Negro só pode ter destaque se for jogador de futebol

O ministro Orlando Silva pediu exoneração do Ministério do Esporte. Penso que isso ocorreu porque negro em destaque só se for jogador de futebol, fora disso é no banco dos réus. A ousadia do governo Lula e o compromisso social do PCdoB transformaram o Ministério do Esporte num grande espaço de construção de políticas públicas, sem esquecer o esporte de alto rendimento. Basta olhar para o sucesso do Brasil no Panamericanos, onde cerca de 40% dos atletas são bolsistas.

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Fazer uma política de esporte nacional não é uma tarefa fácil. Essa é uma área de muitas vaidades, muitos interesses políticos (“politicagem”), e se considerarmos a má qualidade da crônica esportiva (há exceções), ai é que fica difícil mesmo. Quando se entra no esporte profissional, particularmente nos esportes mais populares, como o futebol, aí é cartola, empresários, CBF do Ricardo Teixeira e a Rede Globo. Enfrentar essa turma para construir uma política de esporte de interesse do país não deve ser uma tarefa fácil.

O programa Segundo Tempo, iniciativa do Ministério do Esporte, ousou levar políticas públicas de esportes a crianças carentes e se ancorou nas estruturas públicas municipais e estaduais e nas ONGs. São muitas experiências boas e interessantes e algumas picaretagens – como a do bandido PM de Brasília que desviou dinheiro do programa para seu bolso. Mesmo assim, foi tratado como personalidade pela grande mídia e pela oposição conservadora para criar um ambiente de instabilidade para o ministro Orlando Silva. Picaretagem, aliás, que o Ministério do Esporte e o ministro Orlando combateram e tomaram todas as providências para que o erário público fosse ressarcido, o que provocou a irá do bandido mocinho da Veja, Época e Rede Globo.

Na análise política há muitos interesses a serem observados. Primeiro é que existe de fato uma tática da mídia conservadora e de seus partidos para desestabilizar o governo Dilma, criando notícias negativas sobre o governo, denunciando ministros e derrubando-os. O segundo é promover um ataque ao PCdoB que vem aumentando sua força e influência.

Mas, outro fator que não deve ser desconsiderado no caso do Orlando é o preconceito. Ter um negro numa posição de destaque, sendo o interlocutor do país na discussão da Copa do Mundo de futebol e da Olimpíada, não deve ser fácil para uma parcela da nossa elite. Soma se a isso a nossa classe média tradicional, leitora e formadora de opinião pela revista Veja, que não suporta o Lula porque é “analfabeto”, não aguenta pobre e preto andando de avião e sonha com a empregada ocupando seu quartinho dos fundos, com uma babá de roupinha branca e o jardineiro limpando seu jardim (sem preconceito, de preferência todos negros), além é claro de uma vez por ano viajar para Orlando (não o Ministro), mas aquela da Flórida/EUA.

Negro em destaque só se for jogador de futebol, fora disso é no banco dos réus, nem que prá isso tenha que forjar acusações sem provas. Aliás, essa é uma situação que os negros brasileiros conhecem muito bem quando lidam com alguns PMs e que agora o ministro Orlando viveu com o PM de Brasília.

João Raimundo Mendonça de Souza (Kiko)
militante sindical Unicamp, PCdoB, Unegro Campinas