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Em entrevista, Vanessa Grazziotin faz balanço de mandato

Estreante no Senado, após três mandatos de deputada federal pelo Amazonas, Vanessa Grazziotin parece ter passado na “prova de fogo” nos primeiros oito meses de mandato como senadora, principalmente com relação a comparações à atuação do adversário político direto dela, o ex-senador Arthur Virgilio Neto, derrotado nas eleições de 2010.

Vanessa Grazziotin

Afirmando ser indiferente ao “lamento saudosista” do tucano, Vanessa foi à luta e, logo na estreia, emplacou uma vaga na Mesa Diretora do Senado. No embate político, mostrou força quando reagiu de forma virulenta contra as críticas do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) à bancada do Amazonas, e demonstrou maturidade ao falar moderadamente no episódio em que o senador Alfredo Nascimento (PR-AM), adversário nas últimas eleições, “caiu em desgraça” no Ministério dos Transportes.

Confira entrevista, concedida ao jornal A Crítica, da senadora Vanessa Grazziotin, onde contesta a acusação de subserviência ao governo da presidente Dilma Rousseff dizendo romper com a base aliada se medidas ferirem a Zona Franca de Manaus e o estado do Amazonas. Negou ser candidata à prefeitura de Manaus, mas deixou claro que se o grupo político ao qual pertence, comandado pelo governador Omar Aziz e o senador Eduardo Braga, apoiar a reeleição do prefeito Amazonino Mendes, estará fora.

A Crítica: O que o PCdoB fará se o grupo político ao qual a senhora pertence, comandado pelo governador Omar Aziz e o senador Eduardo Braga, embarcar na reeleição do prefeito Amazonino Mendes?
Vanessa Grazziotin: Tem uma coisa que está decidida: nós não vamos apoiar a reeleição do Amazonino. Eu, como senadora, tenho um relacionamento de respeito com o prefeito, tenho falado com ele em várias oportunidades e colocado o meu mandato à disposição da cidade de Manaus e tudo que eu puder fazer eu farei. Agora, há uma decisão do meu partido em não apoiar a reeleição dele. Se o grupo político ao qual pertenço decidir apoiá-lo, estou fora. O cenário de Manaus pode ter uma pulverização muito grande se cada partido lançar um candidato e se o prefeito sair para reeleição. Essa, aliás, é a tendência.

A Crítica: Como a senhora analisa a situação do senador Alfredo Nascimento?
VG: Tudo o que eu disser vai parecer represália a tudo aquilo que a gente vivenciou no período eleitoral. Então eu prefiro não me manifestar de forma mais contundente principalmente em relação a questões que nem eu mesmo conheço. O caminho é esse. Ele pediu afastamento e as investigações para responder a uma das acusações. Se ele tem segurança de que não fez nada que pudesse comprometer sua conduta ética, não tem problema nenhum. Sinceramente, espero que ele tenha capacidade de responder a todas as acusações.

A Crítica: A crise instalada nos primeiros oito meses do governo Dilma, culminando com a demissão de quatro ministros e quase uma centena de funcionários, demonstra fraqueza da presidente?
VG: Não podemos avaliar o governo a partir dessa ótica. O governo tem que ser avaliado por meio dos indicadores que vêm sendo colhidos a partir de uma política que vem sendo aplicada corretamente e continuada; indicadores positivos como mais de 40 milhões, e não mais 30 milhões, de brasileiros que ascenderam à classe média; a economia controlada. A presidente Dilma está construindo um cenário capaz de abrir portas e janelas para as mudanças mais profundas com que ela se comprometeu.

A Crítica: As ações foram bem recebidas pela população. Parece que a presidente não vai deixar que manchem o governo dela…
VG: De jeito nenhum. E isso é muito importante. Quem tiver problemas dá licença, abra caminho. Cada um responde pelo seu CPF.

A Crítica: O governo da presidente Dilma é inimigo da Zona Franca de Manaus?
VG: Pelo contrário. No mês passado, a nossa bancada do PCdoB e demais partidos aliados, no Senado, almoçamos com a presidente e ela deixou claro que não tem nenhum interesse em nos prejudicar. Ela disse que aquele bilhete que escreveu para o governador Omar Aziz era para circular mesmo, pois tinha o objetivo de deixar claro que o governo não vai levar prejuízo ao Polo Industrial de Manaus. Ela citou como exemplo o modelo ZEM como uma política de desenvolvimento regional que tem ajudado muito na preservação ambiental.

