Joan Edesson – Gilse Cosenza, a mais cearense das moças de Minas

Durante solenidade de entrega da Comenda Bergson Gurjão à mineira Gilse Cosenza, realizada na abertura da 20ª Conferência Estadual do PCdoB no Ceará, Joan Edesson fez uma homenagem à comunista responsável pela reorganização do PCdoB no Ceará. Leia a seguir a íntegra do texto:

Camaradas e amigos!

A 19ª Conferência Estadual do Partido Comunista do Brasil no Ceará, ao instituir a Comenda Bergson Gurjão Farias, o fez numa justa homenagem a este guerrilheiro e herói do povo brasileiro, e como forma de destacar a luta de entidades e personalidades democráticas do nosso país e do nosso estado.

A primeira homenageada, representando os familiares daqueles que lutaram e tombaram na Guerrilha do Araguaia, foi Dona Luiza Gurjão Farias, mãe de Bergson, combativa e altiva mulher que, ao seu modo sereno, enfrentou a perda e a dor do desaparecimento do seu filho.

A 20ª Conferência Estadual do PCdoB homenageia, com a Comenda Bergson Gurjão, novamente uma mulher.

A nossa homenagem é a uma jovem estudante que, mal parida nos quartéis e nos gabinetes civis a ditadura de 64, foi para as ruas, no movimento estudantil, enfrentar o arbítrio e a repressão.

A nossa homenagem é a uma jovem mulher que, enfrentando a clandestinidade, nas mais duras condições de vida, foi viver com os camponeses no interior do nosso país, conhecendo e partilhando ali as péssimas condições de saúde, de educação, de vida do nosso povo.

A nossa homenagem é a uma jovem mãe que, perdida uma das suas filhas gêmeas recém-nascidas, vivendo a outra ainda por um fio de esperança, foi presa e barbaramente torturada pelos seus algozes.

A nossa homenagem é a esta mulher que, na prisão, enfrentando o horror de torturas e sevícias indescritíveis, jamais se curvou ante os carrascos, derrotando-os com a sua força moral e com a sua convicção inabalável no povo e no socialismo.

Esta mulher foi Lia, Léia, Ceci, Márcia, e quem sabe quantas outras. Quem sabe quantos nomes, quantas vidas dedicadas à luta do povo, contidas em uma única vida e em um corpo franzino, ágil, miúdo, delicado, a ocultar uma força inabalável.

A nossa homenagem, camaradas e amigos, é para a jovem mulher que chegou ao Ceará em 1975, para ajudar na reorganização do PCdoB, aquela que, certamente, se tornou a mais cearense das “moças de Minas”.

No final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970 o PCdoB do Ceará dera incontáveis demonstrações de força e organização, especialmente nos movimentos estudantil e sindical bancário. Mas em 1975, após duas sucessivas e grandes quedas da sua direção, com a prisão de dezenas de militantes e dirigentes, muitos deles também cruelmente torturados, fustigados e caçados pela ditadura, o Partido no Ceará encontrava-se completamente desarticulado, com seus poucos militantes que haviam sobrado da investida do terror desarticulados, sem contato entre si e com a direção nacional, sem uma direção local organizada.

Com o nome de Cecília Auxiliadora de Aguiar a nossa homenageada chegou ao Ceará com a tarefa de reorganizar o PCdoB. E o fez com a mesma bravura e determinação que caracterizaram toda a sua militância política e toda a sua vida. Aqui, em companhia de Abel Rodrigues, juntou aos poucos um punhado de militantes, na mais difícil clandestinidade, e pôs novamente de pé o Partido Comunista do Brasil.

Naquele então, os que se dispuseram a recomeçar praticamente do zero a nossa organização, contavam-se nos dedos de uma das mãos. O Partido que, com forte apoio dos seus aliados, elegeu Inácio Arruda como primeiro senador da República depois de Luís Carlos Prestes, era apenas um punhado, mas já trazia, como sempre na sua história, a mesma alegria, a mesma ousadia, a mesma confiança no futuro, a mesma garra e a mesma força que hoje apresenta esta nossa 20ª Conferência Estadual.

A nossa homenageada dirigiu o Partido no Ceará desde a sua chegada em 1975 até o início da década de 1990. Muito do que somos hoje devemos à sua determinação, à sua abnegação, à sua dedicação inconteste ao nosso povo.

Quando, nos dias de hoje, o Partido Comunista do Brasil enfrenta talvez o mais raivoso e histérico ataque das últimas décadas; quando procuram destruir a nossa história e o nosso rico patrimônio político; o exemplo desta brava militante deve estar sempre presente conosco. Resistir e enfrentar os ataques do presente com a mesma bravura e determinação com que esta camarada enfrentou a ditadura militar é a tarefa que se coloca para todos nós hoje, militantes comunistas e democratas das demais forças políticas.

Por tudo isto que aqui foi dito, o PCdoB resolveu homenagear e conceder a Comenda Bergson Gurjão Farias a Lia, a Márcia, a Léia, a Ceci, a Cecília, a esta mulher múltipla e singular, que mesmo tendo regressado para as suas montanhas de Minas, continua no coração dos comunistas cearenses e continua carregando o Ceará guardado no seu peito.

Camarada Gilse Westin Cosenza, querida camarada Gilse Westin Cosenza, receba, dos comunistas cearenses, esta homenagem e a nossa mais sincera gratidão, por tudo o que você fez pelo PCdoB e pelo Ceará; pela sua luta para que florescesse em nosso Brasil a democracia; pela sua luta para que o terror e o ódio da ditadura fossem suplantados pela força do povo; pela sua dedicação na construção do nosso Partido; pela sua confiança nas flores do amanhã, no arco-íris do futuro, na poesia do povo, na beleza do socialismo.

Camarada Gilse Cosenza, o nosso muito obrigado por ter vivido e lutado lado a lado com os comunistas cearenses, por ter sido, repetimos, “a mais cearense das moças de Minas”.

*Joan Edesson é membro do Comitê Estadual do PCdoB/CE