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Marcos Domich: Começou a partilha da Líbia

A guerra de agressão e a invasão colonialista da Otan contra a Líbia não terminou. Kadafi está vivo, talvez em Sirte, sua localidade beduína natal e no comando de uma tropa que resiste, junto à população civil, aos ferozes bombardeios da Otan e ao assédio daqueles que se converteram em peões desta coalizão agressiva.

Por Marcos Domich*

Os filhos de Kadafi, em particular o que se chama Saif al Islam, apareceram na TV conclamando a expulsar da Líbia os rebeldes e os invasores. Kadafi também apareceu na TV de Misrata; supõe-se que transmite a partir de um caminhão, onde fez um chamamento a organizar a luta popular, luta de guerrilhas, na cidade e nos povoados… Para vencer o inimigo em todas as partes. Ele também disse: A Líbia não se renderá. A Líbia não será colonizada. Haverá guerra durante muito tempo e o governo fantoche de transição não tem futuro nem será reconhecido por dezenas de países soberanos.

A resistência de Kadafi é tenaz e ele não se entregará; talvez morra com a metralhadora nas mãos. Tem estirpe de mártir e quer ficar na história como tal. Algum meio de imprensa o chamou de “Che Árabe”. Parece mais que passará à posteridade, guardadas as proporções, como o “Allende do Magreb”. Chegou ao poder quando tinha 27 anos e ostentava a patente de coronel. Também é advogado. Nunca quis ascender a general, embora pudesse ser até marechal. Aceitava com muito agrado o título de “Líder da Revolução Líbia” ou também “Irmão e guia da Revolução”. Instalou um governo, sem dúvida autoritário, pessoal e com culto à personalidade. Chamou seu país de República Árabe Yamahiryia (de massas) Socialista. Socialismo muito peculiar, envolto em um manto de autoritarismo que excluía, na prática, partidos e outros órgãos deliberativos. Esta é uma das diferenças com os verdadeiros socialistas.

O socialismo a la Kadafi, de todo modo, produziu resultados inéditos na África. A Líbia até agora tinha no continente a renda per capita mais alta, a educação de maior nível, a saúde com os melhores índices e outros aspectos mais que mostram o alto nível de vida que tinha alcançado. Inclusive havia conquistas próprias de uma ciência altamente desenvolvida. Conquistou um aproveitamento de águas fósseis que estava transformando seu imenso deserto em um vergel e com capacidade para produzir alimentos, ter segurança alimentar. Tudo isto é efeito da nacionalização do petróleo nos primeiros tempos da revolução que em 1º de setembro completou 41 anos. Possui a maior riqueza petrolífera da África, de qualidade muito elevada e que significa 3,5% das reservas mundiais. Esta é a causa da desgraça da Líbia, além de talvez os erros e ziguezagues de Kadafi.

Na quinta-feira passada começou em Paris a divisão do petróleo e das riquezas líbias. Outra vergonha do século 21, originada pela ambição e a prepotência imperialista. A França já garantiu a metade dos hidrocarburantes. Dizem que devolveram à Líbia a liberdade e a democracia. Democracia? A mesma do Afeganistão ou a do Iraque, onde a Otan segue matando civis há 10 anos? Quais liberdades? Até os bilhões de dólares e euros estão à disposição de Sarkozy, Berlusconi e outros desonestos que algum dia receberam ajuda de Kadafi.

Mas este não é nem Al Maliki nem Hamid Karzai, resistirá até morrer e se ele tombar outros empunharão sua bandeira.

*Secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista da Bolívia