Pacto por um desenvolvimento com qualidade

O norte metropolitano de Pernambuco, que nos próximos anos deve se transformar em um grande pólo industrial e logístico com investimentos estruturadores estimados entre doze e quinze bilhões de reais, inicia um processo de desenvolvimento com uma vantagem sobre a região de Suape, no litoral sul do Estado.

De acordo com o diretor-presidente da Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco, Antônio Alexandre, essa vantagem se deve à infraestrutura já existente nos municípios de Goiana, Abreu e Lima, Igarassu, Ilha de Itamaracá, Itapissuma, Olinda e Paulista.

A região, que conta com a rodovia BR 101 duplicada, transporte público de passageiros regular e capacidade para ampliação das redes de energia e água, terá melhores condições de se adaptar aos impactos decorrentes do acelerado fortalecimento da economia. Além da fábrica da Fiat, que deve gerar 4.500 empregos, lá devem se instalar 805 empreendimentos industriais, sendo 48 deles com mais de 100 funcionários e 16 com mais de 500 funcionários, mudando por completo o cenário de uma região até então enraizada na cultura da cana-de-açúcar.

Entretanto, Antônio Alexandre faz um importante alerta. Em audiência pública realizada pela Câmara Municipal de Igarassu para tratar dos desafios do desenvolvimento em Pernambuco, ele afirmou que é preciso evitar um modelo de crescimento econômico concentrador, citando como exemplo o pólo petroquímico de Camaçari, na Bahia, cujos empreendimentos resultaram em consequências danosas para a população. Para aproveitar todas as possibilidades desse “momento virtuoso” da economia brasileira e pernambucana, o governo do Estado tem defendido um pacto que leve em conta o conjunto de vocações sociais, econômicas, ambientais e culturais dos municípios e permita estender o desenvolvimento para todas as demais regiões pernambucanas.

Um longo debate

A audiência pública, que aconteceu na última quinta-feira (29) por iniciativa do vereador Helmilton Beserra, do PCdoB, atraiu prefeitos, secretários e vereadores dos vários municípios da região, além de representantes dos movimentos sociais. Também compareceram ao debate o deputado estadual Luciano Siqueira, a deputada federal Luciana Santos e os dirigentes da Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil, Aurino Pedreira e Wallace Aragão.

Para o secretário de Planejamento da cidade do Paulista, Jorge Carreiro, o planejamento integrado, a presença reguladora do Estado e a participação ativa da sociedade são os fatores que vão determinar o futuro da região norte de Pernambuco. Sem isso, aumentam de forma significativa as chances de desorganização urbana – com o surgimento de favelas e o comprometimento do meio ambiente – e de concentração de capital e de conhecimento.

Diante dessas ponderações, o deputado Luciano Siqueira anunciou que pretende cobrar do governo do Estado o funcionamento de instrumentos como o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife e o projeto de governança metropolitana. E concordou que o poder público e a sociedade não podem apenas comemorar a fase do crescimento econômico que Pernambuco vive, e que agora promete beneficiar também a parte norte. “É necessário examinar o que está acontecendo e qual o tipo de desenvolvimento deve inspirar o atual estágio da economia”, afirmou.

Durante a sua fala, Luciano denunciou que, com a instalação da Refinaria, do Estaleiro Atlântico Sul e de outros empreendimentos, uma parcela expressiva de cortadores de cana, antes submetidos a condições subumanas de trabalho, são hoje soldadores e conquistaram uma ascensão social. “Tem salário, carteira assinada e sentem-se agora trabalhadores reconhecidos. Mas é um absurdo que esses soldadores, ao chegarem em casa e tirarem seus macacões, tomem um banho vendo uma camada de pó metálico descer pela água e em alguns casos até entupir o ralo…Isso quer dizer que as condições de trabalho a que esses trabalhadores estão submetidos são inaceitáveis. Quer dizer que em curto espaço de tempo esses trabalhadores serão vítimas de doenças respiratórias”.

Fonte: Site de Luciano Siqueira