Capistrano: Marighella: centenário de um herói do povo brasileiro

Marighela, baiano de Salvador, nasceu no dia 05 de novembro de 1911. Morreu, assassinado pela repressão, sob as ordens do facínora Fleury, na cidade de São Paulo, em 04 de novembro de 1969. Portanto, no próximo dia 5 de novembro de 2011 comemoramos o centenário do seu nascimento.

Marighella
Marighela foi um grande quadro da esquerda brasileira, era uma grande figura humana, duro sem perder a ternura, presença marcante na história do bravo Partido Comunista do Brasil, um exemplo de militante comunista.

Ele ingressou nas fileiras do PCdoB nos anos 30 do século passado, participou ativamente da vida política do país, era consciente de suas responsabilidades como militante comunista, não media sacrifícios para cumprir as tarefas do partido, era um militante disciplinado, tinha uma visão crítica do partido, mesmo seguindo o centralismo democrático, regra fundamental de uma organização revolucionaria.

Quando discordou da linha política do partido, rompeu e procurou forma a sua organização revolucionaria, partindo para a ação armada. Era um bravo militante.

Marighella viveu os períodos duro de clandestinidade em que o partido foi submetido, períodos de repressão aos comunistas, períodos heróicos da nossa luta, da nossa história. No curto tempo de legalidade do PCdoB, Marighella, em 1945, foi eleito deputado constituinte, foi um brilhante parlamentar.

Ele era um estudioso do marxismo e da obra de Lênin, ligado à cultura e as artes, principalmente a dramaturgia, um líder nato era, também, poeta.

Estudante do curso de engenharia teve que deixar a faculdade para se dedicar à luta do PCdoB, militante ativo, participa, a partir de 1935, de todas as movimentações políticas do partido, é preso mais de uma vez, mesmo assim, continua firme nas suas convicções, morre em ação.

Ana Montenegro, sua amiga e companheira de partido desde 1945, sintetizou a personalidade de Marighella dizendo: “Ele era um homem de uma inteligência privilegiada, mas que não sufocava os demais. Uma inteligência horizontal, abrindo espaço para que todos pudessem opinar, contribuir e participar. Escutava as opiniões e as respeitava. É verdade que sua personalidade se nos impunha, muitas vezes, porque o admirávamos. Era eclético, não se limitava às discussões políticas. Gostava de todas as manifestações artísticas. Escrevia poemas e peças de teatro. Ensinava como se estivesse aprendendo. Não dava ordens e nem se apresentava com idéias acabadas. Aparecia, sim, com idéias arrojadas, audaciosas era um verdadeiro revolucionário.”

Ana Montenegro estava no exílio quando soube da morte de Carlos Marighella, ela registrou esse fato histórico no seu livro, Tempo de Exílio, além de publicar alguns acontecimentos da vida do seu dileto amigo, dedicou-lhe um belo poema.

Tive o privilegio de conhecer Ana Montenegro, uma grande militante, que, como Marighella, dedicou toda a sua vida ao Partido e a causa comunista, ela falava de Marighella com muito carinho, entusiasmo e admiração.

No dia 04 de novembro de 2011 completa 42 anos do assassinato de Marighella e no dia 5 comemoramos o centenário do nascimento desse bravo brasileiro.

Marighella morreu na militância, combatendo as injustiças, sonhando os sonhos possíveis, acreditando no socialismo e na humanidade. Seu companheiro de partido, colega na constituinte de 1946, grande amigo e conterrâneo da Bahia, o escritor Jorge Amada, em discurso no sepultamento de Marighella, disse: “Retiro da maldição e do silêncio, e aqui inscrevo seu nome de baiano: Carlos Marighella”.

Indico a todos os que deseja conhecer a vida e a obra desse grande brasileiro, dois excelentes trabalhos, os livros: Carlos Marighela: o homem por trás do mito, organizado por Cristiane Nova e Jorge Nóvoa, Editora UNESP, 1999 e, Batismo de Sangue: guerrilha e morte de Carlos Marighella, de Frei Betto, editora Rocco, 2006. É a história do Brasil contemporâneo, muitas vezes “esquecidas” nos livros didáticos.

Outras três indicações, dessa vez filme/documentários: Marighella, retrato falado do guerrilheiro – de Silvio Tendler; Tempo de resistência, de André Ristum e por último, Batismo de Sangue, um filme de Helvécio Ratton, este último baseado no livro de Frei Beto que tem o mesmo nome. Com essas leituras e esses vídeos teremos uma ideia exata da grandeza que foi Carlos Marighella, esse herói brasileiro.

Portanto, registro essa singela homenagem a Carlos Marighela, herói do povo brasileiro, um herói latino-americano que não pode e não deve ser esquecido.

 

Antonio Capistrano – ex-reitor da Uern é filiado ao PCdoB