Roberto César Cunha: Os condenados de São Luis
Numerosos estudos têm se debruçado sobre as condições sociais às quais a população jovem do país está submetida, principalmente pelo fato de que estas condições determinam o lugar do jovem na sociedade e influenciam na sua forma de projetar o futuro, recaindo, principalmente, sobre a juventude pobre, grande parte das mazelas oriundas do sistema econômico e da insuficiência de um plano de desenvolvimento de nação.
Publicado 20/09/2011 15:39
No entanto, são os jovens os que estão, potencialmente, mais preparados para enfrentar os problemas contemporâneos, já que são mais aptos para lidar com a era da informação e da tecnologia, por exemplo.
Em meados dos anos 1960, o idiota americano Lyndon Johnson vaticinou “cinco dólares investidos contra o crescimento da população são mais eficazes do que cem dólares investidos no desenvolvimento econômico.” No Maranhão, em especial São Luis, isso não é mera retórica, mas uma bula seguida na íntegra. Vide o massacre, arruinamento, deterioração e aniquilamento da juventude maranhense.
Em São Luis o extermínio da juventude ocorre de forma sistemática diariamente: milhares entram na "fabulosa" carreira do crack; a imensa maioria faz parte da magnitude gloriosa do exército do desemprego; quantidade homéricas de "come-cola" em becos e esquinas; na "sagrada periferia" (para os PHD's da UFMA) crianças morrem de simples disenterias. Sem trabalho na cidade sem um teto decente, sem pratos cheios para cada meio-dia, juventude a mercê da sorte. Verdadeiros circos de horrores. As desigualdades assumem magnitudes cada vez mais dramáticas e trágicas.
Pesquisa recente do observatório social de São Luis apresenta vários índices que atestam a realidade chocante juvenil da capital maranhense. O triste desenvolvimento começa com extremada dificuldade de nascer, aonde o índice de mortalidade infantil chega em 16,8 por mil, bem abaixo da média nacional. Outro índice que levanta espanto é alta taxa de abandono escolar 3,65% e 16,7% no ensino fundamental e médio respectivamente. Fica nítido o arcabouço de obstáculos que o jovem de São Luis enfrenta logo nos primeiros momentos de vida.
A ameaça ao futuro juvenil se agudiza pelos fatos das necessidades básicas como de emprego. Segundo o relatório do observatório social de São Luis 78% dos jovens de 15 a 25 anos estão desempregados ou subempregados e que os 22% em empregos formais ganham semi-corvéia de até R$ 755,97. Além disso, um número graúdo de gravidez na adolescência em que 21 % das novas mães tem até 20 anos de idade.
Também um grave problema e o da violência letal com foco na participação da juventude e na sua dimensão na incipiente metrópole. Vários estudos mostram que as mortes por homicídios têm, como vítimas preferenciais, os jovens. Estes, menos afeitos às doenças, tendem a morrer mais por outras causas, como as chamadas causas externas, entre elas o homicídio, como se mostrará a seguir. 243 por cem mil jovens são assassinados na faixa de 15 e 24 anos.
Esta é uma imagem real da situação, “um quadro eloqüente” da vida da grande maioria dos jovens com suas dignidades humilhadas, honestidades insultadas e, principalmente, suas esperanças condenadas à vala rasa.
O capitalismo não passa de “escravismo disfarçado”. Lênin mesmo reafirma que o capitalismo não faz mais do que perpetuar as antigas formas de opressão e exploração sob uma capa “moderna” um longo e penoso processo de arruinamento, deterioração e expropriação. É lastimável tal quadra histórica. Sem vanguarda e retaguarda a juventude vai se arruinando e se erodindo do intemperismo social das elites burguesa. O grande desafio é fazer um estudo e uma investigação séria a respeito da aniquilação juvenil na cidade.
Certo, o duro de tudo isso é ver esse trem desgovernado espalhando a destruição de nossa juventude, nosso futuro, “as mentes ávidas da amanha”. Essa é ainda ressaca da mantra mágica do laissez –faire neoliberal. É o velho salve-se quem puder. Esta quadra de desordem, transbordamento e derretimento a juventude está no centro nevrálgico.
É preciso acabar com a “romantização” da marginalidade da juventude, ir além do que se ver.
Levantar a cabeça e enxergar fora dessas idiotas conferências de juventude seja livre, municipal, estadual e nacional que discutem essas baboseiras de políticas públicas de esparadrapo: projovem urbano; distribuição de panfletos de sensibilização, entre outros.
Busca da realidade com rigor e “análise concreta da realidade concreta” traçando um verdadeiro plano com proatividade antidestrutiva, com amplo apoio às fontes geradoras de emprego e renda, isto, dentro de um projeto novo de desenvolvimento para o estado e capital, sem a beatificação das quimeras oportunistas dos "intelectuais do dizer e do falar" e dos intelectuais establishment com seus prognósticos cassándricos ou dos supostos gestores de PPJ com suas mentalidades arcaicas e caducas.
*Roberto César Cunha é geógrafo pela UFMA