Correa deixa Cúpula Ibero-Americana em protesto contra Bird
O presidente do Equador, Rafael Correa, abandonou a 21º cúpula Ibero-Americana, neste sábado (29), que acontece em Assunção (Paraguai), quando a vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina (Bird), Pamela Cox, fazia sua intervenção, acusando-a de ter "chantageado" seu país no passado.
Publicado 29/10/2011 15:47
Os países latinos e da região ibérica estão reunidos na XXI Cúpula Ibero-Americana. Ontem (28) aprovaram documentos, que serão assinados hoje (29) pelos chefes de Estado e de Governo. Eles traçaram um plano de ação e uma série de comunicados especiais sobre temas como as Malvinas, a coca, a mudança climática e o embargo a Cuba.
Rafael Correa lembrou quando expulsou do Equador a representante do Bird, em 2007, por ter decidido não conceder ao país um empréstimo já aprovado em 2005, quando ele era ministro da Economia.
"Esta senhora chegou a me dizer: 'Não vamos liberar o crédito porque mudou a política", declarou Correa muito exaltado. O presidente equatoriano saiu dizendo que não tinha nenhuma obrigação de ouvir "uma burocrata internacional", "a menos que peça desculpas pelo dano feito à América Latina e aos países do planeta", disse, dirigindo-se ao presidente anfitrião Fernando Lugo.
Pamela Cox ignorou completamente o desabafo de Correa, mantendo-se em silêncio durante a fala do presidente equatoriano. Ao retornar para seu discurso, não fez qualquer referência a Correa.
Declaração de Assunção
A Declaração de Assunção ainda não foi fechada por causa de uma proposta que desagrada o Chile. O encontro neste ano tem como tema: Transformação do Estado e desenvolvimento.
Os chanceleres se reuniram no complexo da Confederação Sul-Americana de Futebol, nos arredores de Assunção, e deixaram para a tarde a discussão sobre os temas pendentes da proposta de declaração.
O Paraguai propôs agregar à declaração uma referência aos países em desenvolvimento sem litoral e sobre a necessidade de oferecer a eles o apoio necessário para superar suas "vulnerabilidades".
A Bolívia, que perdeu sua costa sobre o Pacífico no fim do século XIX em uma guerra contra o Chile, reivindicou que a menção fosse a países "privados de litoral", o que a delegação chilena se opôs.
O titular da Secretaria-Geral Ibero-Americana (Segib), Enrique Iglesias, se declarou "muito satisfeito" pelo consenso alcançado na cúpula, apesar dessa divergência. Alguns diplomatas disseram à agências que a razão do consenso foi a ausência de assuntos espinhosos e a natureza "teórica" do tema central da cúpula.
A cúpula foi inaugurada oficialmente na tarde de ontem (28) pelo presidente do Paraguai, Fernando Lugo, em um auditório do Banco Central do Paraguai. Após a cerimônia, será oferecido um jantar a outros governantes e chefes das delegações participantes.
A participação de líderes nesta cúpula é menor que em cúpulas anteriores, o que a oposição paraguaia interpretou como um sinal de que a política externa de Lugo não é boa e como um "desprezo" ao Paraguai.
Sabe-se que a minuta da declaração final reúne duas das preocupações da Segib: incorporar a participação cidadã às cúpulas, ou seja, fazer com que a cúpula chegue às ruas, e fomentar o uso das tecnologias da informação.
Espera-se que a declaração será centrada no fortalecimento institucional e na reforma do Estado, com ênfase na necessidade de garantir a vigência de regras claras e previsíveis em matéria de gestão pública, para contribuir com a governabilidade democrática com participação cidadã, com a coesão social e as políticas públicas inclusivas e não discriminatórias.
O objetivo é "criar administrações públicas eficientes e comprometidas com o bem-estar de todos os cidadãos, especialmente os desfavorecidos", assinala a minuta.
Os governantes devem conversar hoje sobre a crise econômica. Neste assunto, a Cúpula se comprometeu a proteger toda a sociedade, principalmente os mais vulneráveis, para que as medidas necessárias não coloquem em risco o investimento social.
Repercursão doença de Lula
O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, anunciou nesta tarde, durante a Cúpula Ibero-Americana, a notícia de que o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva sofre de um câncer de laringe, e recomendou que líderes presentes devem fazer revisões periódicas.
"Devemos nos consultar periodicamente porque muitas vezes não temos nossa saúde em dia", disse Lugo, que foi diagnosticado em agosto de 2010 com um câncer linfático. Ele recebeu tratamento no Brasil e no Paraguai e diz já estar curado.
Lugo lembrou que a ausência de Hugo Chávez justamente para tratamento da sua doença.
Fonte: Folha Online