Os magnicídios de Lumumba e Kadafi e a evidência do colonialismo
Patrice Lumumba foi um excepcional líder africano anticolonialista que teve o privilégio de lutar pela independência de sua nação e chegar a ser o primeiro africano e desempenhar o cargo de primeiro-ministro na República Democrática do Congo, que hoje é chamada de Zaire.
Por Alberto Salazar, no Rebelión
Publicado 25/10/2011 17:28
A independência da Bélgica que se alcançou oficialmente em junho de 1960, após a nova república assumir a dívida externa da Bélgica. Uma dívida que jamais adquiriu e que a impossibilitava de alcançar seu pleno desenvolvimento.
Quando Lumumba tentou limpar o exército da administração de resíduos belgas que ainda obedeciam a essa nação europeia começou o conflito. A Bélgica tentou dividir o Congo e uma província, rica em jazidas minerais, demandou sua independência da jovem república. Em resposta, Lumumba buscou o apoio da extinta União Soviética e a CIA estadunidense lhe taxou a imagem de comunista, pretexto suficiente para tirá-lo do poder.
Um memorando interno da CIA, do ano de 1960, escrito pelo diretor de então, Allen Dulles, contém um parágrafo que retira qualquer dúvida sobre o intervencionismo das grandes potências: "Nos altos níveis do governo concluímos que se [Lumumba] segue no poder, as consequências serão catastróficas … para o mundo livre. Por isso, nossa conclusão é que urge retirá-lo assim que possível".
O restante da história é parte do roteiro tradicional, um levante militar e rebeldia na polícia, instabilidade política, destituição ilegal de Lumumba, participação errônea da ONU, detenção, escape, e novamente prisão de Lumumba por parte dos sublevados e, finalmente, seu selvagem execução na presença de agentes belgas e estadunidenses. Lumumba foi torturado, deixou-o sangrar por horas sem atenção médica até que finalmente o executaram. A história registra poucas fotografias desse magnicídio e relatos contados de quão cruel foi esse bárbaro episódio.
Posteriormente o mundo disse que os assassinos tinham sido "camponeses furiosos", mais tarde indicou-se que o haviam executado foram "seus inimigos congolenses" e assim se foi embaralhando o ambiente, confundindo as pessoas e diluindo a verdadeira responsabilidade. Hoje os historiadores descrevem como mesmo o presidente dos Estados Unidos, Dwight D. Eisenhower, deu luz verde ao assassinato de Lumumba e, que em 2002, a Bélgica reconheceu sua participação no horrendo crime e pediu desculpas à família de Lumumba.
Entretanto, os anos passaram e muitas gerações nem sequer conhecem o nome de Lumumba, muito menos a tragédia. A direita voltou a adiar o enredo da investigação do crime, deixar passar o tempo e reconhecê-lo muito depois. Isso, unido com o fomento do esquecimento dos fatos deprimentes e de proclamar que há que se olhar ao futuro e não ao passado, permite à direita que nunca se faça justiça e que volte a repetir essas táticas uma ou outra vez.
Talvez, as duas únicas mudanças que hoje vemos com os magnicídios, como o do líbio, Muamar Kadafi, são: primeiro que são documentados segundo a segundo com câmeras digitais e divulgados nas redes de informação e de televisão em nível mundial. E segundo, que agora as testemunhas celebram descaradamente o crime e não escondem seus reais interesses.
O desumano riso da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton e as declarações sem vergonha do senador Lindsey Graham, sobre o magnicídio na Líbia, despejam qualquer dúvida possível.
Há horas Hillary disse na CBS News sorrindo e orgulhosa: "Chegamos, vimos e ele morreu" e mais tarde Graham declarou no canal Fox: Vamos à terra. Há muito dinheiro para ser colocado no futuro da Líbia. Muito petróleo será produzido. Vamos à terra e ajudemos as pessoas a estabelecer a democracia e o funcionamento de uma economia baseada nos princípios do livre mercado."
Um ponto à parte nesta menção merece o curioso fato de que a morte de Osama bin Laden – que havia sido homicídio, não magnicídio – não conta com registro gráfico algum. A morte do suposto pior inimigo do mundo civilizado aconteceu em completo silêncio e devemos acreditar que ocorreu assim porque assim nos dizem quem proclamou ser seu inimigo.
De modo que não venha o enganador de ofício, Barack Obama, a mentir com o conto de que há uma nova liderança dos Estados Unidos, é a mesma opressão colonial de séculos atrás a que perdura. Só que agora não há que aguardar décadas para que se revele a trágica verdade; agora esta surge em horas. Razão tinha o Ernesto Che Guevara quando disse: "Nossa liberdade e sua sustentação cotidiana têm a cor de sangue e estão inchadas de sacrifício."
Fonte: Diário Liberdade