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A música refinada de Edu Lobo nos representa tão bem

O compositor carioca mostra sua multiplicidade criativa, ao misturar o erudito com o popular. Neste dia 29, Edu completa 68 anos de vida e 49 de carreira, com muito a comemorar.

Por Marcos Aurélio Ruy

Iniciou ao violão com o amigo de infância Theo Barros, parceiro de Geraldo Vandré em “Disparada”. Filho do cantor Fernando Lobo, cedo Edu teve contato com importantes personalidades da música popular brasileira. Inicialmente com Vinicius de Moraes, com quem compôs “Só Me Fez Bem”, em 1962. Iniciou sua trajetória marcada, como todos de sua geração, pela novidade da bossa nova. Com um trabalho intimista, aproximou-se de João Gilberto, Sergio Mendes e Luís Eça, do Tamba Trio.

Cursou Direito até o terceiro ano, mas largou pela música. E sob influência, entretanto, de Sérgio Ricardo – aquele que quebrou o violão, sob vaias, e atirou ao público -, João do Vale, Carlos Lyra e Ruy Guerra – seu parceiro em inúmeras canções voltou-se para a cultura popular com objetivo de falar das coisas do Brasil e protestar contra a ditadura. Mas sua maior influência, reconhecida por ele mesmo, foi Tom Jobim, com quem gravou um disco em 1981. E se Tom tivesse algum substituto esse seria Edu Lobo.

Edu Lobo participou dos festivais, muito em voga nos anos 1960 vencendo o da TV Excelsior em 1965 com a música “Arrastão”, parceria com Vinicius de Moraes e interpretada por Elis Regina. Em 1967 volta a vencer desta vez na Record, concorrendo com Chico Buarque (terceiro colocado), Gilberto Gil (segundo) e Caetano Veloso (quarto), com a canção Ponteio, parceria com o poeta Capinam, interpretada por Marília Medalha.

Parte para a feitura de trilhas sonoras de peças teatrais e filmes. Musica a peça “Arena Conta Zumbi”, de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, em 1965, do Teatro Arena, em São Paulo. Essa peça marcaria definitivamente sua carreira de compositor voltado para a alma do brasileiro.

Daí para frente teve inúmeras parcerias com Chico Buarque – talvez a principal parceria da MPB -, na qual produziu “O Grande Circo Místico”, “O Corsário do Rei” e “Cambio”, Seu disco mais recente, de 2010, é “Tantas Marés”, parcerias com Paulo César Pinheiro. Também responsável pela trilha sonora do programa infantil “Rá-Tim-Bum”, da TV Cultura de São Paulo, em 1989.

O trabalho de Edu Lobo enaltece a cultura brasileira em todos os sentidos, sua música transpira por todos os poros e nos leva a reflexões sobre o país que queremos legar às gerações futuras. Por tudo o que produziu até hoje Edu já faz parte da história da MPB e é presença obrigatória na discografia de qualquer um que goste de nossa música e valorize a nossa cultura. Parabéns pelo seu aniversário e muitos anos de vida na produção de obras tão importantes que atingem corações e mentes dos brasileiros.

Abaixo alguns clipes de sua obra:

Arrastão (com Vinicius de Moraes, 1965)

Eh! tem jangada no mar
Hei! hei! hei!
Hoje tem arrastão
Eh! todo mundo pescar
Chega de sombra João…
Jovi, olha o arrastão
Entrando no mar sem fim
Eh! meu irmão me traz
Yemanjá prá mim…
Minha Santa Bárbara
Me abençoai
Quero me casar
Com Janaína..
Eh! puxa bem devagar
Hei! hei! hei!
Já vem vindo o arrastão
Eh! é a Rainha do Mar
Vem!
Vem na rêde João
Prá mim!…
Valha-me Deus
Nosso Senhor do Bonfim
Nunca jamais se viu
Tanto peixe assim…
Minha Santa Bárbara
Me abençoai
Quero me casar
Com Janaína..
Eh! puxa bem devagar
Hei! hei! hei!
Já vem vindo o arrastão
Eh! é a Rainha do Mar
Vem!
Vem na rêde João
Prá mim!…

Valha-me Deus
Nosso Senhor do Bonfim
Nunca jamais se viu
Tanto peixe assim…

Ponteio (com Capinam, 1967)

Era um, era dois, era cem
Era o mundo chegando e ninguém
Que soubesse que eu sou violeiro
Que me desse o amor ou dinheiro…
Era um, era dois, era cem
Vieram prá me perguntar:
"Ô voce, de onde vai
de onde vem?
Diga logo o que tem
Prá contar"…
Parado no meio do mundo
Senti chegar meu momento
Olhei pro mundo e nem via
Nem sombra, nem sol
Nem vento…
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar…
Prá cantar!
Era um dia, era claro
Quase meio
Era um canto falado
Sem ponteio
Violência, viola
Violeiro
Era morte redor
Mundo inteiro…
Era um dia, era claro
Quase meio
Tinha um que jurou
Me quebrar
Mas não lembro de dor
Nem receio
Só sabia das ondas do mar…
Jogaram a viola no mundo
Mas fui lá no fundo buscar
Se eu tomo a viola
Ponteio!
Meu canto não posso parar
Não!…
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar, prá cantar
Ponteio!…
Pontiarrrrrrrr!
Era um, era dois, era cem
Era um dia, era claro
Quase meio
Encerrar meu cantar
Já convém
Prometendo um novo ponteio
Certo dia que sei
Por inteiro
Eu espero não vá demorar
Esse dia estou certo que vem
Digo logo o que vim
Prá buscar
Correndo no meio do mundo
Não deixo a viola de lado
Vou ver o tempo mudado
E um novo lugar prá cantar…
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar
Ponteio!…
Lá, láia, láia, láia…
Lá, láia, láia, láia…
Lá, láia, láia, láia…
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar
Ponteio!…
Prá cantar
Pontiaaaaarrr!…
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá Cantar!