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A solução para a crise virá da luta de classes

Com a proposta de expor uma visão alternativa do quadro mundial de crise, diferente daquela cotidianamente veiculada na grande mídia, a Fundação Maurício Grabois promoveu nesta quinta (1), o debate Crise Atual do Capitalismo.

Por Christiane Marcondes*

Os dois principais expositores – o economista Luiz Gonzaga Belluzzo e o presidente nacional do Partido Comunista do Brasil, Renato Rabelo – apresentaram a mesma solução para o cenário mundial de crise: a classe trabalhadora precisa se mobilizar e lutar contra a hegemonia do capital.

A crise que deu os primeiros sinais em 2007, apaziguou o apetite por meses e retornou com forte impacto agora em 2011 foi considerada por Belluzzo e Rabelo como a “3ª grande crise do capitalismo”. Belluzzo retrocedeu na análise e apresentou um amplo painel dos fatos encadeados a partir da grande depressão de 1929, chegando ao período pós-Segunda Guerra, no qual um “arranjo social e político” deu início a uma fase de crescimento econômico.

“As décadas de 1950 e 1960 são chamadas de era da social-democracia e promoveram um desenvolvimento político-econômico no qual os partidos comunistas tiveram participação importante”, explicou.

Na Europa, o sindicalismo tinha uma expressão extraordinária e fez conquistas sociais das quais toda a sociedade se beneficia até hoje. “Foi um arranjo virtuoso realizado à sombra da União Soviética, que atuava nos bastidores das decisões mundiais”, definiu Belluzzo.

Quando a era social-democrata fracassou, chegou o neoliberalismo: “Que se apoiou sobre duas premissas, tirar o controle do Estado sobre o capital e massacrar sindicatos a partir dos anos 1980, a exemplo do que fez a dupla Reagan e Thatcher, quando enfrentaram, respectivamente, as mobilizações dos controladores de voos, nos Estados Unidos, e dos mineradores, no Reino Unido”, lembrou Belluzzo.

Nesse cenário, os Estados Unidos avançaram na conquista de mais poder e a desigualdade social cresceu, voltando a patamares anteriores aos dos “anos gloriosos”. Belluzzo ilustra: “Em 1929, um alto executivo chegava a ganhar 400 vezes mais do que um operário, esse índice decaiu durante os anos 1960 para voltar a atingir os mesmo patamares agora em 2011”.

Superexpansão do sistema financeiro

A especulação concentrou poder político-econômico nas mãos dos bancos e nesse cenário surgiu a China, realocando indústrias de todo o mundo e baixando o custo e preços dos manufaturados.

O consumo, estimulado pelo sistema financeiro, explodiu: “Em 1985, a relação sobre renda disponível das famílias nos Estados Unidos era de 80%, hoje chega a 130%”, diz o economista.

Os resultados dessa distorção estão aí: desemprego e desigualdade social galopantes, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Há 25 milhões de desempregados ou subempregados só nos Estados Unidos, segundo Belluzzo.

“O paradoxo desta crise é que ela foi criada pelos bancos e o Estado, na sequência, subsidiou essas dívidas, tornando-se ele mesmo herdeiro do que não criou”, enfatizou Renato Rabelo.

E quem paga o preço socioeconômico e político por esse empobrecimento conjuntural é o povo: “Li um artigo em uma revista norte-americana que se propunha a analisar Wall Street antes e depois da crise. O autor deu a resposta em duas linhas: antes, Wall Street mandava, depois, também”.

Belluzzo disse que o final da crise depende da população se organizar e tirar o poder das classes dominantes: “Mas a esquerda europeia está frouxa e o povo não é capaz de se rebelar contra quem verdadeiramente o está explorando. Os Estados Unidos têm o benefício da moeda forte, ainda centralizam poder”.

Rabelo concorda e prevê pelo menos mais cinco ou seis anos de recessão, com dois desfechos possíveis: no primeiro, o poder financeiro resolve os próprios problemas à custa de mais barbárie e fome no planeta: “Por isso os Estados Unidos estão armados, possuem mil bases militares em todo o mundo, precisam se defender para manterem o controle econômico-político”.

O segundo desfecho pode ser “o surgimento de uma nova ordem social, uma nova consciência em que o subjetivo ganhe importância, mas isso também demanda tempo”, explicou o presidente do PCdoB.

Tempo de confrontos

“Ninguém perde o poder de braços cruzados, os grupos hegemônicos estão lutando. É preciso que as classes trabalhadoras se insurjam, que haja confronto e nasça a possibilidade de surgir a sociedade igualitária com que sonhamos”.

Rabelo volta a enfatizar: “Não é possível avaliar a crise sem pensar em luta de classes, sem recordar o conceito básico do marxismo”.

Belluzzo reitera: “As massas precisam se revoltar contra quem as oprime ”, conclui.

Da Redação