Cresce participação do PCdoB na Festa do Avante!, em Portugal

 “Foi bonita a Festa, pá!”, repetiria o brasileiro Chico Buarque se voltasse na Festa do Avante!, onde se apresentou em 1980. A Festa de 2011 superou todas as expectativas dos comunistas portugueses. O comício de encerramento foi o maior dos últimos anos. 

Festa do Avante 2011 2 - Kerison Lopes

Segundo Alexandre Araújo, dirigente do PCP e um dos responsáveis pela organização da Festa, “é motivo de satisfação o êxito alcançado, através da participação de dezenas de milhares de pessoas, do grande número de jovens, que assim celebram o compromisso do PCP com as lutas do povo e dos trabalhadores”.

No discurso de encerramento, o secretário geral Jerônimo de Souza reafirmou que os comunistas portugueses, “livres de pensamento, com a força das convicções, unidos na ação e donos do nosso destino, poderemos seguir em frente com os valores de Abril e avançando nesse sonho milenário do ser humano se libertar da exploração por outro ser humano”.

O momento político em que se realizou a Festa, para Jerônimo, apresenta uma realidade em que “os trabalhadores, as classes e camadas populares e antimonopolistas, a grande maioria dos portugueses são confrontados com uma feroz e brutal ameaça às suas condições de vida e o país sujeito à pilhagem do seu patrimônio e recursos e a novas e mais drásticas mutilações da sua soberania”.

Participação estrangeira

Já o José Casanova, Diretor do jornal Avante!, saudou o elevado número de delegações estrangeiras, “o mais elevado dos últimos anos, fato cujo significado sublinhamos”. A Festa contou com a presença de representantes de 40 países e de mais de 50 organizações. “A todos eles pedimos que transmitam aos militantes dos seus partidos as saudações de combate dos comunistas portugueses. A todos eles desejamos que regressem para o ano”, completou Casanova.

O PCdoB foi representado por mais de uma dezena de militantes, entre os quais três que viajaram exclusivamente para participar da Festa e os imigrantes que aqui residem. A delegação foi coordenada pelo Secretário de Finanças do Comitê Central, Vital Nolasco, que se disse impressionado com a força do PCP, muito bem expressa da grandiosidade da Festa. “Para mim foi uma grata surpresa, mostra a grande presença dos comunistas na sociedade portuguesa, principalmente entre a juventude, que é a maioria dos participantes da Festa”.

Relação entre PCdoB e PCP

Como acontece em todos os anos, foi realizada uma reunião bilateral entre o PCP e o PCdoB. Representou os comunistas portugueses, o membro do secretariado do Comitê Central, Jorge Cordeiro. Ele saudou a crescente participação brasileira na Festa, que mostra uma interação cada vez maior entre os dois países.

Cordeiro fez uma análise da situação internacional e do seu país, numa conjuntura marcada pela “agressividade do imperialismo em geral, como mostra a ofensiva comandada pelos norte-americanos na Líbia.” Para o dirigente, não é novidade essa política belicista, já que o capitalismo precisa das guerras para efetivar a pilhagem de riquezas e impor seu domínio.

Sobre a situação portuguesa, o comunista apresentou um quadro de grandes dificuldades, conseqüência de 35 anos de uma política de direita implementada pelos partidos que se revezaram no poder nos últimos anos, PS, CDS e PSD. Esses partidos assumiram o compromisso com o plano apresentado pela banca internacional de “ajuda financeira” ao país, causando ainda mais desigualdades e com profundos cortes nas áreas sociais, como o subsídio de natal que era pago a todos trabalhadores e aposentados.

O PCP, por sua vez, apresentou uma proposta alternativa para o país sair da grave crise econômica, num projeto focado no aumento da produção nacional, com aumento de salários, intensificando a circulação no mercado interno. A defesa de tais propostas não tem sido fácil, pois os comunistas enfrentam praticamente sozinhos as políticas neoliberais defendidas e aplicadas pelos partidos da direita portuguesa.

Situação brasileira

Já o dirigente do PCdoB, Vital Nolasco, fez uma análise da crise econômica mundial, que para ele é um aprofundamento da crise de 2008. Um dos “absurdos” apresentados nessa atual quadra histórica, segundo Vital, é que os estados estão se endividando para salvar grandes corporações falidas.

Sobre a situação brasileira, Vital valorizou a vitória em 2010 da coligação encabeçada por Dilma Rousseff, que representa uma continuidade das políticas implementadas desde a eleição do ex-presidente Lula. “Porém, é preciso avançar nas conquistas, como em medidas de aumento da produção, que depende de uma política de redução da taxa de juros e do superávit primário. Além disso, o país precisa criar medidas de controle de capitais”.

Outra questão apresentada por Vital diz respeito `a valorização da produção industrial brasileira, com a incorporação de ciência e tecnologia. “Não é possível mais sermos simples exportadores de commodities”. O brasileiro falou também do recente crescimento partidário dos comunistas, graças a uma política acertada de compreensão da atual conjuntura. “O partido tem atraído muitas lideranças do mundo do esporte, da cultura, do sindicalismo. Hoje, a Central sindical da qual fazemos parte já começa a lutar pela hegemonia na ação no mundo do trabalho”.

De Lisboa,
Kerison Lopes