Sem categoria

Beth Carvalho lança 1º disco inédito em 15 anos

O samba está cansado de falar do samba. Se a maior parte dos lançamentos do gênero não se preocupa em ir além do mero tributo vestindo sapatos brancos e saudades, cabe à Beth Carvalho, 65, mostrar o samba como manancial de ritmos, assuntos e possibilidades.

No novo álbum da sambista mangueirense, “Nosso Samba Tá na Rua”, seu primeiro disco de inéditas em 15 anos (depois de se dedicar a projetos como homenagens, DVDs ao vivo, CDs com convidados), aparecem sambas de embalo, românticos, trágicos, de partido alto, de roda, samba enredo e assuntos que vão da negritude ao puro chamado à festa.

“Quando fui fazer o repertório do disco, comecei primeiro pelo meu acervo”, lembrou a cantora, em entrevista para o UOL Música. “Tenho um acervo enorme aqui de fitas cassetes de compositores, de todos esses anos de carreira. Eu moro num arquivo do samba, na verdade. Então fiz a digitalização disso e ficava ouvindo Nelson Cavaquinho, Cartola, Wilson Moreira, Arlindo [Cruz], Sombrinha, Zeca [Pagodinho], tudo com voz de garoto ainda. Mas, no fim, do acervo só ficou uma do Nelson Cavaquinho. Paralelamente avisei pra todos que ia fazer um disco de inéditas, aí choveu música nova, mandadas através de emails, CDs e pessoalmente. Podia fazer um disco só do meu arquivo, tranquilamente. Mas a gente quer fazer aquilo que o cara está fazendo agora. É mais legal, né?“

Lançando compositores novos como Daniel Oliveira, Leandro Fregonesi e Luana Carvalho (filha de Beth, aliás), ao mesmo canta novidades de Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Dona Ivone Lara. Entre os destaques, “Negro sim sinhô” tem influências africanas, “Colabora” é hit sobre fim de amor, “Arrasta a sandália” é partido alto animado, “Tô feliz demais” é canção lânguida de amor e “Palavras malditas” é uma pérola de Nelson Cavaquinho (que a cantora chama de “o melhor compositor do mundo”), gravada anteriormente em um disco de 78 rotações por Ary Cordovil, em 1957.

“Não peço nada específico aos compositores, mas tenho minha filosofia, meus temas”, diz a sambista. “Às vezes eu consigo alcançar todos, às vezes não. Eu sou uma intérprete, então dependo do momento dos compositores. Mas acho que sempre tem que ter um samba que fale da mangueira, um que fale de amor, um que fale de negritude, um sobre o feminismo, um carnavalesco, um que fale sobre o samba. E os clássicos, Nelson Cavaquinho, Cartola. Busquei propositadamente que o disco tivesse variações do samba. Tive a sorte de conseguir todos os temas que eu queria dentro de um disco só.”

Como produtor do disco novo aparece Rildo Hora, responsável por alguns dos mais importantes LPs da cantora de algumas décadas atrás. A imagem de capa de “Nosso Samba Tá na Rua”, feita no Cacique de Ramos, mostra Beth Carvalho entre figuras como o Grupo Fundo de Quintal, Arlindo Cruz, Dona Ivone, Zeca Pagodinho e quase todos os compositores que ela canta no disco. Referência às capas de seus clássicos “De Pé no Chão” (1978) e “Na Fonte” (1981), que tinham ideia similar e clima de novidade, como esse.

“Quando comecei a escolher o repertório comecei a ver que ia botar muita percussão, as músicas pediam isso”, conta ela. “E um disco percussivo me lembrou o “Pé no chão”, que foi um divisor de águas na minha carreira e na carreira do samba. Porque veio um novo som de samba, através de três instrumentos que não eram usados antes: o repique de mão, o tantã e o banjo. Esses três instrumentos eu trouxe pro som do disco – quando conheci a turma do Cacique de Ramos, do Grupo Fundo de Quintal -, e aí o samba passou a ser com esses instrumentos também. Misturei com a ideia da capa do disco “Na Fonte”, onde eu apareço com os compositores. Quis fazer essa homenagem na capa nova como um revival desse momento histórico na minha carreira, porque agora está sendo de novo. Mas sem saudosismo, entendeu?”

Show de lançamento do novo álbum acontece no próximo dia 19 de novembro, no Vivo Rio, no Rio de Janeiro. Dia 26 de novembro a apresentação é no HSBC Brasil, em São Paulo. “Nosso Samba Tá na Rua” está nas lojas.