O Palhaço, de Selton Mello, mistura tradição popular e erudita

No longa-metragem, Benjamim (Selton Mello), o palhaço Pangaré, é uma figura triste – embora viva fazendo a alegria das pessoas. Percorrendo um Brasil perdido no tempo e no espaço, entre pequenas cidades e vilarejos, o que Benjamim procura é se encontrar.

*Por Melina Marson, crítica de cinema

O circo em que Benjamim trabalha – e que pertence a seu pai, o palhaço Puro Sangue (Paulo José) – vive numa constante batalha para permanecer em atividade: o dinheiro é curto, a lona está rasgando, os figurinos estão se desfazendo, o caminhão está com o motor apagando…

Com um cotidiano que lhe parece pesado e triste, Benjamim sente que precisa encontrar um sentido para sua vida, tirar seu RG, ter um comprovante de residência, comprar um ventilador. Essas ideias não saem da sua cabeça, e é como se ele só pudesse ser feliz se conseguisse ter RG, endereço e ventilador.

Partindo da conhecida história do palhaço triste, Selton Mello faz um filme metalinguístico e dialoga com clássicos do cinema mundial, como Fellini e DeMille. Ainda revisita temas, paisagens e personagens que também são caros ao cinema brasileiro, como o espírito mambembe e as trupes de artistas, que aparecem em Bye Bye, Brasil e Quando o Carnaval Chegar (ambos de Cacá Diegues) e Os Saltimbancos Trapalhões (dirigido por J. B. Tanko).

Por mais que esteja repleto de citações, metáforas e premissas do cinema e da dramaturgia mundial, O Palhaço consegue subverter os clichês para construir um bonito filme.

Com todos esses ingredientes, um carismático elenco, doses de humor e tecnicamente muito bem acabado, o filme promete conquistar o grande público, destacando duas características de seu diretor: coragem e uma certa dose de ousadia. Afinal, para encarar a empreitada de dirigir, escrever, montar e protagonizar um filme é preciso essas duas qualidades, coisa que Selton Mello demonstra possuir com O Palhaço.

Prêmios

O Palhaço estreou em julho durante a edição 2011 do Paulínia Festival de Cinema. Competindo na categoria longa-metragem de ficção, a película arrebatou os seguintes prêmios: melhor diretor (Selton Mello), ator coadjuvante (Moacyr Franco), roteiro (Selton Mello e Marcelo Vindicatto) e figurino (Kika Lopes). O filme também integrou a programação do Festival de Cinema de Gramado, Festival do Rio de Janeiro, Festival de Circo do Brasil, no Recife, e 35ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo.

Produção

A película contou com incentivo do Polo Cinematográfico de Paulínia. A centenária Fazenda da Barra, em Jaguariúna, foi um dos cenários para a produção. As filmagens no local aconteceram entre março e abril de 2010. Já em Paulínia, foi armado um circo dentro dos estúdios do Polo Cinematográfico, a fim de servir de set para as cenas internas do Circo Esperança. A cidade de Ibitipoca, no Interior de Minas Gerais, também recebeu a equipe para filmagens.

Fonte: EPTV