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Luciano Martins: A mídia e o ditador da CBF

Nos jornais de sexta-feira (26), a política faz uma incursão no futebol: segundo o caderno “Esporte” da Folha de S.Paulo, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, usou o técnico da seleção, Mano Menezes, para se aproximar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi num jantar em São Paulo, na quarta-feira (24), quando Lula foi convidado a visitar os jogadores na concentração antes da primeira partida amistosa contra a Argentina, marcada para o dia 14 de setembro.

A notícia seria mais um desses registros de relações-públicas, não fosse o contexto em que se dá o encontro.

Segundo notícias esparsas publicadas principalmente por blogs de jornalismo esportivo, o governo federal vem pressionando a CBF, e especificamente seu eterno presidente, Ricardo Teixeira, por causa de suspeitas em relação a obras para a Copa do Mundo de 2014. Como se sabe, Teixeira nomeou a própria filha, Joana, para um cargo de comando no Comitê Organizador da Copa.

O Estado de S.Paulo já chegou a publicar que ele estaria preparando a filha para sucedê-lo na presidência da CBF após 2014.

Longo reinado

Também correm notícias, segundo lembra a edição de sexta-feira (26) da Folha, de que têm havido desentendimentos entre o todopoderoso comandante do futebol brasileiro e o governo federal – o jornal paulista cita dificuldades no relacionamento dele com a presidente Dilma Rousseff e com o ministro do Esporte, Orlando Silva.

Não seria difícil imaginar os efeitos de uma “faxina” – dessas que a imprensa defende nos ministérios – em cima da CBF e de Ricardo Teixeira.

Claro que, sendo a entidade esportiva uma instituição privada, não seria possível uma ação direta como a que determinou o afastamento recente de ministros e assessores importantes do governo. Mas os contratos para a organização da Copa permitem uma série de controles, contra os quais Ricardo Teixeira está tratando de se proteger.

O problema é que o longo reinado do presidente da CBF também acabou gerando distorções na sua relação com a mídia, principalmente no que se refere aos direitos de transmissão dos campeonatos oficiais.

O povo nas ruas?

A relação privilegiada da CBF com a mídia quer dizer, exatamente, a parceria que mantém há mais de dez anos com a Rede Globo –que, além da exclusividade para transmitir os jogos nos horários que mais convêm à sua grade de programação, sempre teve privilégios de acesso à seleção brasileira de futebol.

Pois esse casamento pode estar chegando ao fim: no dia 13 de julho passado, pela primeira vez em uma década de boas relações, período em que ignorou todos os malfeitos da Confederação Brasileira de Futebol, a TV Globo dedicou mais de três minutos do Jornal Nacional a uma reportagem sobre ligações entre Ricardo Teixeira e o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, em irregularidades na organização de uma partida amistosa da seleção ocorrida em 2008.

Um mês antes, a revista Piauí havia publicado entrevista de Teixeira, na qual o todopoderoso chefe da CBF dizia não temer a imprensa, e que só começaria a se preocupar se o Jornal Nacional o atacasse.

Nesse intervalo, as Organizações Globo divulgaram sua carta de “princípios editoriais”, na qual se afirmava que não haveria assuntos tabus para seus veículos de comunicação.

A julgar por alguns acontecimentos recentes no mundo futebolístico, a ruptura é para valer e acontece dos dois lados: na última semana, a CBF anunciou mudanças repentinas em horários de jogos do Campeonato Brasileiro. Em vez do horário das 21h50, imposto pela Globo para não atrapalhar a audiência de suas novelas, algumas partidas foram marcadas para as 18 h.

Segundo o blog do jornalista Altamiro Borges, citado pela agência Adnews, trata-se de uma retaliação de Teixeira contra a Rede Globo, por conta da reportagem do Jornal Nacional.

Entre as partidas com horário alterado estão o confronto do returno entre o Corinthians e o Grêmio de Porto Alegre, jogo de grande audiência, marcado para o próximo dia 31/8, e São Paulo versus Atlético Mineiro, dia 8 de setembro.

Pode ser o começo do fim para Ricardo Teixeira. Como se trata de futebol, é muito possível que, com pouco esforço, a Rede Globo consiga mobilizar a população para derrubar o ditador da CBF.

Fonte: Adnews/ Observatório da Imprensa