A Crítica: Por que, então, a bancada do Amazonas deixou passar a MP 517 que atingia a Zona Franca de Manaus?
VG: Aquela medida provisória, que dava incentivos fiscais a modems e roteadores, em si, não traria prejuízos para a Zona Franca. A situação se agravaria se fossem agregadas outras vantagens, incentivos fiscais com o que já tem nos estados. Aí a gente perderia competitividade, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) acaba de julgar o fim da guerra fiscal entre as unidades da federação.

A Crítica: Os senadores do AM se abstiveram da votação da MP 517. Não foi um ato de subserviência ao governo federal?
VG: Isso foi maldade. Ninguém estava no cafezinho, não! Colocamos o dedo lá na abstenção. Desde que foi editada, em dezembro de 2010, procuramos o setor da indústria e o governo do estado. Eles nos disseram para não nos preocupar porque a perda era muito pequena e, além do mais, não era a nossa praia. A gente podia, sim, ter votado contra, mas nos abstivemos porque foi uma sinalização ao governo. Aquilo que considerei independência, um aviso de que estamos atentos. Pareceu subserviência mas não foi.

A Crítica: Como a senhora analisa esse saudosismo do ex-senador Artur Neto desde a eleição?
VG:Todos sabem que a eleição foi muito apertada. Poderia ter sido muito mais tranquila, ao meu favor, se a gente não tivesse enfrentado tantos problemas internos, na base. Eu não tive somente esse concorrente (Artur Neto); enfrentei a candidata (Marilene Corrêa, do PT) do então presidente da República. O partido do presidente Lula lançou uma candidata ao Senado, mas o presidente e a candidata dele (Dilma Rousseff) me apoiaram. Não fosse isso a diferença entre mim e o candidato adversário seria multiplicada por dez. Mas passamos por cima de tudo isso. Fui para a disputa para ganhar ou perder e eu estava preparada para isso. Mas tem gente que só se prepara para ganhar porque se acha mais importante do que todo mundo, acha-se imprescindível.

A Crítica: A senhora se refere ao ex-senador Artur Neto?
VG: No mundo em que a gente vive nós todos somos muito importantes, somos peças de uma engrenagem a qual nós não comandamos. Mas não somos imprescindíveis.

A Crítica: Diante das cobranças e comparações, a senhora se sente perseguida ou incompreendida?
VG: De jeito nenhum. Essa reação é natural porque ela parte dos fiéis seguidores do meu adversário (Artur Neto). Esse tal saudosismo. Aí se tenta plantar notas, comentários a respeito da minha atuação. Eu tenho toda a bagagem para falar de oposição desde o final dos anos 1970, início da década de 1980. Passamos a apoiar o governo quando elegemos o presidente Lula em 2003. Uma coisa eu digo: se o governo do presidente Lula tivesse feito ou a presidente Dilma fizer alguma coisa ruim, que fira os interesses do Amazonas, do povo do estado que vem me elegendo ao longo desses anos, tenho a liberdade para dizer: até logo e um abraço porque eu faço oposição àquilo que é ruim e apoio o que é bom.

A Cfrítica: Quando terminar seu mandato de senadora a senhora tem a intenção de disputar outro cargo majoritário?
VG: Não posso falar do futuro, dois, três anos à frente, porque é um período na política muito longo. Mas, eu posso falar dessa eleição que está na porta: já disse ao meu partido que não tenho interesse em ser candidata a prefeita de Manaus em 2012. O governador, dia desses, me perguntou, e eu também disse a ele. Esse é meu sentimento.

A Crítica: Como a senhora avalia as críticas que a bancada do Amazonas no Congresso vem recebendo?
VG: Definitivamente, não procedem. Tenho procurado, com muito critério e cuidado, analisar todas as críticas e a gente percebe que a fonte é única, especialmente dos poucos parlamentares estaduais que fazem oposição no Amazonas, mas cujo partido faz parte da base aliada do governo da presidente Dilma. Tem origem muito clara. Isso faz parte do jogo e cabe a nós mostrar que são improcedentes.

A Crítica: Se a senhora não é pré-candidata, tem algum nome que é capaz de agregar e de unir o grupo que venceu as eleições 2010?
VG: Há sim muitos nomes, mas não gostaria de citar. Devemos conversar com todos os partidos da base aliada no estado, com o governador Omar Aziz, com o senador Eduardo, com o PP da deputada Rebecca Garcia.

 

Fonte: A Crítica