falada ou escrita nos reproduzem como burras. E essa imagem não está dissociada da sociedade”.

Para a secretária o avanço nessas questões passa pelo respeito ao protagonismo das mulheres e a criação de instrumentos de controle social, como, por exemplo, um observatório de mídia. Ela ressaltoua necessidade de o movimento de mulheres não perder a perspectiva de que a desigualdade fere a democracia. Cristina Buarque comentou também os avanços trazidos pela Lei Maria da Penha e historiou as ações do Governo de Pernambuco para as mulheres. Ela anunciou ainda a instalação de mais seis juizados especiais da mulher.

As debatedoras abordaram também aspectos do sistema prisional feminino, dados estatísticos da violência, formas de intervir nos meios de comunicação e a produção e execução de músicas que denigrem a imagem da mulher. “Compreender tudo isso é um desafio muito grande. Há juízes que acreditam que o mundo é masculino e deve permanecer dessa forma”, afirmou a coordenadora nacional da UBM, Doris Margareth, citando como exemplo o juiz Edilson Rumbelsperger Rodrigues, de Minas Gerais, que se negou a aplicar a Lei Maria da Penha.

Em uma das decisões, em 2007, o magistrado teria citado que “a desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher”. Em outro trecho do despacho, Rodrigues teria afirmado ser a Lei Maria da Penha uma “heresia manifesta” e “uma ameaça à família”.

Gênero e Mídia


Como a mídia trata a questão de gênero no Brasil e no mundo? Para a jornalista Ana Veloso, a mídia trata a questão de gênero sob a mesma abordagem patriarcal e machista da sociedade. “Os meios de comunicação estão concentrados nas mãos de poucas empresas, que por sua vez são dirigidas por homens brancos, ricos e heterossexuais”, disse, reforçando que “o poder simbólico da mídia está ancorado no machismo, patriarcalismo, capitalismo, fundamentalismo e na articulação entre classe, raça e gênero”.

Ela destacou também o espaço ocupado hoje pelas facções religiosas nos meios de comunicação. “A aliança entre o capital, o poder político e a fé é altamente desfavorável para as mulheres, as quais, quando não são mercantilizadas são satanizadas e tratadas como responsáveis pela violência que venham a sofrer”, disse a professora.

Ana Veloso lembrou ainda a situação das mulheres nos espaços de poder das empresas do setor. “Estudos recentes realizados em 130 países do mundo apontam que as mulheres ocupam apenas 3% dos cargos de direção das redações; escrevem menos 25% dos artigos de opinião publicados e constituem apenas 24% das fontes de informações onde aparecem como porta-vozes. Estamos subrepresentadas”, ressaltou.

A professora traçou a cronologia do movimento de auto-organização das mulheres nas décadas de 1960/1970, lembrando que a discussão sobre o papel da mídia no trato das questões de gênero ganhou fôlego em 1995, a partir da Conferência de Beijin. Ela também destacou a participação das mulheres na luta pela democratização dos meios de comunicação iniciada em 2000, bem como a realização da I Confecom em 2009. “As mulheres querem ser sujeitos políticos na discussão da democratização dos meios e no controle social da comunicação”, afirmou.

Dentro do tema Gênero e Mídia, as pesquisadoras Patrícia Bandeira de Melo, da Fundaj e Sandra Raquel Azevêdo, da UFCG, abordaram os subtemas A mídia como propagadora de valores e reprodutora do status quo e A notícia da violência contra a mulher, respectivamente.

Fonte: Site de Luciano Siqueira