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Amir Labaki: Festival Internacional celebra doc do Brasil

A partir de quarta-feira (16), a produção brasileira estará ao centro do 24º Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA), o principal evento do gênero no mundo. A mostra especial "Cinema do Brasil" vai destacar 13 longas-metragens realizados desde 1998, uma retrospectiva de Eduardo Coutinho em quatro filmes e cinco curtas experimentais recentes ("Paradocs do Brasil").

Por Amir Labaki*

O novo filme de Coutinho, "As Canções", participa ainda da principal mostra competitiva, concorrendo ao Prêmio Joris Ivens. No ciclo informativo "Reflecting Images", serão exibidos "A Música segundo Tom Jobim", de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim, e "Gretchen Filme Estrada", de Paschoal Samora e Eliane Brum.

Coutinho estará ao centro de um debate sobre o documentário brasileiro contemporâneo no dia 21, ao lado de outros convidados nacionais. Com dois filmes na seleção ("Ônibus 174", "Segredos da Tribo") e impossibilitado de estar presente, José Padilha usará o Skype para participar da discussão.

Como consultor do ciclo e membro do board do IDFA, terei o privilégio de mediar o debate. A discussão poderá ser acompanhada ao vivo pelo site do festival (www.idfa.nl). O ciclo "Cinema do Brasil" se insere no corrente Brasil Festival Amsterdam, que envolve 28 instituições culturais da cidade holandesa (www.brasilfestival.nl).

Em vez de uma retrospectiva histórica, a diretora do IDFA, Ally Derks, preferiu destacar a força da produção nacional contemporânea, fechando foco no século 21. A única exceção fora do período é "Nós Que Aqui Estamos por Vós Esperamos" (1998), de Marcelo Masagão, um documentário experimental de arquivo que arrisca um balanço do século 20. Presença constante desde a primeira edição do É Tudo Verdade em 1996, Ally fez parte do júri internacional que elegeu "Nós Que Aqui Estamos" como melhor filme no festival de 1999, incluindo-o no ano seguinte num programa especial do IDFA.

Diretores

Se Coutinho estreia pessoalmente no festival, João Moreira Salles retorna a ele depois de ter apresentado em 2002 uma aula magna sobre a imaginação no documentário, parte da homenagem a ele e a Walter Salles, celebrados pelo IDFA como curadores dos "Top Ten". Em outras edições, a honra foi reservada a mestres como Kryzstof Kieslowski, Michael Apted e Werner Herzog.

João é um dos três cineastas brasileiros presentes em "Cinema do Brasil" com dois filmes ("Entreatos", "Santiago"). De Padilha foram escolhidos "Ônibus 174" e "Segredos da Tribo"; de Cao Guimarães, o longa "Andarilho" e, dentro do "Paradocs do Brasil", o curta "Hypnosis". Esse ciclo exibirá também "Saba", de Gregório Graziosi e Thereza Menezes; "Solidão Pública", de Daniel Aragão; "Nem Marcha nem Chouta", de Helvécio Marins Jr.; e "Carlos Nader", de Carlos Nader.

Entre os longas, "A Pessoa É para o Que Nasce", de Roberto Berliner, e "Uma Noite em 67", de Renato Terra e Ricardo Calil, inserem-se entre os mais marcantes representantes do mais popular subgênero a firmar-se nas salas de cinema nos últimos anos: o documentário musical. Por sua vez, "Cidadão Boilesen", de Chaim Litewski; "Soy Cuba – O Mamute Siberiano", de Vicente Ferraz; e o citado "Segredos da Tribo" sinalizam uma guinada mais cosmopolita da recente produção.

Ao lado de Cao Guimarães, Kiko Goifman ("33") e Maria Augusta Ramos ("Juízo") consolidaram-se na última década entre os realizadores empenhados na busca de novos discursos não ficcionais. A presença de Guta tem sabor de grande retorno. Sua formação como documentarista se iniciou na Holanda, tendo sido o IDFA a pioneira plataforma de consolidação de sua carreira, com a exibição de títulos como "Desi" (2000).

Por sua vez, a seleção de "Corumbiara" (2009), de Vincent Carelli, é um modesto reconhecimento para o mais importante projeto de renovação do cinema etnográfico brasileiro, o Video nas Aldeias, com um quarto de século de militância audiovisual pelo respeito à população indígena, tornada pelo projeto documentarista da própria história.

A retrospectiva de Eduardo Coutinho exibirá quatro produções mais recentes. "Santo Forte" (1999) e "Edifício Master" (2002) são obras centrais de seu "cinema de conversa", enquanto "Jogo de Cena" (2007) implode esse dispositivo. Formando um díptico com "Entreatos", de João Moreira Salles, "Peões" (2004) é um filme à parte, ao combinar depoimentos e material de arquivo para recuperar a eclosão de Lula como líder sindical no Brasil ainda sob regime militar.

Extraindo muito de sua força da palavra falada, com as riquíssimas variantes de nossa língua, o cinema de Coutinho tem encontrado exatamente aí a principal barreira para seu devido reconhecimento internacional. Com essa oportuna retrospectiva, o IDFA ajuda a garantir a Coutinho o que é de Coutinho.

*Amir Labaki é diretor-fundador do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários.