Governos não se entendem e bolsas continuam caindo
A semana começou mal para os mercados de capitais. As bolsas europeias fecharam esta segunda-feira, 19, em queda, com os investidores nervosos diante da ausência de unidade e coordenação entre os governos europeus e “cobranças” de autoridades estadunidenses que provocaram irritação no velho continente.
Publicado 19/09/2011 20:18
Na Europa, epicentro da crise, as principais bolsas encerraram os negócios com perdas entre 2% (Londres) e 3% (Paris). Nos EUA, a influente Bolsa de Nova York recuou 0,94%. Na Ásia, os mercados também recuaram expressivamente. Em Hong Kong, o índice Hang Seng apresentou o pior nível em mais de dois anos devido às incertezas dos investidores. O HSI caiu 537,36 pontos, ou 2,8%, e encerrou aos 18.917,95 pontos, no menor fechamento desde 17 de julho de 2009.
Na China, o índice Xangai Composto baixou 1,8% e terminou aos 2.437,79 pontos, o pior fechamento desde 16 de julho de 2010. O índice Shenzhen Composto caiu 2,1% e fechou aos 1.067,48 pontos.
Grécia pressionada
A Grécia conseguiu, mais uma vez, estar no centro das atenções dos investidores. Sem um desfecho positivo da reunião de ministros europeus no fim de semana, o mercado financeiro iniciou os negócios com elevada aversão a risco, de olho na possibilidade de um default. O governo grego vem sendo pressionado a realizar um polêmico projeto de privatização para garantir o pagamento da dívida, mas a iniciativa enfrenta forte resistência popular.
A realização de uma teleconferência de emergência entre o ministro das Finanças da Grécia, Evangelos Venizelos, e inspetores da delegação formada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e União Europeia (UE) – conhecida como “troika" – ficou no radar dos agentes e estimulou o sentimento de cautela.
Dólar em alta no Brasil
No Brasil, o vencimento de opções sobre ações proporcionou à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) certo descolamento dos pares internacionais, mas ele não foi forte o suficiente para o mercado sustentar-se em alta. Com perdas reduzidas ao fim dos negócios em meio às expectativas favoráveis relacionadas à Grécia, o Ibovespa fechou com baixa de 0,19%, aos 57.102 pontos. Na mínima do dia, o índice chegou a cair 2% e encostou na linha dos 56 mil pontos. O volume financeiro negociado somou R$ 10,209 bilhões, dos quais R$ 4,14 bilhões partiram do exercício de opções.
Já o dólar subiu, atingindo a maior cotação em 14 meses. A moeda estadunidense teve forte alta de 2,7% e a taxa de câmbio doméstica atingiu R$ 1,78.
Catastrofismo
A divisão entre os governantes europeus tem contribuído sensivelmente para o pânico. A controvérsia em torno da criação de um bônus europeu comum, com o qual a poderosa Alemanha não concorda, é um sério problema, mas não o único.
Na última sexta-feira, 17, o secretário do Tesouro norte-americano, Tim Geithner, participou de uma reunião dos ministros de Finanças da União Europeia, e cobrou ações mais ousadas e unitárias para combater a crise que, em sua opinião, pode levar o mundo a uma nova recessão e a “riscos castrotóficos”.
A opinião catastrofista e arrogante não foi bem recebida pelos europeus. “Acho peculiar que os norte-americanos, apesar de ter fundamentos de sua economia piores que os da zona do euro, nos digam o que devemos fazer e, quanto fazemos sugestões, dizem não”, disparou a ministra de Finanças da Áustria, Maria Fekter.
Os de cima não se entendem
O desentendimento entre os mandachuvas do mal chamado Primeiro Mundo é um ingrediente a mais do agravamento da crise. O que se vê, na realidade, é uma reiterada impotência dos Estados burgueses ou capitalistas na prevenção e superação das turbulências. Os trilhões de dólares e euros derramados na economia mundial para resgatar o sistema financeiro pioraram a situação ao fazer explodir os déficits públicos e a crise da dívida tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.
Quando os de cima já não se entendem, como no caso, é sinal de que a solução para a crise só pode vir daqueles que estão por baixo, amargando as suas reais consequências. As vítimas do desemprego, dos ajustes fiscais e do incorrigível FMI. O sistema capitalista enfermo busca saída exacerbando a exploração da classe trabalhadora. Com isto, acirram a luta de classes, que pode apontar em outra direção e pavimentar o caminho de um outro sistema político, econômico e social.
Com agências