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O outro lado da abundância

Os habitantes da União Europeia jogam anualmente no lixo 90 milhões de comida. Este é o resultado do estudo realizado com apoio da Comissão Europeia. Desta forma cada cidadão da UE joga no lixo em média 179 kg de legumes, frutas, carne por ano.

Em todo o mundo, esse número é ainda mais fantástico. De acordo com o relatório do Instituto Sueco de Alimentos e Biotecnologia, encomendado pelo FAO – (Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), a cada ano todo o planeta joga no lixo aproximadamente 1 bilhão e 300 milhões de toneladas de alimentos. Trata-se de um terço do que é cultivado e produzido na Terra.

E isso apesar do fato de que a cada ano morrem de fome milhões de pessoas, disse o diretor-adjunto do Instituto de Estudos Africano, Leonid Fituni: Na Ásia, África e América Latina, cerca de meio bilhão de pessoas vive no nível de pobreza absoluta. Isso significa que eles vivem com menos de 2 dólares por dia. Aproximadamente 15 milhões de crianças morrem a cada ano de fome.

Mas, mesmo em países mais desenvolvidos, existem pessoas que não têm nada para comer. E quando alguns jogam alimentos nos caixotes do lixo, outros procuram justamente a sua comida. Em geral, segundo a ONU, no planeta mais de um bilhão de habitantes enfrenta a escassez aguda de alimento. Se fizermos simples cálculos matemáticos, veremos que para o lixo vai uma tonelada de alimentos para cada faminto no planeta.

Um terço desse volume tem como responsáveis os varejistas e empresas de processamento de alimentos. Por isso, alguns especialistas estão propensos a acreditar que o problema está na imperfeição dos equipamentos modernos e cadeias logísticas. No entanto, a maior parte dos alimentos é jogada fora pelos consumidores.

Certamente que se pode culpar a publicidade sedutora ou de marketing comercial – por exemplo, há uma variedade nas prateleiras, tentar resistir e não levar tudo para casa. Mas muitas vezes o individuo coloca no prato muito mais do que ele pode comer. O deputado do Parlamento russo, ex-ministro da Agricultura da Rússia Viktor Semenov, vê nisso o problema da educação – as pessoas não aprendem a tratar com cuidado os recursos:

"Esse é um problema geral da humanidade. Uma vez que uma pessoa se torna um pouco mais bem alimentada, como regra, ele começa a depreciar alimentos. E eu não vejo aqui nenhum problema de tecnologia, e nem com nenhuma cadeia de suprimento. Isto é, antes de qualquer coisa, uma questão moral. Afinal todos devem compreender que o alimento que ele jogou no lixo é o alimento que pode matar a fome de alguém. E que na produção desse alimento foi violada a ecologia, foi gasta energia. Pode acreditar que quando nós nos conscientizarmos tudo muda mesmo tendo a mesma tecnologia de hoje."

Enquanto existe esse tratamento tão irracional para com os alimentos em todo o mundo, eles vão se tornando mais caros. As previsões do Banco Mundial é que até 2030 o custo dos alimentos vai subir duas vezes. É pouco provável que isto faça com que os compradores sejam mais econômicos. Só que agora uma em cada cinco pessoas passa fome no mundo.

Fonte: A Voz da Rússia (Reuters)