Precariedade do bonde sempre foi denunciada pelos moradores

O acidente com o bondinho em Santa Teresa, no dia 27, que resultou na morte de cinco pessoas e 57 feridos, é uma tragédia há muito tempo denunciada pelos moradores do local e os condutores.

O bonde, apesar de tombado pelo patrimônio cultural desde 1988, é a parte esquecida pelo governo do estado – responsável pelo seu funcionamento – a partir da privatização do sistema ferroviário nos anos 90. Desde essa época, o bonde passa por um processo de desmonte, que só não foi completo pela atuação dos moradores do local.

O tombamento é parte de uma reação dos moradores ao processo de "extinção" dos bondes, que compõe o lado cultural da cidade e um importante meio de transporte dos que ali residem e dos turistas, além de ser acessível pelo baixo preço da passagem (R$ 0,60) e de não danificar as ruas. Santa Teresa é um local de acesso mais difícil – íngreme – com ruas estreitas, onde ônibus maiores não conseguem passar, principalmente quando os veículos se encontram.

A Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast) ganhou em 2008, depois confirmada no ano seguinte, uma liminar ordenando a recuperação completa do sistema, conforme Plano Estadual de Transportes, incluindo a devolução dos 14 bondes tradicionais, recuperação das estações, cabos aéreos, via permanente de trilhos e gradil sobre os arcos da Lapa. As medidas nunca foram cumpridas pelo governo do estado, assim como o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro nunca pediu à justiça a execução da multa ou as providências necessárias para que a decisão fosse cumprida.

Morador do bairro, Alexandre Santini foi surpreendido quando voltava para casa no dia 26. Chegou pouco tempo depois, já com as pessoas presas nas ferragens do bonde. O acidente aconteceu em frente a sua casa. Ele conseguiu ajudar alguns feridos, entre elas uma criança de oito anos que estava com a família. Todos foram encaminhados para o hospital. Segundo ele, os moradores ainda estão chocados com a situação.

Santini acredita que o acidente foi causado pela falta de atenção do governo do estado, que não cuida da manutenção do transporte, na verdade preparando a privatização ou a extinção do bonde em Santa Teresa.

Sindicato vai acompanhar o caso

O Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil decidiu, em assembleia no dia 29, criar uma comissão para acompanhar as perícias e o inquérito policial sobre o acidente. Os trabalhadores disseram ainda vão pedir novamente uma revisão nos bondes. Segundo a entidade, este ano pelo menos 120 funcionários foram demitidos pela Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (Central), e cerca de 200 devem perder o emprego em breve.

O Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) fara nova perícia complementar. O Crea-RJ também mandou especialistas para acompanhar o caso. Uma das coisas que mais chamou a atenção dos peritos do ICCE e de membros do Crea-RJ é que o bondinho estava com um arame substituindo um parafuso acima da roda traseira esquerda.

O governador Sérgio Cabral emitiu nota lamentando o acidente. Disse que o transporte ficará interrompido e a Secretaria de Transportes conduzirá plano de modernização dos bondes.