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Fetaesp se filia e CTB é a central mais representativa do campo

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São (Fetaesp) consumou nesta sexta-feira, 2, sua filiação à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Com isto, a CTB “se consolida como a central sindical de maior representatividade dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do Brasil”, destaca o presidente da entidade, Wagner Gomes.

Foi o presidente da federação paulista, Braz Albertini, que comunicou a decisão à diretoria da CTB. Com 150 sindicatos filiados, a Fetaesp é uma das principais federações dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do país. Representa cerca de 200 mil famílias de assalariados e pequenos produtores do campo.

Com a nova filiação sobe a oito o número de federações rurais (estaduais) abrigadas na CTB, incluindo as maiores e mais representativas do país: Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Sergipe.

Desde 2008, a sede da Fetaesp está instalada no Itetresp – Instituto Técnico Educacional para Trabalhadores Rurais no Estado de São Paulo. A entidade era associada à Força Sindical, da qual saiu por discordância em relação à política sindical para o campo.

A atração que a CTB exerce no sindicalismo rural é explicada pela defesa da unicidade sindical e outros princípios e bandeiras das entidades organizadas no chamado sistema Contag.

O Vermelho reproduz abaixo a entrevista concedida pelo presidente da Fetaesp ao Portal CTB:

Portal CTB: Após o anuncio do Plano Safra 2011/2012, quais são as grandes dificuldades ainda encontradas pelos agricultores familiares na obtenção de crédito, de acesso ao Pronaf e de assistência técnica?
Braz Albertini: No estado de São Paulo há uma série de dificuldades que se relacionam. Existe um monopólio bancário para gerir os recursos. O dinheiro existe, mas há uma grande dificuldade para acessar os programas de crédito e Pronaf, além disso, observamos vários casos de gerentes de banco dificultando o trâmite para liberação de crédito. No caso da assistência técnica no estado, sua prática ainda é muito insignificante perto da necessidade de acompanhamento especializado para o desenvolvimento da agricultura familiar. Há a necessidade de maiores investimentos nessa área para garantir que haja técnicos e estrutura física suficiente para que os agricultores tenham o acompanhamento que necessitam.

Portal CTB: O comando da comissão organizadora da Marcha das Margaridas entregou uma pauta ao governo federal com mais de 150 itens com reivindicações das trabalhadoras rurais. As agricultoras familiares de São Paulo sentem-se contempladas com as conquistas?
BA: Acredito que seja razoável, mas também sabemos que nem sempre tudo que é prometido acaba tendo sua efetivação. Em seu discurso na Marcha, a presidenta Dilma esclareceu que pretende atender à maioria das reivindicações da pauta, agora nos resta esperar que o cumprimento efetivo ocorra na prática.

Portal CTB: Ao anunciar o programa "Brasil sem Miséria", um levantamento do governo apontou que entre os residentes no campo, um em cada quatro se encontra em extrema pobreza e que 46,7% dos extremamente pobres moram na zona rural. Qual é o quadro do estado de São Paulo diante desses números?
BA: Devido ao grande número de trabalhadores de outros estados em busca de emprego no estado de São Paulo, há um aumento no volume de pessoas com dificuldades, pois eles concorrem com os trabalhadores daqui. Além disso, existe a falta de qualificação para obtenção de melhores ocupações profissionais, o custo de vida alto nas grandes cidades e o desemprego em decorrência da mecanização. A atuação na zona rural não é simples, começando pelo acesso à terra e a estruturação de uma propriedade, até chegar à colheita e comercialização, há diversos fatores que dificultam a atuação do homem do campo. Ou seja, existem muitas situações que incidem para o atual quadro, pois não há como absorver a demanda.

Portal CTB: No que difere o perfil dos trabalhadores rurais do estado de São Paulo em relação aos dos outros estados? Os conflitos agrários ainda acontecem no estado?

BA: Há diversos conflitos agrários ocorrendo em todo território brasileiro e em São Paulo não é diferente. Muitos dos problemas enfrentados em diversas regiões são os mesmos, e há outros que se diferem por região, já que temos um país tão extenso e diversificado geograficamente. Quanto à agricultura familiar paulista, ela difere um pouco das outras pela sua atuação. Há uma crescente demanda e a necessidade de profissionalização ser cada dia mais eminente, com a utilização de máquinas e equipamentos, entre outros pontos, e isso já é uma realidade para os produtores rurais paulistas. Esperamos contribuir na solução dos problemas com a realização da Agrifam, a Feira da Agricultura Familiar e do Trabalho Rural, que a Fetaesp vem realizando desde 2003, e que objetiva o desenvolvimento do agricultor familiar apresentando o que há de mais moderno e atual dentro do cenário agrícola.

Portal CTB: O governo aprovou a liberação do crédito emergencial de R$ 400 milhões para a reforma agrária. O dinheiro será repassado ao Incra para obtenção de terras. O que isso representa para o estado de São Paulo e para o país?

BA: É mais do que necessário o investimento para a compra de terra com intuito de reforma agrária, desde que isso venha acompanhado de todos os requisitos que ela demanda, possibilitando que as famílias de agricultores tenham não somente a terra para atuar, mas tenham estrutura necessária para desenvolver a atividade. A ação do governo também pode contribuir para evitar os conflitos por ocupação de terras, sejam em São Paulo, ou pelos demais conflitos existentes no país.

Portal CTB: Em quais áreas do estado de São Paulo a reforma agrária deve beneficiar a agricultura familiar e pode melhorar o quadro da produção agrícola paulista?
BA: A reforma agrária não é o fator principal para melhorar o quadro da produção paulista. O que ocorre é que há mais a necessidade de se suprir a assistência técnica e a extensão rural, pois não adianta fazer reforma agrária e não realizar a sequência que é dar aos agricultores o apoio para se desenvolverem. A ajuda governamental é essencial para o bom desenvolvimento dos pequenos agricultores, mas é preciso que se olhe e atenda toda a cadeia produtiva, não apenas a concessão de terras. Há muitos agricultores que acabam abandonando a atividade por não conseguirem ser atuantes economicamente, não conseguindo se desenvolver por não haver uma assistência técnica e uma extensão rural eficiente no estado.

Com informações de Celso Jardim – Portal CTB