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Movimento em Wall Street ganha adesões

O tranquilo Parque Zucotti, em Manhattan (EUA), costuma ser um lugar para os financistas de Wall Street espairecerem durante o almoço. Contudo, desde 17 de setembro, se transformou em acampamento de centenas de manifestantes do movimento Ocupemos Wall Street (Occupy Wall Street). Manifestantes de todo o país estão aderindo ao movimento que questiona as injustiças do capitalismo e pede mais democracia e liberdade individual.O linguista Noam Chomsky e o raper Immortal Technique apoiam o ato.

Wall Street

A base está instalada diante da Liberty Plaza, onde fica o quartel-general da Nasdaq (National Association of Securities Dealers Automated Quotation), a bolsa de valores eletrônica, e onde funciona o escritório da companhia para o desenvolvimento de Bajo Manhattan, encarregada da construção da área devastada pelo ataque de 11 de setembro de 2001.

“Isto é um renascimento democrático”, afirmou, no dia 27 de setembro, a vários jornalistas o ativista e professor da Universidade de Princeton, Cornel West, antes de se dirigir a cerca de dois mil manifestantes que realizavam uma assembleia geral da Occupy Wall Street.

A convocação inicial do protesto foi feita em junho por dois grupos de ativistas sociais, hackers e artistas: Adbusters e Anonymous. “Tentamos construir a comunidade e a cultura que gostaríamos de ver no mundo”, explicou Isham Christie, estudante de filosofia e de teoria do cinema do centro de graduados da City University of New York e um dos organizadores da manifestação. Para ele, trata-se de “uma luta por um mundo mais justo”.

Christie disse à IPS que “as pessoas alijadas da sociedade de consumo, ou que não têm trabalho, ou moradia, podem vir e receber apoio. Tentamos criar uma alternativa à sociedade capitalista, exploradora e opressiva em que vivemos”. “Se a única verdadeira guerra fosse a guerra à pobreza, então colocaríamos dinheiro nela”, dizia um cartaz que Cornel West ergueu na manifestação. O professor destacou a diversidade dos presentes. “É sublime ver todos os diversos gêneros, cores e orientações sexuais, e todas as culturas diferentes nesta Liberty Plaza”, destacou.

Outro manifestante, Gaye Ajoy, nascido na Turquia, disse que “gostaria que mudasse toda a estrutura social, as ideias de capitalismo e distribuição da riqueza. Gostaria de ver uma mudança para algo que realmente honre o verdadeiro povo. Estou contra 1% da população ser proprietária do país inteiro, não importando ninguém mais”. Ajoy acredita que os pontos de vista de seus companheiros se assemelham às ideias do movimento contracultural de 1960 e 1970, de ativistas como Martin Luther King Jr. ou Gloria Steinam.

Comparado com a estrutura elitista dos bancos e das empresas aos quais se opõe, o Occupy Wall Street não tem hierarquias. Todos podem falar e participar das discussões e, portanto, qualquer um pode assumir uma responsabilidade ou rejeitá-la. Brian Phillips, de 25 anos e consultor do Google do Estado de Washington, chegou a Nova York há alguns dias e já é o diretor de comunicações do protesto. Como muitos outros, renunciou à sua vida anterior para participar do movimento.

“Era diretor comunitário em meu Estado, lidava com um complexo de US$ 4 milhões. Renunciei ao meu emprego para estar aqui e ajudar essa gente”, declarou. A comunicação, interna e externa, é chave para estes protestos. Por meio de sites, câmeras web, Twitter e transmissões ao vivo, o Occupy Wall Street se conecta com outros movimentos nacionais e internacionais. “É muito, muito importante estarmos conectados à internet. Precisamos que o mundo veja e saiba o que estamos fazendo”, disse Phillips.

“Por transmitirmos do Occupy Wall Street, que é o quartel-general da revolução, temos outras dez cidades que começam a ser ocupadas, como Boston, Chicago, Los Angeles, Austin, Charlotte. Há um monte de lugares aderindo. O movimento está crescendo mais rápido do que esperávamos”, acrescentou o ativista.

O movimento também atrai as mídias locais e internacionais graças ao crescente apoio de figuras conhecidas, como o linguista Noam Chomsky e o raper Immortal Technique. O fato de a polícia novaiorquina prender cerca de 80 pessoas em uma marcha não autorizada rumo à sede das Nações Unidas também atraiu a imprensa. “As empresas jornalísticas, NBC, MSN, todas essas, não vão informar sobre nós, não vão dizer a verdade”, disse Phillips à IPS.

Quem queria saber o que realmente acontecia no Parque Zucotti era Bettina Schröder, da cidade alemã de Colonia, que leu sobre o movimento na internet em visita a Nova York. “Sabíamos que acontecia algo, e viemos ver. Pensávamos que era menor, é bom ver que há muita gente. Espero que sejam mais e mais. Está só começando”, disse Schröder. Seu noivo, Martin Peutsch, estava especialmente satisfeito com o local escolhido.

“Wall Street é o lugar correto. Muitos norte-americanos sofrem muito com a crise bancária”, disse Peutsch à IPS. “É hora de mobilizar a resistência e mostrar aos bancos dos Estados Unidos que não podem fazer o que querem e nada acontecer”, disse Schröder, que também destacou o aspecto internacional do movimento, afirmando que “há muitos outros em vários países diferentes. As pessoas estão falando, e é realmente bom”.

O professor West comparou o “outono norte-americano” com a Primavera Árabe e previu que o Occuppy Wall Street terá longa vida, desde que os manifestantes se mantenham firmes. “Devemos manter o impulso, porque é impossível traduzir a questão da cobiça de Wall Street em uma ou duas reclamações”, afirmou. “Definitivamente, estamos falando do que Martin Luther King chamaria de revolução – uma transferência de poder dos oligarcas para as pessoas comuns de todas as cores – e é um processo gradual, democrático, não violento. Porém, é uma revolução”, acrescentou West.

Confira vídeo sobre mais recente ato do movimento, ponte do Brooklyn, em Nova York:

Occupy Everything from socially_awkwrd on Vimeo.

Fonte: Envolverde/IPS